Dificuldade de atenção, hiperatividade e impulsividade, são os termos que caracterizam o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), doença crônica que tende a aparecer na infância, mas comumente também pode ser diagnosticada na vida adulta.
Um dos inúmeros casos do diagnóstico tardio é o da cantora Claudia Leitte, que revelou em recente entrevista ao podcast Podpeople ter sido diagnosticada com TDAH após os 40 anos. Atualmente recebendo acompanhamento psicológico e psiquiátrico, a artista desabafou sobre sempre ter notado algo de diferente em si mesma.
Diante do Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade, e seu diagnóstico tardio, a psicóloga Carla Albergaria explicou ao Portal Massa! como o transtorno pode afetar na vida de pessoas adultas.
Diagnóstico tardio e o bem-estar
Apesar dos sintomas se iniciar ainda na infância, é possível um diagnóstico tardio, visto que os sintomas podem ser confundidos.
“Considerando que o transtorno pode se apresentar de diferentes formas nos indivíduos, muitas vezes os sintomas são confundidos pelos pais como falta de inteligência e/ou agitação excessiva. Dessa forma, a criança é rotulada como “traquina” e/ou “dispersa”, e não é encaminhada para uma avaliação com um profissional”, afirmou Carla Albergaria.
A psicóloga esclarece como a descoberta tardia pode se tornar uma dificuldade no momento do tratamento. “A ausência do tratamento adequado ao longo da vida desse indivíduo pode contribuir para uma piora do quadro, e consequentemente, deixa o indivíduo mais suscetível a possibilidade de apresentar comorbidades (outros transtornos associados, como transtornos de ansiedade). Além disso, pode acarretar prejuízos emocionais, como baixa autoestima e o desenvolvimento de crenças de desvalor/incapacidade”.
De acordo com Carla Albergaria, ainda que o diagnóstico seja realizado tardiamente, o prognóstico do tratamento para o TDAH é muito promissor e o indivíduo tem grandes chances de controlar os sintomas.
Influenciando em diversos pontos, a descoberta do TDAH na fase adulta também pode interferir no bem-estar dos indivíduos que sofrem com o transtorno, gerando uma série de sofrimento. “Este indivíduo apresenta prejuízos funcionais nas atividades que ele exerce em seu cotidiano e consequentemente acarreta sofrimento. O TDAH é um transtorno que atrapalha o indivíduo na execução de suas tarefas no dia a dia, trazendo consequências negativas”, explicou.
Entenda o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade
Conforme a psicóloga Carla Albergaria, o TDAH é multifatorial, sendo a combinação de fatores ambientais, temperamentais, genéticos e fisiológicos que podem desencadear o transtorno.
Além disso, a doença possui 3 subtipos, sendo eles: predominante desatento - atendendo os critérios somente de desatenção; predominante hiperativo/impulsivo - atende somente aos critérios de hiperatividade/impulsividade; e, combinado - atende aos critérios de desatenção e hiperatividade/impulsiva.
Sintomas de desatenção
- Frequentemente não presta atenção em detalhes ou comete erros por descuidos;
- Dificuldade de manter o foco em tarefas (aulas, conversas e leituras prolongadas);
- parece não escutar quando alguém lhe dirige a palavra, sendo visto como alguém que “vive no mundo da lua”;
- dificuldade de organizar atividades;
-mau gerenciamento de tempo; evita ou reluta em desenvolver tarefas que exijam esforço mental;
-frequentemente perde coisas/objetivos; quando adulto, com frequência é esquecido em
relação a atividades do cotidiano (pagar contas, retornar ligações, compromissos, etc); entre outros sintomas.
Sintomas de hiperatividade/impulsividade:
- frequentemente remexe ou batuca as mãos ou os pés ou se contorce na cadeira;
- fala demais e possui dificuldade de ouvir o outro; quando criança, corre ou sobe nas coisas em situações inapropriadas;
- se levanta da cadeira em situações em que se espera que permaneça sentado;
- apresenta dificuldade de esperar sua vez (em filas, por exemplo);
- interrompe ou se intromete em conversas de adultos; entre outros.
Todavia, os sintomas de hiperatividade/impulsividade tendem a diminuir na fase adulta.
Alerta para buscar tratamento
Por fim, a psicóloga ressalta a atenção necessária para saber o momento de buscar ajuda profissional. “O que precisa ser olhado com atenção é se estes ou outros sintomas de desatenção e/ou hiperatividade acontecem com frequência e intensidade e causa sofrimento clinicamente significativo. Dessa forma, o caminho é buscar um profissional da psiquiatria ou da psicologia para confirmar ou não o diagnóstico”, finaliza.
Em conversa com o Portal Massa!, o psiquiatra Lucas Alves, ex-presidente da Associação Baiana de Psiquiatria, destaca a importância de quebrar o preconceito em torno dos transtornos mentais para que assim o cuidado com a saúde mental seja mais comum.
“Precisamos acabar com o preconceito. Os transtornos mentais impactam negativamente na qualidade de vida das pessoas, e em conjunto são a causa mais comum de afastamento do trabalho",explicou.
"A consulta com o psiquiatra ainda é muito estigmatizada, mesmo nos tempos atuais. Então, temos que ressignificar esses conceitos e valorizar cada vez mais nossa saúde mental. Procurar um psiquiatra e um psicólogo é um ato de autocuidado quando necessário”, finalizou o doutor.