
Em meio às ações nocivas e ao caos no mundo do tráfico, muitos envolvidos, apesar das más escolhas, buscam refúgio na religião para acalmar seus corações e se apoiar na fé. Para alguns, a batalha não é apenas contra facções rivais ou inimigos, mas no meio espiritual, onde ficam divididos entre o moral e o sagrado.
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Em entrevista exclusiva ao Portal MASSA!, a pastora da igreja Assembleia de Deus Nova Filadélfia, Débora Pereira Sodré, conta que a prática de buscar o religioso é comum dentro das 'bocas de fumo' espalhadas pelo Brasil, onde o temor a Deus costuma prevalecer sobre as outras questões.
"Tem muitos meninos envolvidos no meio do tráfico que pedem cruzadas, pedem evangelismo, eles mesmos que organizam. Isso não acontece só em Salvador, mas também em outras localidades por onde eu passei, porque eu viajo muito pra fora também. Quando a gente chega lá, já está tudo preparado, tudo pronto. Eles já sabem que Deus vai falar com eles, já esperam por isso", revela.
Eu faço muito evangelismo no meio deles. Eles pedem, ligam, mandam mensagem pedindo para fazer a pregação. A maioria do meu evangelismo é dentro da boca mesmo.
Mesmo em momentos de fé e oração, a profeta revela que sente uma energia pesada, que parece impedir os jovens de largarem o mundo do crime e se entregarem a Deus. "Também tem muita interferência relacionada ao reino espiritual. Porque mesmo sabendo que podem morrer, o peso espiritual é muito grande, muito pesado", destaca.
Existe uma força espiritual querendo impedir que eles voltem pra vida com Deus. É uma guerra espiritual
As missões espirituais realizadas por Débora têm dado frutos ao tocar o coração de alguns jovens por meio de profecias e pregações. Muitos se rendem ao temor a Deus e deixam a vida criminosa para seguir os caminhos da fé. No entanto, são poucos os que conseguem se firmar de fato.
"Recentemente teve até um jovem que voltou pra Cristo. Deus revelou pra ele algo muito forte. Quando ele voltou, nesse dia, ele começou a ir pra igreja todos os dias certinho. Eu acompanhei ele direitinho. Mas, depois de um tempo, ele sumiu e se desviou. Voltou de novo pra criminalidade", diz.

Impacto da religião na criminalidade
No mundo do tráfico, a religião se destaca como um divisor de águas entre o sagrado e o profano, o bem e o mal. Uma das possibilidades para deixar o mundo do crime é a 'transferência' para a igreja, reforçando a visão de salvação verdadeira e garantindo que o indivíduo não se aliará a algum rival.
"A maioria dos meninos só sai se for pra seguir na igreja. É dessa forma também que eu ouço: que só pode sair do meio do tráfico se seguir o evangelho. E realmente tem muitos jovens que voltam, ficam firmes e não saem. Eu conheço muitos jovens, acompanho também muitos dentro dessas áreas que já saíram do meio do tráfico, seguem a Cristo e não voltaram pro mundo da criminalidade. Mas tem muitos também que vão lá procurar ouvir a palavra, só pra saber se vai morrer ou não. Aí voltam e continuam na mesma prática", esclarece.
Profecias e redenção
Profeta, Débora recentemente entregou uma mensagem divina de Deus para o jovem Mateus Vinícius dos Santos Jesus, de 25 anos, que se envolveu com o mundo do crime e foi executado por 'traficas' do Bonde do Maluco (BDM) no domingo (27). O episódio triste, no entanto, não foi a primeira profecia da mulher, que já vivenciou outros casos semelhantes e até redenções de criminosos ao sagrado.
"Teve até jovens que desceram à sepultura. Deus olhou pra um jovem, falou com ele claramente. Ele era da igreja, mas ao mesmo tempo, nunca se firmava, nunca aparecia de verdade [...] Teve um ou dois, se não me engano, que Deus avisou: se ele não voltasse pra Cristo, iria morrer. E ele já tava praticamente morto espiritualmente. Endureceu o coração, saiu da igreja fazendo chacota, e ainda continuou zombando lá fora, bem na porta. Dois meses depois, chegou a notícia de que ele tinha morrido. Mataram ele", confessa.
"Uma vez, Deus me levou até um grupo de cinco jovens. Se eu não me engano, quatro receberam revelações muito fortes. Deus falou pra um assim: 'Se você não voltar pra Cristo, eu te vejo numa cadeira de rodas'. Pro outro, ele disse: 'Eu te vejo descendo pro presídio, sendo preso'. E pro outro: 'Eu te vejo morto'", acrescenta.
Mesmo com o impacto das revelações, dois deles ainda assim ignoraram os alertas e resistiram. "Aquele da cadeira de rodas se ajoelhou naquele dia, aceitou a Cristo e voltou pra Jesus. O outro realmente foi preso. E o terceiro, infelizmente, foi morto. Foi exatamente como Deus falou. Deus já falou com muitos jovens, mas tem aqueles que endurecem o coração e não voltam", lamenta.