
O amor pelos animais e o olhar atento para o crescimento do mercado pet inspiraram dois estudantes baianos a mergulhar no universo da pesquisa científica e da inovação. Pedro Emanoel e Débora Emes, alunos do Colégio Estadual de Tempo Integral de Boquira, no interior da Bahia, desenvolveram um whey protein exclusivo para cães e gatos, um suplemento alimentar que promete melhorar a qualidade de vida dos animais, com formulação natural, segura e balanceada.
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O projeto, orientado pela professora Cássia Nascimento, surgiu da observação do quanto os tutores estão cada vez mais preocupados com a saúde e a nutrição de seus animais. Segundo a Associação Brasileira de Empresas do Setor de Animais de Estimação (Abempet), o mercado pet brasileiro faturou R$ 75,4 bilhões em 2024, reflexo de uma tendência que valoriza produtos voltados ao bem-estar animal.
“O Whey Protein tradicional, usado por humanos, não é adequado para pets, já que contém lactose e adoçantes artificiais que podem causar sérios danos à saúde deles. Pensamos então em desenvolver uma versão própria, sem lactose, sem aditivos químicos e com aminoácidos ajustados ao metabolismo animal”, explicou a estudante Débora Emes.
O produto foi pensado especialmente para animais atletas, idosos, em recuperação cirúrgica ou com deficiências nutricionais, podendo auxiliar no fortalecimento muscular, na melhora da imunidade e na recuperação do vigor físico. “Nosso Whey Pet pode contribuir para o bem-estar geral dos animais, mas sempre com orientação veterinária e de acordo com o peso e a idade. Além de estimular o ganho de massa magra, ele melhora a vitalidade, o pelo e o sistema imunológico”, destacou Pedro Emanoel.
O processo de pesquisa e formulação levou cerca de seis meses para ser concluído, envolvendo múltiplas etapas: desde o levantamento teórico sobre as necessidades nutricionais de cães e gatos, até a realização de testes laboratoriais e análises de aceitação com diferentes tipos de animais.
De acordo com a professora Cássia Nascimento, o maior desafio foi adaptar a composição do whey humano às exigências metabólicas dos pets, sem comprometer a segurança alimentar. “Foi necessário equilibrar as proporções de proteínas, aminoácidos e vitaminas para garantir uma digestão eficiente, sem sobrecarregar os rins e o fígado. Além disso, tivemos que desenvolver uma fórmula saborosa, que agradasse aos animais, sem usar aromatizantes artificiais”, explicou.
Para assegurar a qualidade, o grupo contou com o acompanhamento do veterinário Caio Lucas, proprietário de uma clínica na cidade. Ele supervisionou as etapas de teste e avaliou o comportamento dos animais durante o uso do produto.
“Foram usados apenas ingredientes naturais, aprovados para alimentação animal e livres de substâncias alergênicas. A fórmula passou por análises físico-químicas e microbiológicas para garantir pureza e ausência de contaminantes”, destacou a professora.
O desenvolvimento do Whey Pet também seguiu todas as normas regulatórias do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), responsável por fiscalizar produtos destinados à alimentação animal no país.
A experiência com o projeto mudou a forma como os jovens enxergam a ciência. Pedro e Débora participaram de oficinas de pesquisa, estudaram artigos acadêmicos e aprenderam sobre metodologias científicas, formulação química e nutrição animal. “Foi um processo intenso e cheio de aprendizado. Ver o produto tomando forma e sendo bem aceito pelos animais foi uma grande conquista. Hoje, percebemos que a ciência está muito mais próxima da gente do que imaginávamos”, contou Pedro.
Além do conhecimento técnico, o projeto despertou nos estudantes o interesse em seguir carreira acadêmica. A professora Cássia revela que o próximo passo é registrar a patente do Whey Pet, garantindo o reconhecimento da invenção e abrindo portas para novas pesquisas. “Nosso maior objetivo é conquistar a patente, que assegura os direitos autorais e possibilita investimentos futuros. Esse projeto representa não apenas um avanço científico, mas também uma oportunidade para que esses jovens sigam estudando e transformando suas ideias em soluções reais”, afirmou.
O projeto recebeu apoio da Secretaria da Educação do Estado da Bahia (SEC) e contou com parcerias importantes, como o setor de Vigilância Sanitária Municipal e o canil público de Boquira, que auxiliou nos testes de campo.
A professora ressalta que, mais do que um experimento científico, a iniciativa despertou na comunidade escolar e local uma nova percepção sobre o papel da educação pública na produção de conhecimento. “É gratificante ver alunos de uma escola pública desenvolvendo algo inovador, com base científica e responsabilidade social. Eles provaram que a ciência pode surgir em qualquer lugar, basta curiosidade, orientação e incentivo”, comemorou Cássia.
A criação do Whey Pet integra a série “Bahia Faz Ciência”, lançada pela Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti), que destaca semanalmente iniciativas científicas desenvolvidas por estudantes, pesquisadores e professores baianos em diversas áreas.
Desde 2019, o projeto tem como objetivo mostrar como a ciência e a inovação transformam vidas e promovem desenvolvimento no estado.
