
A Polícia Civil da Bahia detalhou o esquema bilionário de adulteração de combustíveis, lavagem de dinheiro com suposta ligação com a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). Uma operação, batizada de Primus, deflagrada na manhã de quinta-feira (16), inclusive, resultou na prisão de nove lideranças, apreensão de pistolas, submetralhadora, carregadores, munições e cerca de 12 veículos de alto padrão, além de um duro golpe no “bolso” da organização com o bloqueio de até R$ 6,5 bilhões em bens.
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Na manhã de ontem, na sede da Secretaria de Segurança Pública (SSP), as autoridades explicaram como se deram as investigações que identificaram cerca de 200 postos vinculados. Além disso, foi apontada a existência de uma estrutura hierárquica altamente organizada voltada para movimentação bilionária no setor de combustíveis, com ramificações empresariais e conexão direta com a organização criminosa.
No topo do esquema aparece Mohamad Hussein Mourad, apontado como chefe geral e elo com o PCC, atualmente foragido. Ele seria o articulador estratégico responsável por usar empresas como Trans OIL Transportes LTDA e Transita Combustíveis LTDA para dar aparência de legalidade às operações de lavagem e circulação de recursos ilícitos.
"Uma organização criminosa com capital, como é o caso dessa que nós estamos investigando, ela não tem limites. Ela se organiza como uma empresa, né? E começa a gerenciar os seus recursos, justamente para provocar ocultação e dissimulação dele", explicou o diretor do Draco, delegado Fábio Lordello.
Abaixo dele, segundo a Polícia Civil, atuava Jailson Couto Ribeiro, conhecido como “Jau” e que foi o alvo principal das ações de quinta. Ele é considerado o comandante do esquema na Bahia e foi localizado e preso em Lençóis. O tal “magnata do combustível” era o responsável por articular as operações regionais e manter a influência do grupo sobre empresas do ramo de combustíveis, distribuindo funções entre laranjas e operadores financeiros. Seu irmão, Gilvan Couto Ribeiro, preso em Feira de Santana, também foi apontado como peça de confiança na engrenagem criminosa, com função de apoio estratégico e movimentação de recursos. Outro nome de confiança do núcleo seria Aloísio Batista Cardoso, classificado como “esposo de Gilvan e laranja”, atualmente foragido, com atribuição de blindar o patrimônio do grupo por meio de camadas societárias falsas.
As investigações também apontam para a presença de Mário Kadow Nogueira, preso em São Paulo, indicado como suposto laranja do esquema, utilizado para registrar empresas e movimentações bancárias em nome próprio para ocultar os verdadeiros beneficiários do dinheiro. Em outra frente, Wesley Márcio Duda, preso em Feira de Santana, teria sido nomeado como testa de ferro de Jailson, operando diretamente na linha de frente das transações comerciais vinculadas às empresas investigadas, especialmente no que diz respeito à logística de abastecimento e circulação de cargas de combustíveis.

No eixo empresarial, o nome de Roberto Augusto Leme da Silva, atual proprietário das empresas Copape e Asper, aparece em posição estratégica. Segundo a Polícia Civil, havia uma relação comercial direta entre Roberto e Mohamad Hussein, com uso das empresas para dar cobertura formal às transações. Ao lado dele, Fredson dos Santos Pereira, preso em Gentio do Ouro, surge como figura ligada diretamente às operações das empresas Trans OIL, servindo como braço de execução para o transporte e intermediação dos combustíveis.
A estrutura também contava com operadores de suporte, como Pedro Henrique Ramos Ribeiro, preso em Salvador, e Diego do Carmo Santana Ribeiro, capturado em Feira de Santana, ambos descritos como executores logísticos e responsáveis por rotas e distribuição comercial do produto adulterado, respondendo às ordens de Jailson e Wesley. Completam o organograma investigado Israil Ribeiro Filho, preso no Rio de Janeiro, e Robson Crispim Moreira Santos, detido no momento em que se preparava para a audiência de custódia, figuras consideradas auxiliares nas transações e transporte dos combustíveis.
Para a Polícia Civil, o grupo operava com divisão clara de funções, utilizando empresas formalmente constituídas, contratos simulados e um circuito de laranjas cuidadosamente distribuídos para evitar rastreamento direto de valores. A atuação combinava fraude comercial, lavagem de dinheiro, ocultação patrimonial e ligação com facção criminosa, revelando a estrutura de um conglomerado ilícito que operava sob a fachada de um negócio legítimo no setor de combustíveis.
"São pessoas altamente capacitadas, experimentadas, que conhecem da atividade econômica. São essas pessoas que têm a capacidade, através de recursos ilícitos, de impulsionar isso dentro do mercado no posto de simulação e ocupação", finalizou o delegado.
O delegado-geral da Polícia Civil, em entrevista ao Grupo A TARDE, salientou a importância da continuidade da operação, que é um desdobramento de uma anterior.
"Essa investigação tem mais de um ano, ela foi derivada de uma operação do Carbono do Draco em 2024 e essa ação em específico, ou seja, com mais de um ano de investigação, chegou não só na adulteração do combustível, na falsificação de documentos, no envolvimento de uma organização criminosa e, com isso, com investigação eficiente, qualificada por parte do Departamento de Repressão ao Crime Organizado, foi possível identificar as pessoas envolvidas, que inclusive já são apontadas na operação também que rodou no Estado de São Paulo, como o Acabou no Oculto, pessoas envolvidas nessa rede de adulteração. E aqui na Bahia, 200 postos de gasolina, ou seja, são mais de 6 bilhões e meio autorizados o bloqueio judicial por decisão judicial."
Além disso, a autoridade maior da corporação ainda destacou a eficiência de "asfixiar" financeiramente essas organizações criminosas. "Todos os departamentos da Polícia Civil estão com esse norte, específico com o núcleo de recuperação de ativos, pra quê? Pra que a gente possa justamente apreender o recurso financeiro e utilizar o recurso financeiro, o dinheiro, os bens, justamente no enfrentamento à criminalidade em todo o estado da Bahia".