O bairro de Sussuarana foi palco de uma homenagem para a população negra. Na manhã deste domingo (24), aconteceu a 22ª Caminhada da Consciência Negra, evento que celebra a resistência e tradição do povo negro. O tema desta edição foi "A Mulher Negra Tem História" e contou com danças afro, um desfile do Reinado Odara da Beleza Negra de Sussuarana e um mini trio.
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A concentração começou por volta das 10 horas, em frente à USF Raimundo Agripino, em Sussuarana Velha. O evento acontece desde 2001 e serve como uma forma de conscientizar a população do bairro sobre a importância da cultura negra.
"Começou como uma caminhada menorzinha, só com a banda e com a capoeira. A partir daí, o pessoal foi agregando as escolas, os grupos, e a partir disso fomos crescendo", relembrou Danúbia Santos, coordenadora do Coletivo Negritude Sussuarana e idealizadora da Caminhada.
Danúbia ressaltou a importancia que a caminhada tem para a valorização da beleza negra. "Essa questão do empoderamento racial é muito importante. A gente trabalha muito com a questão da estética, porque sabemos que nos foi negado uma voz. Além do fato de nos sentirmos bonitos", pontuou.
Além disso, o evento também tem como propósito mostrar para a comunidade que existe uma forma de ganhar a vida produzindo arte. "A economia criativa é algo que vem se movimentando desde sempre. Hoje estamos criando oficinas agregadas também a qualificação profissional de produção musical e artística, para essas pessoas entenderem que a gente pode viver da arte", explicou.
Trabalho de base
Apesar de ser seu principal evento, a caminhada não é a única ação produzida pelo Coletivo. Oficinas, workshops e palestras são algumas atividades produzidas pelo grupo durante o ano inteiro.
"São ações que protagonizam a redução de impactos sistêmicos e estruturais na nossa sociedade. Falo sobre a redução da violência, fortalecimento educacional da nossa sociedade, entendo a cultura como plataforma e ferramenta de transformação", afirma Ronald Castro, um dos organizadores da caminhada.
Feriado nacional
Em 2024, pela primeira vez o Dia da Consciência Negra foi considerado um feriado em Salvador. Para Ronald, isso fez com que o evento ganhasse um gostinho especial. "Em novembro é muito significativo porque é um mês de resistência e que traz visibilidade para as ações que tem um cunho de construção preta. Desenvolver isso dentro de Sussuarana, que faz parte de um território que foi um quilombo, é muito importante por essa relação com a ressignificação", contou.
Apesar de homenagear o povo negro, o evento foi aberto para todos que quiseram festejar a importância do mês de novembro. "Quando a base social, que é a mulher negra, se movimenta, ela movimenta toda a sociedade. A construção de uma sociedade com igualdade e liberdade passa necessariamente pela superação das desigualdades de classe, de gênero e de raça", apontou Cristiano Cabral, que participa do evento há três anos.
Por fim, ele enfatizou o significado de um evento como esse perdurar por mais de 20 anos. "Simboliza a força da organização popular coletiva. Duas décadas é muita coisa. É uma expressão de várias atividades que são desenvolvidas durante o ano".