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Entrevista MASSA! - 13/02/2023, 18:54 - Cássio Moreira - Atualizado em 14/02/2023, 07:34

Sem tabu! Laina defende legalização das drogas e câmera na farda da PM

Vereadora do mandato coletivo 'Pretas por Salvador' joga duro em entrevista exclusiva para o Portal MASSA!

Em seu primeiro mandato na Câmara Municipal, vereadora fala sobre atuação e defende aliança com Lula
Em seu primeiro mandato na Câmara Municipal, vereadora fala sobre atuação e defende aliança com Lula |  Foto: Olga Leiria/Ag. A Tarde

Preta, gorda, antiproibicionista - a favor da descriminalização das drogas - e lésbica. É assim que Laina Crisóstomo, vereadora de Salvador pelo Psol e uma das cabeças do mandato, ou melhor, da mandata coletiva 'Pretas por Salvador', se define em um papo pra lá de polêmico com o Portal MASSA!

O MASSA! invadiu o gabinete de Laina para conversar sobre a mandata, sobre o governo Lula, segurança pública, liberação das drogas e bolsonarismo. Dona de 35 tatuagens, a vereadora, nova líder da bancada de oposição da Câmara Municipal, se apresentou ao povão antes de lançar a braba sem censura.

"Eu sou mulher negra, lésbica, sou de Candomblé, sou uma mulher gorda, sou mãe, sou advogada feminista popular. Sou fundadora de uma organização chamada 'Tamo Juntas', que nasce para atender mulheres em situação de violência, que nasceu em Salvador, mas hoje está quase no Brasil inteiro. Sou antiproibicionista, tenho 35 tatuagens no meu corpo, muita tatuagem, um corpo muito diverso", disparou Laina.

Sobre o mandato coletivo, o primeiro na história do legislativo de Salvador, a parlamentar contou como surgiu a ideia e a junção. A vereadora compara a relação com um casamento, sujeito a embates, pensamentos divergentes, mas com diálogo para manter a união. Pela Lei Eleitoral, ela é a representante oficial do mandato na CMS.

"A ideia surge a partir das nossas experiências em movimentos sociais, quando a gente acesso aos movimentos, percebe que não consegue fazer nenhuma luta só. Então, é preciso pensar na coletividade sempre [...] Se você não tiver coletividade, não consegue fazer o enfrentamento. A ideia da mandata coletiva nasce um pouco nesse sentido. Eu e Cleide, a gente já se conhecia a um tempo. Quando a gente foi candidata a deputada federal em 2018, cada uma em uma candidatura individual, a gente percebe que a 'Juntas', uma candidatura de cinco deputadas eleitas em Pernambuco, pensa logo que é possível. A gente começa esse diálogo para a candidatura coletiva em 2018, pós-eleições. Em 2020 convidamos Gleide", começou Laina, que completou.

"A mandata coletiva é um casamento. A gente passa mais tempo juntas do que com familiares. Acho que o mais bacana é que a gente vai pensando a política a partir dessa coletividade. Eu sou uma mulher lésbica, sou mãe, Cleide é evangélica, tem 45, teve dois filhos assassinados pela violência da polícia, vem do movimento por moradia [...] Acho que esse é o grande enfrentamento (manter a união). A gente tem pautas fortes, somos de territórios diferentes. Não estou romantizando, dizendo que é fácil, porque a gente já teve projeto de lei que veio do Executivo, eu defendia que a gente se abstivesse, Cleide defendia que a gente votasse a favor, e Gleide que votasse contra. A gente sentou na mesa para conversar os prós e contras de cada coisa. No final das contas, a gente dialogou, fez um voto crítico, e fez uma fala", explicou.

Liderança da oposição

Nova líder da bancada de oposição da Casa, com a passagem de bastão feita pelo vereador Augusto Vasconcelos (PCdoB), Laina falou sobre a relação com os aliados, com a base governista e com o prefeito Bruno Reis (União Brasil). Apesar das diferenças ideológicas e políticas, a vereadora afirmou que não gosta de se opor sem motivos, e que vai seguir a cartilha de cobranças às promessas do chefão do Thomé de Souza. Ela ainda defendeu o diálogo, mas disse não ter conversado ainda com Bruno Kings.

