O alcoolismo é uma doença crônica e multifatorial que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. Embora muitas vezes o consumo de álcool comece de maneira social, o uso excessivo e frequente pode levar à dependência, com sérias consequências para a saúde física, mental e emocional.
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A cada 9 de dezembro, no Dia do Alcoólico Recuperado, é lembrado o esforço e a coragem de quem enfrenta essa luta. A data destaca a importância da conscientização e do apoio àqueles que buscam recuperar o controle de suas vidas.
Um alerta que não pode ser ignorado é que, globalmente, o alcoolismo é uma das principais causas de mortes evitáveis. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 2,6 milhões de mortes relacionadas ao álcool ocorrem anualmente.
Em entrevista ao Portal MASSA!, a psiquiatra e médica pesquisadora do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA), Olívia Pozzolo, explicou quais são os sinais iniciais do alcoolismo, os fatores de risco envolvidos e o impacto profundo dessa doença.
Sinais iniciais do alcoolismo
O consumo de álcool pode se tornar uma dependência quando a frequência do uso aumenta e a bebida passa a ser usada como uma forma de lidar com emoções negativas, como aponta Olívia.
"Outros indícios podem incluir situações como a dificuldade de parar de beber após começar, deixar de cumprir compromissos importantes, como faltar ao trabalho ou negligenciar obrigações familiares, mudanças perceptíveis no comportamento, como irritabilidade ou apatia, evitar encontros ou eventos onde não haja álcool, e substituir atividades antes prazerosas, como hobbies ou momentos em família, pelo consumo de bebidas alcoólicas", alerta.
Essas mudanças no comportamento do indivíduo podem ser sinais de que o consumo deixou de ser apenas recreativo e começou a impactar a vida cotidiana da pessoa.
Fatores de risco: genética e ambiente
O alcoolismo é uma condição complexa, e vários fatores podem contribuir para o seu desenvolvimento. Olívia destaca a importância da genética e do ambiente.
O alcoolismo é uma condição multifatorial. A genética desempenha um papel importante, com estudos mostrando que pessoas com histórico familiar de dependência de álcool têm maior risco de desenvolver o problema.
Olívia Pozzolo
Além disso, o ambiente também influencia significativamente: exposição precoce ao álcool, pressão social, estresse, traumas e até a cultura local podem contribuir. "É a combinação desses fatores que frequentemente leva ao desenvolvimento do transtorno", aponta a psiquiatra.
Rede de apoio
Identificar o alcoolismo e buscar ajuda é essencial para iniciar o processo de recuperação. Olívia recomenda que, ao perceber sinais de dependência, a pessoa ou seus familiares busquem informações e abordem o problema com empatia.
O primeiro passo é buscar informação confiável e abordar o tema com empatia. É importante conversar sem julgamento e sugerir apoio, seja com profissionais de saúde ou grupos de apoio como o Alcoólicos Anônimos
Olívia Pozzolo
Se possível, ainda de acordo com recomendação de Olívia, o ideal é abordar o indivíduo em um momento em que ele não esteja intoxicado, pois isso reduz o risco de conflitos e facilita uma conversa mais clara e produtiva.
É fundamental lembrar que, embora não exista um "momento certo", quanto mais cedo a pessoa buscar ajuda, melhor. "Geralmente, as pessoas reconhecem que precisam de tratamento quando percebem que perderam o controle sobre o consumo ou quando começam a enfrentar consequências mais graves", ressalta.
Mitos dificultam o tratamento; se ligue!
Existem muitos mitos sobre o alcoolismo que ainda dificultam que as pessoas busquem tratamento ou se sintam acolhidas durante o processo de recuperação. Olívia destaca alguns equívocos comuns.
Um dos mitos mais comuns é a ideia de que o alcoolismo é 'falta de força de vontade' ou um 'defeito de caráter'. Na verdade, o alcoolismo é uma doença crônica que exige tratamento adequado.
Olívia Pozzolo
Outro equívoco nesse cenário diz respeito ao momento de procurar ajuda profissional. É comum pensar que só é possível buscar ajuda se a pessoa tiver atingido o 'fundo do poço', mas não! Pelo contrário: quanto mais cedo o problema for identificado, melhor é o prognóstico. Não espere.
"Por fim, a crença de que a recuperação é impossível ou que recaídas significam fracasso pode desmotivar aqueles que estão tentando. É essencial reforçar que a recuperação é um processo, e buscar ajuda é sempre o caminho certo", reforça Olívia.
O tratamento para o alcoolismo é um processo contínuo, e a recuperação raramente ocorre de maneira linear. No entanto, com a ajuda de profissionais de saúde e grupos de apoio, é possível superar a dependência e reconstruir uma vida mais saudável e equilibrada.
Se você ou alguém que você conhece precisa de ajuda, procure apoio. O primeiro passo pode ser o início de uma grande transformação.