“Ele não vai blefar nunca”. O ele a quem se refere o comandante do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), major Boaventura, trata-se do negociador. Tal profissional é aquele que se mete em ‘furada’ para salvar reféns e fazer com que os familiares daquelas pessoas não precisem chorar lágrimas.
Imersos em uma preparação de 22 semanas, intitulada de “Curso de Negociadores”, os negociadores, que são, acima de tudo, policiais, precisam não só querer ter o desejo de trilhar uma carreira minuciosa, como também ser dedicado, persistente e equilibrado psicologicamente e fisicamente.
“Os nossos negociadores são policiais militares, são pessoas que passaram no concurso público, entrou nas fileiras da nossa PM, fez o curso de formação, pelo acesso das praças ou dos cursos de formações oficiais, e a partir dali, ele começa a trabalhar em determinada área operacional ou administrativa da instituição. No curso de negociador, os policiais militares têm que estar em perfis específicos, nem todos os negociadores foram operadores especiais”, menciona Boaventura.
Esses personagens são escudos, mas também são pessoas com sentimentos. Todos esses aspectos fazem deles profissionais delicados e firmes na ação.
“O desgaste mental por si só, consequentemente, esgota a pessoa fisicamente. Então temos que estar preparados. Existem relatos de crise onde o negociador teve que ficar 16 horas. A nossa preparação é complexa, e é importante também que o candidato queira participar da negociação, tem que conhecer muitas coisas, muitos assuntos, porque não se sabe o que pode ser encontrado pela frente,” declara o cabo Cunha, em entrevista ao Portal Massa!.
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Formado na primeira turma da Polícia Militar, em 2014, ele começou a operar no Bope no ano passado. Parceiro da categoria, quem também chega junto nas missões ‘ossos duros de roer’ é o sargento Lima. Formado desde 2002, ele entrega algumas características particulares do negociador.
“Procuro utilizar a técnica aprendida para que a gente busque uma mudança comportamental da pessoa que chamamos de CEC (Causador do Evento Crítico). Entramos focados nas técnicas e táticas aprendidas, procurando manter a empatia e a influência durante as negociações, com o intuito de trazer a pessoa para a realidade, justamente porque ela não se encontra num momento sã do seu comportamento”.
O que os negociadores esperam nas missões
Saber onde pisar durante as negociações é um dos principais elementos das atividades do negociador. Antes de chegar a ocorrência, ele encara ensinamentos desde neurolinguística à negociação com vários estudos de casos de negociações.
“A Polícia Militar nesses tipos de ocorrência é aplicada através dos seus níveis de esforços. Sempre teremos o primeiro interventor, que são unidades operacionais que estão no dia a dia nas ruas da cidade. A partir do momento que se estabelece um refém, essa concorrência faz com que os primeiros interventores avancem, contenham, isolem, e iniciam uma conversa. Quando o BOPE chega, que é do sexto nível de esforço da PM, ele chega para solucionar e dar uma resposta especializada. É preciso chegar com um policial treinado, com equipamento específico para atuar naquele tipo de ocorrência para gerenciar aquela crise”, sinaliza major Boaventura.
A missão pode até ser diferente, a depender do grau, local, entre outros fatores, porém o que não muda é a necessidade de sigilo do negociador.
“A segurança não muda, a gente opera e sai, então temos nossa imagem preservada, normalmente, as tomadas de vida são feitas do pescoço para baixo, de longe, isso não atrapalha a gente”, conta o cabo Cunha, ao Portal Massa!.
Preparação e caso marcante
Questionado sobre a preparação durante a ocorrência, o negociador Cunha explicou que a tropa só atua com tudo ‘já preparado’.
“Nós preparamos a tropa para que, quando chegar o ponto de sermos acionados, encontremos um local esperado para negociação. Os primeiros interventores são as guarnições que chegam na ocorrência inicialmente, já têm a orientação de fazer isolamento e contenção para que a gente possa chegar. A gente já espera que o local esteja devidamente isolado, nesse momento, se tiver a necessidade de chamar um advogado, parente, que seja, a gente tem esse filtro, fizemos a entrevista com eles antes, até levar ao ponto crítico, local onde está ocorrendo a crítica”, descreve.
Segundo relato pessoal, a missão mais ‘caveira’ que ele enfrentou foi numa negociação no 12° Batalhão em Camaçari.
“Uma situação onde um suposto senhor que estava esquizofrênico, fez um aluno que estava passando pelo curso de formação refém, e precisamos fazer essa negociação que foi complexa, mas deu certo, foi uma solução negociada”, aponta.