Constantes incêndios aos ônibus do transporte público aconteceram recorrentemente nos últimos meses. Seja por ação de facções criminosas ou em forma de ‘protesto’ do povo, o ato de destruir esses veículos é considerado crime de vandalismo e causa um transtorno enorme para a cidade, desde o prejuízo financeiro das empresas e seus funcionários até as dificuldades enfrentadas pela própria população para se locomover com uma frota reduzida.
De acordo com dados da Secretaria Municipal de Mobilidade (Semob) até a manhã desta quarta-feira (16), sete ônibus foram incendiados na capital baiana este ano. Contudo, o oitavo ataque foi registrado durante esta tarde no bairro do IAPI.
Em comparação ao mesmo período no ano passado, o cenário não melhorou muito. Do início do mês de janeiro até o fim de outubro de 2023, 10 ônibus foram queimados na cidade. Sendo assim, a redução foi de apenas dois coletivos.
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Ainda que os problemas causados pela queima dos coletivos afetem diretamente os soteropolitanos, o número de ocorrências não para de crescer.
Pensando nisso, o Portal MASSA! conversou com a Semob e com o Sindicato dos Rodoviários da Bahia sobre o assunto e fez o levantamento de quantos veículos já foram afetados em 2024.
Sofrimento com os buzus
Para saber quem são as pessoas que mais sofrem com os incêndios aos ônibus coletivos de Salvador é preciso entender o que acontece depois que um veículo queimado é removido da frota.
Segundo a Semob, o procedimento de reposição dos coletivos não acontece de maneira imediata, especialmente por causa do alto custo de cada ônibus. Para se ter noção, cada veículo está avaliado em cerca de R$750 mil. Só nesse ano seria necessário investir mais de R$5,2 milhões para repor os coletivos perdidos.
A reposição ocorre apenas durante a renovação de frota que acontece anualmente
“Os ônibus incendiados não são repostos de imediato uma vez que não há frota reserva suficiente para suprir esse tipo de demanda. A reposição ocorre apenas durante a renovação de frota que acontece anualmente. Até esta reposição, a frota da linha permanece com um veículo a menos”, explicou por meio de nota.
A Secretaria Municipal de Mobilidade ainda alertou sobre a cadeia de prejuízos que afeta a todos.
“A população é prejudicada com a redução da frota daquela linha, que impacta diretamente no atendimento, resultando em um tempo de espera maior entre um ônibus e outro e, consequentemente, ônibus mais cheios. Para os rodoviários, estes podem ser impactados com redução de carga horária, ou mesmo com a possibilidade de demissão”.
Serviço é suspenso após atos de vandalismo
Outro problema causado pelos incêndios aos ‘buzus’ é a suspensão do serviço de transporte público após o ato de vandalismo. Além da localidade em que o crime ocorreu ser prejudicada, todos os bairros presentes no trajeto que aquele ônibus faria também são afetados, ainda que em uma escala menor.
Como os casos de queima dos veículos estão acontecendo com frequência, essas suspensões já se tornaram parte da rotina da população soteropolitana, que acaba pagando pela ação de uma minoria e precisa se adaptar enquanto o sistema não é normalizado.
Na tarde desta quarta, completam-se três dias que as linhas que passavam por dentro do Bairro da Paz não estão circulando, pois manifestantes atearam fogo em um coletivo na última segunda-feira (14). A região de São Gonçalo também sofre com a mesma questão.
Tudo isso sem contar com a suspensão dos ônibus nas localidades que são afetadas pelas guerras de facções e sofrem com tiroteios constantes.
Apesar de parecer drástica para alguns, a medida de suspender a circulação de ônibus depois de um incêndio foi estabelecida para garantir a segurança e integridade dos motoristas e cobradores, assim como evitar que novos coletivos sejam queimados.
Terrorismo com os rodoviários
Presidente do Sindicato dos Rodoviários da Bahia, Fábio Primo lamentou a situação em que a cidade se encontra e revelou ao Portal MASSA! que muitos funcionários perdem o emprego quando os ônibus saem de circulação por causa dos incêndios, afetando diretamente o sustento de diversas famílias.
Segundo ele, cada ônibus de Salvador possui cinco funcionários destinados a trabalhar naquele veículo. Quando o coletivo é queimado e não há uma substituição imediata, essas pessoas são desligadas do serviço.
A empresa não vai ficar com esses trabalhadores
“A gente perde cerca de cinco postos de trabalho, porque a empresa não vai ficar com esses trabalhadores”, contou.
Além disso, muitas vezes, se o ônibus queimado pertencia a uma linha com alto fluxo de pessoas, um veículo de uma linha mais tranquila é realocado para tentar conter o desfalque.
“Aquela linha que teria uma demanda maior vai tirar de outra linha com demanda menor e colocar ali. Então a população perde muito, e perde também quando existe a questão do incêndio e os ônibus ficam um grande período sem rodar naquela região”, disse o presidente do sindicato.
Fábio Primo ainda declarou que os trabalhadores se sentem vítimas de “terrorismo” quando são arrancados dos ônibus e presenciam os veículos queimarem em chamas, sabendo que possivelmente ficarão desempregados.
Ele pediu mais rigor na aplicação da lei para que as pessoas que incendiaram ônibus paguem pelo que fizeram, já que danificar, inutilizar ou deteriorar bens públicos é crime, com punição de detenção pelo período de um a seis meses ou multa, conforme o artigo 163 do Código Penal Brasileiro.
“As leis têm que endurecer mais um pouco. A gente não pode considerar isso como um ato de protesto, ou como um ato de vandalismo, não! Isso é um terrorismo, a gente enxerga isso como terrorismo”, finalizou.