A 21ª Caminhada da Liberdade rolou na tarde desta quarta-feira (20), e celebrou o Dia da Consciência Negra, feriado pela primeira vez em Salvador e em as todas regiões do país. Organizado pelo Fórum de Entidades Negras da Bahia (Feneba), o evento teve como tema os 190 anos da Revolta dos Malês e homenageou a atriz, cantora e ativista Zezé Motta pela contribuição artística e a luta pelos direitos do povo negro.
Presidente da Feneba, o filósofo e ativista Raimundo Bujão ressaltou a importância da data como feriado nacional. "Há algumas incompreensões sobre a importância do feriado. Alguns afirmavam que se fizesse o feriado ia empatar as pessoas de estarem mobilizadas, eu discordo, entre as pessoas irem para a praia ou não, a sociedade agora tem que reconhecer que a luta negra deve ser reconhecida pelo país".
A Revolta dos Malês, tema escolhido para a Caminhada, foi um levante organizado por africanos seguidores do Islã, ocorrido em Salvador, no ano de 1835. Para Bujão, o movimento do século 19 ainda influencia as lutas da população negra hoje em dia. "O movimento negro tenta pegar datas históricas como a Revolta dos Búzios e dos Malês para que as pessoas possam entender sua importância, as músicas dos blocos afro entoadas aqui são estratégias de pedagogia como transformação".
Galera presente
A concentração começou na Ladeira do Curuzu, em frente à Senzala do Barro Preto, sede do Ilê Aiyê. Embaladas pelas batidas dos blocos afro, diversas pessoas acompanharam o trio até o Pelourinho.
Jéssica Conceição, 38 anos, enfermeira, que frequenta a caminhada todos os anos, trouxe o filho, Zidane Marley, de 11, para acompanhar pela primeira vez. "É representatividade, força e libertação, é uma sensação de exaltação e serve para a gente resistir, nós somos negros, mas também temos a liberdade", conta.
Já Lindiwe Onawale, de 22 anos, frequenta a caminhada desde criança, trazida pelos pais, contou que o evento é uma maneira de fortalecer o movimento negro. "É dizer que a gente está em todos os espaços, que estamos fazendo uma caminhada de avanços, e dizer que a gente pode estar em todos os espaços com nossos axós, nossas vestimentas", explica.
A deputada estadual Olívia Santana (PT) também esteve presente no meio da galera e deixou seu recado sobre a importância da data agora nacional. "Esse feriado não é de praia ou curtição, é de reflexão, é uma conquista política da luta do povo negro do Brasil pela igualdade e contra o racismo", disse.
Homenagem a Zezé Motta
O trio percorreu a ladeira da Curuzu e foi até o Plano Inclinado da Liberdade, onde a atriz Zezé Motta subiu. Aos 80 anos, ela demonstrou vitalidade e acompanhou a galera com os clássicos do Ilê Aiyê. Com quase 60 anos de carreira, Zezé Motta esteve presente em inúmeros produções televisivas e cinematográficas e construiu um legado que enaltece a cultura afro-brasileira, reforçando a importância da representatividade e do enfrentamento ao racismo na arte e na sociedade.
Ela recebeu o Troféu Nobre Guerreira das mãos de Raimundo Bujão. O prêmio é uma forma de reconhecimento pela trajetória artística e luta pelo povo negro. Ao receber o troféu, Zezé demonstrou emoção: "É muita emoção, é muita alegria, agradeço a homenagem e quero dizer que valeu a pena toda nossa luta", disse, emocionada.
O ponto final da caminhada foi no Pelourinho, com uma apresentação musical em tributo a Luiz Melodia, cantor e compositor falecido em 2017 que nutriu fortes laços com a Bahia. O show reuniu no palco o cantor e compositor baiano Danilo Moreno, o piauiense Renato Piau, violonista e parceiro de Melodia e o cantor Aloísio Menezes.