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além de profissionais, humanos - 04/04/2025, 10:00 - Bruno Dias

“Todo profissional precisa criar sua defesa”, diz perita sobre humanização do 'corre'

Perita médica-legista e diretora adjunta do IMLNR, Maria Alice Sena, detalhou o trabalho da perícia

Maria Alice Sena, perita médica-legista e diretora adjunta do IMLNR
Maria Alice Sena, perita médica-legista e diretora adjunta do IMLNR |  Foto: Uendel Galter / Ag. A TARDE

Em uma sociedade marcada por casos de mortes violentas, estupros de mulheres, menores de idade ou deficientes e outras ocorrências derivadas do crime, surge o trabalho do perito médico legista, que é uma figura essencial no Departamento de Polícia Técnica (DPT) e no processo de combate às diversas ocorrências diárias.

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Apesar de ser profissional, o perito precisa ter um equilíbrio entre a seriedade do ‘trampo’ e a sensibilidade emocional de lidar com as mais variadas histórias que chegam com as ocorrências, sejam de pessoas vivas ou mortas.

Diante disso, o Portal MASSA! conversou, com exclusividade, com Maria Alice Sena, médica-legista e diretora adjunta do Instituto Médico Legal Nina Rodrigues (IMLNR), que abriu o coração sobre os desafios da profissão, que mudou sua visão do mundo para sempre.

"Eu costumo dizer que, pelo menos para mim, enquanto profissional, foi um divisor de águas. Antes, eu era apenas médica, uma médica perita. Mas, quando você começa a lidar diariamente com situações de violência, você vê a vulnerabilidade das pessoas. A gente está, na maioria das vezes, em uma realidade que não é a da maioria da população. Então, você passa a ter uma outra visão sobre os riscos", explicou.

Históricas marcantes

Apesar de seguir com o profissionalismo em cada acontecimento, Maria Alice contou que, em várias situações, ficou comovida com as histórias das vítimas, marcando-a em seus 18 anos como doutora no ramo da perícia. Ela contou que, dentro todos os casos, ouvir os relatos da pessoa ainda viva traz uma carga emocional muito forte, mas, mesmo assim, precisa manter a postura profissional.

"Muita gente acha que o mais difícil é o contato com o morto, com a parte da tanatologia. Mas, na verdade, o mais impactante é quando realizamos perícias em pessoas vivas. Porque, além de ver a violência, você ouve as histórias e sente a emotividade da vítima. Isso, para mim, é o mais marcante", disse.

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Você vê crianças sendo violadas, mães sendo estupradas pelos próprios filhos


Para ela, os crimes de estupro e tortura são os que mais a abalam. "Você vê crianças sendo violadas, mães sendo estupradas pelos próprios filhos. São situações muito complicadas. Também tem os casos de adolescentes envolvidos com o tráfico, sofrendo violências tremendas, torturas. São muitas histórias e cada uma, à sua maneira, acaba marcando a gente de alguma forma", revelou.

Maria Alice Sena, perita médica-legista e diretora adjunta do IMLNR
Maria Alice Sena, perita médica-legista e diretora adjunta do IMLNR | Foto: Uendel Galter / Ag. A TARDE


Em vista disso, a perita explicou que, para lidar com a rotina, os casos fortes e amenizar o impacto do ‘trampo’, o profissional do DPT precisa de momentos de descontração e até mesmo, em alguns momentos, ajuda psicológica para se manter firme e forte. Caso contrário, se absorver todas as histórias, termina o dia afetado.

“Temos um programa de valorização do servidor, onde são oferecidas práticas que ajudam a lidar com o estresse e a garantir a manutenção da saúde psíquica desses profissionais. Existe essa ideia de que o médico é um ser humano frio, que não se abala, mas, na verdade, todo profissional precisa criar suas próprias metodologias de defesa para poder atuar. Só que, na prática, isso impacta, sim", inicia.

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São muitas histórias, muitas coisas que ficam gravadas na nossa memória, e a gente precisa dessa válvula de escape para não adoecer


“Existem casos que acabam ficando registrados na memória. Buscamos apoio por meio de acompanhamento psicológico e outras atividades que ajudem a reduzir a tensão do dia a dia. A rotina varia bastante. Não há um padrão fixo, pois cada semana pode ser diferente da outra. Algumas semanas são mais tranquilas, enquanto outras são mais intensas”, continuou.

Por isso, o médico-perito precisa agir com imparcialidade. “O trabalho do perito exige total imparcialidade. Nossa função é descrever aquilo que estamos vendo, sem tomar partido. Não podemos fazer suposições ou interpretar de forma subjetiva. Precisamos nos basear nas evidências do que está sendo examinado. Esse é o nosso papel", apontou.

Mas, afinal, o que faz um perito do DPT?

Um perito do Departamento de Polícia Técnica (DPT) tem um papel importante no processo de investigação dos crimes, pois são eles que analisam vestígios aprofundados nos corpos das vítimas em busca de provas para auxiliar as autoridades competentes. Na entrevista, Maria Alice falou um pouco sobre o serviço.

“Todo crime que deixa marca, que deixa vestígio, torna obrigatória a realização da perícia, para que se comprove se aqueles fatos realmente aconteceram. Então, a gente comprova a materialidade, a existência do fato que está sendo alegado, e também trazemos elementos importantes para definir a autoria, ou seja, quem foi a pessoa que executou determinada ação”, esclareceu.

O DPT tem um papel importante no processo de investigação dos crimes
O DPT tem um papel importante no processo de investigação dos crimes | Foto: Uendel Galter / Ag. A TARDE

Além das perícias de lesões e mortes, o DPT também atua na identificação de corpos. "Quando existem corpos não identificados, a família pode buscar o instituto, mas ela não será apresentada diretamente ao cadáver. Primeiro, traz um descritivo, uma foto ou alguma outra informação, e então apresentamos as fotos dos corpos ainda não identificados para que a família faça o reconhecimento", detalhou.

Para lidar com um trabalho especial, o departamento ainda conta com odontólogos, especialistas em toxicologia, antropologia forense e genética forense. Junto a isso, existe a radiologia forense e a psiquiatria forense, que avalia o estado mental de envolvidos em crimes.

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