
Durante o Outubro Rosa, período em que todos os esforços públicos e privados estão voltados para o rastreamento e a conscientização das mulheres sobre o câncer de mama, ainda surgem fake news que colocam em risco a saúde feminina, especialmente entre as mulheres mais velhas, que são o principal grupo de risco. Diante disso, o Massa! conversou com especialistas do Hospital Mater Dei Salvador para esclarecer se o exame de mamografia realmente oferece algum risco de causar câncer.
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De imediato, por meio das entrevistas, concluiu-se que a mamografia não causa câncer e continua sendo a principal aliada na detecção precoce da doença. A disseminação de informações falsas nas redes sociais sobre o suposto risco do exame tem gerado medo e levado muitas mulheres a deixarem de realizá-lo, o que pode ter consequências graves para a saúde.
De acordo com Leonardo Dias, coordenador de Mastologia do Hospital Mater Dei Salvador e especialista em reconstrução mamária, com formação internacional, a fake news de que a mamografia provoca câncer é “um medo injustificado”.
“A mamografia utiliza uma dose mínima e segura de radiação. O benefício é muito superior a qualquer possível dano. O problema é que a desinformação afasta as pessoas da prevenção e atrasa o diagnóstico”, afirmou o médico.
Ele destaca que a ausência do rastreamento regular pode reduzir significativamente as chances de cura. “Quando a mulher deixa de fazer o exame, o câncer, se existir, só será descoberto em uma fase mais tardia, quando já é palpável. Quanto mais cedo o diagnóstico, maiores as chances de cura e menor a necessidade de tratamentos agressivos”, completou.
O mastologista explica que a mamografia é a principal ferramenta de rastreamento do câncer de mama, capaz de identificar lesões pequenas e imperceptíveis ao toque: “Ela salva vidas, é segura e acessível. Graças a esse exame, muitas mulheres conseguem preservar a mama, evitar quimioterapia e voltar mais rapidamente à vida normal”, ressaltou Leonardo Dias.

Casos pipocam
Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), o Brasil deve registrar 73.610 novos casos de câncer de mama em mulheres até 2025. Em 2023, o país teve mais de 20 mil mortes pela doença, que segue sendo a principal causa de morte por câncer entre mulheres no Brasil e no mundo.
O mês de outubro tem justamente o objetivo de intensificar o rastreamento e prevenir novas mortes. Somente em 2024, o Brasil realizou cerca de 4,4 milhões de mamografias, sendo 2,6 milhões em mulheres da faixa etária prioritária de 50 a 74 anos, conforme dados do Ministério da Saúde.
A radiologista Ana Carolina Caliper, também do Hospital Mater Dei, reforça que o risco de um câncer ser induzido pela radiação da mamografia é extremamente pequeno, muito inferior aos benefícios que o exame oferece.
“O rastreamento mamográfico salva vidas ao detectar tumores em estágios iniciais. O medo da radiação não deve ser uma barreira”, destacou.
Segundo ela, a mamografia moderna utiliza Raios X em doses muito baixas, de aproximadamente 1 a 2 miliGray (mGy) por mama, o equivalente a poucas semanas da radiação natural que recebemos do ambiente. Além disso, os equipamentos passaram por grandes avanços tecnológicos, tornando o exame cada vez mais seguro e preciso.
Entre as principais inovações estão a digitalização dos aparelhos, que permite a obtenção de imagens de alta qualidade com doses menores de radiação; o controle automático de exposição (AEC), que ajusta os parâmetros de acordo com cada paciente; e a tomossíntese (mamografia 3D), tecnologia que gera imagens em “fatias”, facilitando diagnósticos mais detalhados e precoces.
Cenário na Bahia
Na Bahia, em 2023, foram estimados 4.320 novos casos de câncer de mama, segundo a Secretaria Estadual de Saúde. A taxa de incidência foi de 43,8 casos por 100 mil mulheres, enquanto Salvador apresentou um índice ainda maior: 64,3 casos por 100 mil. A taxa de mortalidade no estado foi de aproximadamente 17 mulheres por 100 mil.
Apesar dos avanços, Ana Carolina lembra que o maior risco relacionado à mamografia não está na radiação, mas nos falsos positivos, quando um resultado suspeito causa ansiedade e exige exames complementares. Ainda assim, ela reforça: “As evidências científicas são claras: para mulheres acima de 40 anos, os benefícios da mamografia superam amplamente os riscos. Quando feita em serviços qualificados, o exame é seguro e essencial para reduzir a mortalidade por câncer de mama.”
Em meio às ondas de desinformação nas redes, os especialistas fazem um apelo: não compartilhe conteúdos sem comprovação científica. A prevenção ainda é o caminho mais eficaz para salvar vidas. “O medo baseado em mentira tem um custo real: o atraso no diagnóstico e, muitas vezes, a perda da chance de cura”, finalizou o mastologista Leonardo Dias.
*Sob supervisão do editor Anderson Orrico