Com a alvorada festiva de hoje às 6h, seguida pelo toque do Salva Clarins às 7h, o ciclo de festas religiosas e populares da Bahia se inicia oficialmente sob a proteção de Santa Bárbara.
Considerada a padroeira dos bombeiros e celebrada também no candomblé como Iansã, a santa ocupa um lugar especial na devoção baiana. O marco central das festividades acontece na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, no Pelourinho, onde às 8h é realizada uma missa campal no Largo.
Leia também:
Boca de Brasa dá início à temporada do Acelera
Bloco Ibéji abre inscrições para o Concurso Cultural Reis e Rainha
Logo após a missa, uma procissão sai da igreja, percorrendo as ruas Maciel de Baixo, João de Deus, Terreiro de Jesus e Praça da Sé. Na sequência, o cortejo desce a Ladeira da Praça, para no Mercado de São Miguel, visita o Mercado de Santa Bárbara e entra no Corpo de Bombeiros na Barroquinha para uma homenagem especial à padroeira da corporação.
A procissão seguirá ainda pelas Baixa dos Sapateiros, Rua Padre Agostinho e retornará ao Pelourinho, encerrando o trajeto de fé e devoção na igreja.
Os últimos ajustes para o grande dia foram concluídos na tarde desta terça-feira (3). Na igreja, devotos cuidavam dos andores que compõem a procissão, com destaque para o de Santa Bárbara, o último a ser finalizado. Já estavam prontos os de São Cosme e São Damião, São Jorge, São Sebastião, São Miguel Arcanjo, São Lázaro e São Jerônimo.
A devota e florista Marinalva dos Santos Alcântara, que há mais de 30 anos participa da decoração da festa, destacou a emoção de contribuir para a celebração.
Santa Bárbara é muito importante para a gente aqui em Salvador. Desde casa, já começo a organizar tudo, faço minhas orações e trabalho na decoração com muita fé. Isso aqui não é só a vida e devoção para todos nós.
Marinalva dos Santos Alcântara
À tarde, as celebrações continuam no Largo do Pelourinho com shows musicais, a partir das 14h30, com Illy apresentando "Samba Djanira", seguida por Márcia Short e o grupo Samba de Oyá às 18h30. Outros artistas também se apresentarão nos Largos Pedro Arcanjo, Tereza Batista e Quincas Berro D’Água, consolidando o caráter cultural e turístico da festividade.
As celebrações começaram no domingo com o tríduo festivo, marcado por missas realizadas nos dias 1º, 2 e 3 de dezembro. Esse período preparatório reflete a importância da santa, tanto para a tradição católica quanto para o sincretismo religioso que caracteriza as festas de largo da Bahia.
Ciclo de festas
Como explica a jornalista e doutora em antropologia Cleidiana Ramos, as festas de Santa Bárbara e outras do ciclo de verão são um símbolo das heranças culturais e religiosas da Bahia.
Essas celebrações são católicas em essência, mas carregam um riquíssimo componente afro-brasileiro. É uma relação muito mais de convivência do que de substituição entre os cultos católicos e afro-brasileiros.
Cleidiana Ramos
Essa convivência é simbolizada na figura de Santa Bárbara, associada no candomblé à orixá Iansã, ambas representando força, energia feminina e associadas a tempestades.
Desde os anos 1950, a festa se consolidou também como um momento de afirmação cultural, com a forte presença de baianas de acarajé e manifestações multiculturais nos mercados populares. “A partir dos anos 1950, há mais reportagens e referências sobre a relação da festa com Iansã, uma divindade do candomblé”, explica Cleidiana.
Embora se considere a festa de Santa Bárbara a abertura no calendário religioso popular da Bahia, Cleidiana traz uma outra perspectiva. “O verão oficial vai começar no dia 22 no hemisfério sul, mas para a gente o verão já começou no dia 25 de novembro com a festa de São Nicodemos, que é a primeira dessas festas de largo.
É uma festa que acontece na região do Porto, mas que agora ficou restrita por conta da circulação. Mas ela já foi considerada o início do verão. Aí, em seguida, vem Santa Bárbara, que é considerada por quase todo mundo o início do verão baiano”, conta.
Padroeira dos bombeiros
Para o Corpo de Bombeiros da Bahia, Santa Bárbara ganha um significado ainda mais especial, pois é reconhecida como a padroeira da corporação.
No dia dedicado à santa, o CBMBA designa membros para acompanhar a celebração na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos e segue o festejo pelas ruas históricas da capital, reforçando a conexão entre fé e serviço.
Na sede do comando geral, na Barroquinha, como parte da tradição, serão servidas, ao meio-dia, 1.500 quentinhas de caruru para celebrar e compartilhar o momento com a comunidade, simbolizando devoção, solidariedade e gratidão à protetora dos bombeiros.
*Sob a supervisão do jornalista Luiz Lasserre