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Dor imensurável - 30/07/2024, 07:06 - Priscila Dórea

Número de pessoas desaparecidas aumenta em 19,2% na Bahia

No ano passado, 4.529 pessoas estavam desaparecidas no estado

Mãe de Davi, desaparecido em março de 2021, aos 9 anos
Mãe de Davi, desaparecido em março de 2021, aos 9 anos |  Foto: Uendel Galter/ Ag. A TARDE

Em 2023, 4.529 pessoas estavam desaparecidas na Bahia, aponta o Anuário de Segurança Pública 2024 - um aumento de 19,2% em comparação ao ano anterior. Nesse cenário, de um lado diversos órgãos tentando encontrar essas pessoas, enquanto do outro lado milhares de pais, mães, filhos, cônjuges e amigos, desesperados, querem saber o paradeiro de seus entes queridos. “Não saber é uma dor imensurável. Quando você sabe que a pessoa não vai voltar a dor é outra. Não tem um único dia que não pense no meu filho”, afirma Lilia Maria lima, mãe de Davi Lima da Silva, que desapareceu em março de 2021, aos 11 anos.

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O desaparecimento ocorreu quando a família saiu de Salvador para passar o período da Páscoa em Itiúba (norte do estado), terra natal de Lilia, e onde moram sua mãe e irmã.

“A gente costumava ir para lá em todos os períodos de festa e nas férias. A casa de minha mãe fica a cerca de 300m da de minha irmã, então minha mãe não achou estranho quando Davi saiu correndo de lá na direção da casa dela. Foi nesse caminho de apenas 300 metros, de dia, que ele sumiu sem ninguém ver ou ouvir nada”, recorda Lilia.

Na época, Lilia trabalhava como fotógrafa, e havia saído por menos de 2h para fazer o ensaio de uma gestante. Quando voltou, encontrou a família e os vizinhos percorrendo o entorno da casa da mãe. “Era um mundo de gente. Passei dias procurando e gritando por ele. Veio a polícia, caçadores, helicóptero e até cães farejadores, mas o rastro dele sumia a meio caminho da serra, sem sinal algum de nada”, relata frustrada. Lilia parou de fotografar, pois se sentia culpada. “Só penso que não devia ter saído naquele dia, não devia ter deixado ele lá. Ainda lembro da cara dele se despedindo de mim”, recorda emocionada.

Lilia vendeu o carro e os equipamentos fotográficos para custear a busca, que contou até com um investigador particular. Toda vez que um delegado novo entra, levo o caso para ele ou ela, e uma nova investigação é feita. Isso já aconteceu umas cinco vezes e a atual delegada de Itiúba, numa mensagem que ela me mandou ainda essa semana, disse: ‘Acredito que semana que vem terei informações para te dar. Um abraço’. Mas é sempre isso e nunca encontram ele”, lamenta ela, chorosa.

Anuário


O caso de Davi é um dos muitos que colocaram a Bahia como o 6º estado brasileiro com mais desaparecidos no Anuário de Segurança Pública 2024. A reportagem de A TARDE tentou entrar em contato com a Polícia Civil (PC) para obter mais informações sobre os casos da Bahia, mas até o fechamento da matéria não obteve retorno. No site da PC dedicado a divulgar informações sobre os desaparecidos, www.desaparecidos.policiacivil.ba.gov.br, há fotos e informações de 141 pessoas desaparecidas que você, leitor, pode ajudar a encontrar. A investigação desses casos, muitas vezes, pode chegar a uma conclusão por um mínimo detalhe, então toda informação é útil.

“Algo muito importante a se levar em conta sobre os casos de pessoas desaparecidas é o tempo em que o caso deve ser levado até a polícia, pois se tem a ideia errônea de que se deve esperar um mínimo de horas para levar esse desaparecimento para as autoridades, mas isso não é verdade hoje e nunca foi. Encontrar pessoas desaparecidas é prioridade”, enfatiza a coordenadora da Especializada de Direitos Humanos da Defensoria Pública da Bahia (DPBA), Lívia Almeida.

E tal prioridade é garantida pela Lei Federal nº 13.812/2019, em seu art. 3º, onde estabelece que a busca e a localização de pessoas desaparecidas são consideradas prioridade com caráter de urgência pelo Poder Público. “Assim que constatar o desaparecimento de alguém, a pessoa deve entrar em contato imediatamente com a Polícia Civil, a Polinter ou ligar 181. A Defensoria também está de portas abertas para prestar orientação e assistência jurídica aos familiares e acompanhar as investigações até que seja descoberto o paradeiro da pessoa”, explica a coordenadora.

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