
As crianças de Salvador tiveram uma programação especial na manhã deste domingo. Em seu último dia de exibição, o projeto Tabuleiro da Dança realizou uma mostra gratuita no Espaço Caixa Cultural. Voltada para o público infantil, o Tabuleirinho da Dança reuniu quatro grupos de dança de Salvador e da Região Metropolitana. Com dançarinos de todas as idades, os grupos exploraram diferentes estilos de dança, incluindo danças urbanas e quadrilhas juninas.
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A ideia para a criação de uma mostra infantil surgiu após o período da pandemia de Covid-19. A equipe do Tabuleiro de Dança observou uma necessidade de renovação do próprio público.
"Acho que a consequência da pandemia foi a gente perder um pouco dessa diversidade de formação de plateia para a dança. Então, a dança começou a refazer as estratégias para trazer o público para dentro do teatro. Pensamos em espetáculos e coreografias que contemplasse a infância nas suas diversas possibilidades", contou Anderson Rodrigo, diretor pedagógico do Tabuleiro, em entrevista ao MASSA!.
Não é difícil encontrar crianças hipnotizadas pelas telas de um celular. Anderson ressalta que a dança serve de incentivo para que os pequenos saíam um pouco do mundo virtual. "Ela (a dança) vai, de alguma forma, obrigar o jovem a conversar um com o outro, a olhar no olho, a sair dessa dependência. O autoestímulo que as telas proporcionam para os jovens prejudica na educação, na socialização", defendeu.

O contato dos jovens com a arte acaba gerando diversos benefícios. O diretor pedagógico enfatiza que a dança é uma grande aliada para a formação dos pequenos. "Acho que o Tabuleiro vem para mostrar que essa é uma atividade possível para todos e contribui para a formação do cidadão. A dança, como área que produz conhecimento, ela soma com outras áreas para contribuir para a formação".
Criado há 19 anos, o Tabuleiro de Dança surgiu da vontade de preencher a demanda por uma cultura mais diversificada na Bahia. Jorge da Silva, coordenador geral do projeto, argumenta que o Tabuleiro não é importante apenas para os dançarinos.
"Tem uma importância para toda a sociedade, porque ela carece de entendimento e de visibilizar esses grupos que não são visibilizados. Enquanto isso, os bailarinos vão ter a chance de estarem mostrando sua arte de uma maneira muito mais ampla", contou.
Atualmente, a iniciativa tem como principal foco as comunidades periféricas. Por meio da dança, moradores de comunidades carentes encontram uma nova forma para se expressar. "Nós vamos até as comunidades, filmamos, fazemos festivais, nós damos estrutura dentro da comunidade. Esse é um papel social e de gosto pessoal de cada um que está aqui como coordenador", acrescenta.

Além das apresentações, a programação do Tabuleiro de Dança também contou com algumas oficinas de capacitação. A formação possibilitou um maior aprofundamento na dança para quem frequentou o festival.
"Quando você forma o bailarino que já tem uma iniciação, ele vai dar ao próprio grupo dele um olhar técnico para cada trabalho desenvolvido. A formação é um elo de todo o processo para depois eles apresentarem um trabalho com mais qualidade dentro do Tabuleiro", acrescentou.
Famílias curtindo em peso
O Tabuleirinho de Dança foi a programação ideal para quem queria curtir com os familiares. Mãe de dois filhos, Naiti Oliveira, 45, argumenta que esse tipo de programação é importante para o desenvolvimento dos pequenos. "É para que eles tenham uma formação mais ampla, possam conhecer as coisas e também aprender a ser plateia, gostar de arte e aprender a consumir", acrescenta.
Acompanhada de seu filho de 9 anos e sua filha de 5 anos, Naiti acredita que existe uma certa escassez de programação infantil na capital baiana. "Salvador até tem muitas apresentações e shows, mas para criança eu acho que precisa mais", detalhou.
Também havia algumas famílias que foram acompanhar seus pequenos artistas. Regina Maria, 51, estava cheia de orgulho acompanhando sua filha, a pequena Ana Clara, 9, que havia se apresentado com uma das equipes. "Eu me sinto muito feliz, realizada e orgulhosa. Eu não sei nem explicar o significado da dança para mim, mas eu acho uma maravilha, principalmente para ela que gosta", disse Regina.

A iniciativa para começar a dançar foi da garota, mas a mãe apoiou desde o início. Para Regina, a dança faz com que sua filha fique focada em algo que traz retorno positivo. "Ela se sente bem, gosta e não se junta com gente que não presta. Foi uma iniciativa por parte dela, mas eu também gostei muito do projeto", pontuou.
Ana Clara faz parte do grupo Estrela Líderes, um grupo de dança com temática de líderes de torcida. Apesar de jovem, a pequena já tem consciência sobre o papel da dança em sua vida. "Eu acho muito legal participar dessas danças e acho muito importante porque a gente pode se desenvolver", afirmou.
Além de um ambiente de uma atividade artística, o Estrela Líderes também serve como um local de socialização para a jovem. "Eu adorei porque eu conheci várias pessoas e criei novas amizades aqui no projeto", afirmou.
A felicidade de Ana Clara em se apresentar pela companhia era perceptível. Ela também garante ter certeza de que deseja trabalhar com dança no futuro. "A melhor parte do projeto é que você vai desenvolvendo na dança, aí quando você crescer você pode ser uma dançarina. Eu adoraria ser uma bailarina", defendeu.
O São João chegou mais cedo
O São João chegou mais cedo para quem foi curtir o Tabuleiro de Dança. Um dos destaques da programação foi a Quadrilha Junina Mirim Forró do Luar, que levou ao palco o enredo "Tradição, Festa e Fé". Com 60 anos de história, o grupo segue resistindo aos efeitos do tempo. "A gente precisa trazer essa realidade para que eles (as crianças) entendam que o movimento junino ainda existe e pode ser forte na comunidade", disse Anderson Dias, diretor da quadrilha.

Se engana quem pensa que os trabalhos de uma quadrilha começam apenas no São João. O grupo ministra atividades no bairro de Massaranduba durante o ano inteiro. "Nós trabalhamos o ano todo, porque não é só a quadrilha que a gente trabalha. Acabou o São João, a gente começa o trabalho do ano seguinte com o grupo de teatro e com o grupo de dança, tudo isso dentro da comunidade", pontuou.
Cheia de alegria e diversão, a quadrilha conquistou o coração de toda a plateia. O destaque foi para o casal de noivos, que roubou os holofotes com muito carisma. Ayala Victoria, 10, estava sendo noiva pela primeira vez. "É muito bom ser noiva. Bate um nervosismo em cima do palco, mas depois dá tudo certo", afirmou.
A jovem faz parte da quadrilha há dois anos e desde então segue apaixonada pela dança. "A vontade de dançar começou quando eu vi eles apresentando e falei para minha mãe que eu queria entrar, ela deixou e eu gostei. Amo muito todos da quadrilha, sou amiga de todos daqui", relembrou.

O incentivo da mãe foi combustível para que Ayala se dedicasse na dança. Hoje, a jovem retribui dando tudo de si em cima dos palcos. "As vezes ela não pode vir porque ela trabalha, mas quando ela vem eu fico muito feliz e me esforço mais ainda para ela ter orgulho de mim", garantiu Ayala.