A morte de um ente querido, amigo ou conhecido é sempre um momento de muita tristeza. Entender a causa da fatalidade, muitas vezes, ajuda a controlar essa dor, mesmo que o caso envolva violência e/ou outros fatores mais macabros. Mas quanto tempo a ansiedade aguenta esperar o resultado de uma perícia?
Na última quarta-feira (20), o corpo do cantor Liam Payne foi enterrado após passar 35 dias submetido à necropsia. O intervalo entre a morte do britânico - que surpreendeu o mundo das celebridades - e a cerimônia fúnebre também chamou muita atenção e o questionamento que ficou foi: como ele não apodreceu?
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Para esclarecer essa situação, o Portal MASSA! conversou com a médica legista Maria Madalena de Santana sobre os principais procedimentos aplicados no Instituto Médico Legal (IML), que garantem a investigação precisa e a conservação de cadáveres.
Com mais de 35 anos de experiência na área, a perita explicou o passo-a-passo dos profissionais que buscam esclarecimentos detalhados, que vão contribuir para investigações policiais. “Se a causa [da morte] for violenta, ou seja, homicídio, suicídio, acidente de transporte, queda, causas que não são de decorrências naturais, é preciso sinalizar para a delegacia local e, então, é acionada a perícia. O rabecão vai buscar o corpo após a perícia de local e encaminhar ao Instituto Médico Legal”, explicou.
Para casos de morte natural, nos quais não existam evidências de violência, a família pode acionar o Serviço de Verificação de Óbito (SVO), se não houver acompanhamento médico prévio. De acordo com a médica, cadáveres por causas naturais não têm necessidade de ir para o DPT: “Apenas as suspeitas de morte violenta - como envenenamento ou espancamento - são notificadas à delegacia e o corpo vai para o IML”, explicou a profissional.
Já sobre a atuação dos legistas, Maria Madalena contou que o papel do médico é descrever, a partir de um olhar atento e treinado, as minúcias da ocorrência. “O perito diz aquilo que vê, ele não pode ir no achismo”, afirmou.
“Quando o corpo chega ao IML, chega com uma guia policial que conta mais ou menos a história que a família diz ou alguém próximo viu. O legista não se baseia por ela simplesmente: ele lê a história, mas vê o corpo despido e, antes disso, até nas vestes procura os vestígios do que aconteceu para levar aquela pessoa a óbito”, completou.
“O corpo desnudo vai ser examinado da cabeça aos pés e, já no exame externo, verificamos projéteis e orifícios causados por arma de fogo ou arma branca. Feito isso abrimos o corpo, examinamos e anotamos todas as lesões externas e internas. Se há suspeita de envenenamento, os órgãos são retirados e mandados para o Laboratório Central de Polícia Técnica (LCPT); em caso de projéteis, fazemos radiografias e vamos em busca deles - se estão alojados, se entrou e saiu”, continuou.
Conservação em geladeiras
Segundo Maria Madalena de Santana, os corpos chegados ao Instituto Médico Legal (IML) Nina Rodrigues, em Salvador, são conservados por até 30 dias em geladeiras. O método garante que a matéria não apodreça e, mesmo após o período considerado longo, a vítima esteja em boas condições para o sepultamento.
“O corpo entra no IML, a necropsia é feita e [o cadáver] é entregue à família. Se não tiver nenhum parente ou procurador, a necropsia é feita e tudo é encaminhado para aguardar a família aparecer”, detalhou ao MASSA!.
“Se o corpo for ignorado, como em casos de pessoas sem identificação, é promovido o estudo da arcada dentária e o legista descreve os sinais, tatuagens, são tiradas fotos e deixadas no Serviço Social do IML”, acrescentou a legista.
“Promovidas as identificações desses corpos, eles vão pra geladeira e permanecem por até 30 dias; porém, se os gavetões estiverem ocupados, os corpos mais antigos vão para o sepultamento, mas as fotos e informações ficam no Serviço Social, para posteriores direcionamentos dos corpos à família”, concluiu.