"Com a bancada de oposição o diálogo é sempre lindo. Acho que o pessoal nunca participou de uma bancada de oposição ampla dessa forma, somos quatro partidos de esquerda que fizeram frente ao governo Bolsonaro, fizemos campanha para Lula, então isso facilitou esse caminho, e fizemos, no segundo turno, campanha para Jerônimo Rodrigues. Não é uma bancada que se junta apenas para fazer oposição à prefeitura, mas que tem projeto político conjunto [...] Quando a gente chega a essa liderança, esse pacto que a gente fez desde 2020, é um pacto de pensar a perspectiva de que são esses quatro partidos, ideologicamente que a gente pudesse revezar, e que esse revezamento também fosse de gênero", disse Laina, que lembrou em seguida dos entraves com alguns vereadores da base, que possui uma parcela grande de lideranças ligadas às religiões evangélicas.

"Com algumas pessoas a gente consegue dialogar. Tem uma ala do governo mais conservadora, mais fundamentalista, mas a gente tem uma relação de respeito com todas as pessoas. Claro que a perspectiva ideológica é muito forte, a gente não vai topar a perspectiva fundamentalista no espaço da Câmara, fazendo esse enfretamento no Plano de Cultura, quando se tentou tirar a sigla LGBT, das dunas do Abaeté. O debate da gente tem se dado dessa forma. Quando é uma perspectiva ideológica, é óbvio que precisa desse enfrentamento, mas a ideia é que a gente consiga construir uma relação de diálogo", afirmou.

Relação com o prefeito

Sobre Bruno, Laina prometeu o olhar de fiscal firme e forte, mas garante que pode concordar com projetos que sejam de benefício pro povão.

"Ainda não tivemos nenhum tipo de conversa com Bruno Reis, o que a gente tem é o olhar de fiscalização, porque é nossa tarefa. O que a gente fez foi o dever de casa, anotou tudo que ele falou na primeira mensagem do ano, estamos mandando ofício cobrando. Eu gosto sempre de dizer que a nossa oposição é crítica, não é contra a cidade. Se está sendo bom para a cidade, a gente é a favor, mas quer saber como esse processo de construção como tem se dado. Se você vai fazer uma obra, você precisa fazer uma audiência pública para saber como vai alterar e afetar as pessoas que estão naquele território", disse Laina, que ainda citou uma possível falta de transparência do município.

"A gente quer Cras funcionando, Crea funcionando, a gente quer uma atuação efetiva, porque o que a gente tem visto é uma entrega da cidade à especulação", completou.

Governo Lula

Em meio à novela sobre a posição do Psol no governo Lula, após apoiar a candidatura nas eleições de outubro do ano passado, Laina não escondeu que o seu desejo era de compor a base, mas admitiu que a ala contrária a aliança venceu a parada. Filiada ao partido, Sônia Guajajara foi escalada para o Ministério dos Povos Originários, mas está licenciada da legenda, que se comprometeu a apoiar Lula na Câmara.

"A gente não lançou candidatura própria, foi uma decisão acertada. A gente não estava lutando contra uma candidatura, mas sim contra um projeto de poder genocida. A candidatura de Bolsonaro é um projeto exterminador, é a ausência total de políticas públicas, falando dos yanomamis (ianomâmis) e do que foi a Covid-19, então é uma política de morte. A gente entendeu a necessidade de não dissipar esses votos. Não foi um apoio só a figura de Lula, foi um debate de programa também [...] Nacionalmente, eu faço parte de uma corrente que defende a entrada no governo, a gente entende que precisa fazer parte desse momento de reconstrução do Brasil. O último governo não pensou em gente. Esse processo de fraude e corrupção que Bolsonaro fez, obrigou a pensar em um projeto de unidade, e aí a gente concorda com a entrada no governo, apesar de ter sido força vencida, o que a gente viu no dia 8 de janeiro não foi brincadeira [...] Aquele atentado mostra o quanto é preciso pensar na unidade de esquerda. Os militantes não foram impedidos de estarem na estrutura do governo, isso é importante".

PORTAL / MASSA
Entrevista com a vereadora Laina Pretas
Na foto: Vareadora Laina Prestas
Foto: Olga Leiria / Ag. A TARDE
Data: 10/02/23
PORTAL / MASSA Entrevista com a vereadora Laina Pretas Na foto: Vareadora Laina Prestas Foto: Olga Leiria / Ag. A TARDE Data: 10/02/23 | Foto: Olga Leiria/Ag. A Tarde

Laina ainda acredita que existe um movimento 'reacionário'. no país. Ela falou assustada sobre os atos golpistas e citou a turma bolsonarista que permanece no poder, como Damares Alves (Republicanos), Hamilton Mourão (Republicanos) e Sérgio Moro (União Brasil), senadores eleitos na última eleição.

Segurança pública e liberação das drogas

Defensora da descriminalização das drogas, a vereadora de Salvador ainda botou a boca no trombone sobre o tema polêmico e falou também de outra discussão que tem agitado a cena política local nas últimas semanas: a instalação das câmeras nas fardas da Polícia Militar. Outro membro do Psol, Kleber Rosa, investigador da Polícia Civil, é a favor da medida que será adotada pelo governador Jerônimo Rodrigues, mas outras figuras, como o deputado estadual bolsonarista Diego Castro (PL), são contrárias e chamam a postura censura aos agentes.

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"Esse caminho é muito importante. Dados mostram que a colocação da câmera tem minimizado os processos de violência. Existe um debate, não é só sobre a câmera, é estrutural. A Polícia Militar nasce para capturar homens pretos e mulheres pretas. A gente está dizendo que hoje não é possível pôr fim à Polícia Militar, mas talvez o caminho seja esse, desmilitarizar. É um debate muito sério, porque o adoecimento é da população, mas também é do profissional [...] A gente faz um debate sobre direitos humanos para todos os corpos, porque estão sendo violentados, mas a ideia das câmeras pode diminuir", disse a vereadora, que lembrou que um policial com câmera registrou a saída do jogador Daniel Alves do banheiro de uma boate na Espanha. O Brasileiro é acusado de estupro e está em cana desde janeiro.

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A Polícia Militar nasce para capturar homens pretos e mulheres pretas

"O que gente tem debatido muito é descriminalização das drogas como saúde pública. Existe um movimento de naturalizar que o debate sobre as drogas é segurança pública, mas não é sobre segurança pública. ao contrário do que muitos governos, inclusive do PT, têm se posicionado, o debate sobre drogas é pensar sobre como a gente dialoga sobre as drogas e criminalizar não impede que ninguém use. O debate da gente é: Criminalizar as drogas serve a quem? Serve a uma estrutura a ser mantida, uma estrutura colonial, quem é preso e morto é a população negra. A gente vai ter muitas mortes no Nordeste de Amaralina, mas a quantidade de drogas que é apreendida é maior na Pituba. tem uma conta que não fecha. Essa guerra é contra pessoas, e essas pessoas têm cor e classe social. São pessoas pretas que moram na periferia. O debate é pensar estruturalmente, é pensar o quanto dialogar é pensar redução de danos [...] Carnaval as pessoas não deixam de usar drogas. Tomar remédio como se fosse água é saudável?" questiona Laina.

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A gente vai ter muitas mortes no Nordeste de Amaralina, mas a quantidade de drogas que é apreendida é maior na Pituba

"Vamos dizer para as pessoas como é possível usar sem gerar tanto dano [...] A maconha é um fumo anticapitalista, e tem sido usado de forma positiva para cura de doenças. É uma planta muito boa, tem funcionado muito bem. Que o debate seja também de popularização, o debate que seja por associações, que sejam espaços em que as mães tenham direito da extração do óleo e utilização", fechou a vereadora.

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