Referência do agronegócio na Bahia, o município de Luís Eduardo Magalhães atrai gente de todos os lugares do estado e fora dele, em busca de oportunidades. Aimagem de cidade próspera, aliada à grande arrecadação, alavancada pela produção de soja e algodão, demanda grandes investimentos em infraestrutura.
Paralelamente, o município também precisa equacionar problemas ambientais e sociais que, apesar do grande poderio econômico, fazem parte da realidade local. O prefeito Júnior Marabá (PP), um dos mais jovens do estado, tem como desafio garantir as condições para manter a expansão econômica e investir em políticas públicas para a população mais vulnerável.
A menina dos olhos da gestão é o aeroporto da cidade, que recebeu investimento de R$ 28 milhões do Governo do Estado. Com folha equilibrada, entre 39% e 42% do orçamento, e um programa de licitações que estimula a participação de empresas locais, Marabá investe em saneamento e responsabilidade ambiental, além de realizar um amplo programa voltado à população de rua e habitação popular. Nesta conversa com o PORTAL A TARDE, o prefeito falou sobre as ações do seu mandato.
O Sr. considera o aeroporto a obra mais importante da sua gestão?
Sem dúvida é uma das obras mais importantes do município. Hoje nós somos a 6ª economia do Estado. Somos o maior exportador de commodities do setor agrícola na Bahia. Também sediamos a maior feira Norte/Nordeste do agronegócio brasileiro. Com esses dados econômicos somos um município com grande potencial econômico e com uma grande possibilidade de crescimento. Eu vejo que o aeroporto, ele nos traz uma possibilidade muito grande de criar esse link entre o crescimento econômico e populacional da nossa cidade. Por que isso? Porque nós vamos ligar Luís Eduardo a todo o país. Então eu vejo que, sem dúvida alguma, uma das obras mais importantes que Luís Eduardo terá por conta da representatividade econômica que essa região do Estado dá para o Brasil.
Mas, paralelamente, o município tem recebido outros grandes investimentos em infraestrutura?
Além do aeroporto, eu também tive as tratativas com o então governador Rui Costa, sobre a abertura do nosso hospital municipal e o governador atual, Jerônimo Rodrigues, já sinalizou para iniciar as tratativas da abertura do nosso hospital com 120 leitos e 27 leitos de UTI. E nós tivemos também, junto à concessionária Embasa, uma renovação de contrato, onde o governador Rui Costa também esteve intermediando essas tratativas. E estamos tendo um avanço em saneamento básico significativo, onde logo o município pode chegar a mais de 92% de cobertura de saneamento básico para os próximos anos. Nós também tínhamos em Luís Eduardo um grande problema em relação ao volume de chuva. Em nossa cidade chove muito, acontece de chover 100 milímetros em um espaço de tempo muito curto dentro de algumas horas. Era um problema que se estendia por 20 anos e foi sanado. A gente fez três bacias. Cada uma dessas bacias tem capacidade de absorver 120 mil metros cúbicos de volume de água, e hoje eu evito alagamentos em Luís Eduardo.
Luís Eduardo é famosa por ser um pólo do agronegócio. Existe preocupação com sustentabilidade?
Nesses dois anos conseguimos desativar um lixão a céu aberto, que fica apenas um quilômetro em linha reta do centro da cidade. Um lixão que estava rodeado de toda uma população que mora ali em volta e nós conseguimos em menos de dois anos, que era meu compromisso de campanha, desativar o lixão. Então nós temos hoje um aterro sanitário já funcionando e temos essa responsabilidade com o meio ambiente. Falando ainda de meio ambiente, eu tive um dos maiores plantios do nosso estado e na época, o maior plantio daquele momento de mudas em Luís Eduardo Magalhães. Nós tivemos seis mil mudas adultas plantadas nas margens da BR no nosso município.
Passando para a questão da habitação, como é que o município está atuando nesse segmento?
Quando mais novo eu trabalhei num centro de recuperação de dependentes químicos e aí eu percebi por essa experiência de estar na rua, conversar com algumas pessoas em situação de morador de rua, eu vi que muitos gostariam de sair daquela situação. Ou eles queriam um lugar para tomar banho comer e dormir, ou eles queriam localizar a família, os documentos e o dinheiro da passagem para voltar para suas famílias ou eles queriam um local pra ficar em relação a sua dependência química. E diante disso eu via a necessidade de montar o POP Rua. Através do POP Rua eu atendo essas pessoas em situação de rua e levo elas para essa residência, onde tem um espaço ali para 22 pessoas que recebem esse atendimento. Dentro de um ano chegamos ao ponto de não ter pessoas em situação de rua em Luís Eduardo Magalhães. Foram mais de 2 mil pessoas atendidas em pouco mais de um ano. Quanto ao programa Meu Lar, nós já fizemos a entrega de 50 residências totalmente reformadas para as famílias. Eu falo que cada família dessas existe um caso, existe uma situação. Então existe um caso de uma casa que nós entregamos, que aquela mulher sofria violência doméstica, que ela teve que fugir por uma tentativa de agressão de seu companheiro para se salvar, ela procurou o atendimento público. Nós atendemos e infelizmente esse companheiro dela colocou fogo na casa que ela morava. Nós reformamos e entregamos a casa dela nova. Temos diversos outros casos de mães abandonadas pelos companheiros. Como a primeira beneficiada, que tinha duas filhas pequenas e vivia no chão batido. Não tinha reboco. Chovia dentro de casa. As crianças dela eram crianças de seis a sete anos e elas nunca tinham tomado banho de chuveiro quente. Então esses dois casos mostram na verdade uma realidade de uma cidade rica, mas que tem problemas sociais. E a gente tem essa função.
O município tem outras políticas voltadas para as mulheres?
Nós temos uma pauta de cuidado da mulher muito interessante. Temos um botão do Pânico, onde já temos esse serviço funcionando onde a Secretaria de Segurança atua nesses casos de expectativa ou, de fato, a agressão doméstica. E também junto com uma parceria com o governo do Estado conseguimos evoluir a pauta da NEAM, com um prédio público destinado pelo município e parceria com as forças de segurança. E quais são as iniciativas na área de educação? A educação, eu divido em alguns aspectos. Primeiro você tem que dividir a educação na questão social. Uma criança com fome, ela não aprende. Então, primeiro nós inserimos na educação a nova merenda, onde toda criança e adolescente, quando chega na escola, ela tem um desjejum, ela tem uma refeição antes de adentrar na sala de aula. Quando se fala de creche nós temos cinco refeições, de segunda a sexta. Também tivemos aqui o kit material escolar e o kit uniforme. Porque muitos pais têm dificuldade para comprar uniforme e para comprar material escolar. Então nós temos aí essas três pautas sociais, o uniforme, o kit escolar e a merenda. Nós temos centro de reforço escolar e núcleo psicopedagógico. Por que nós temos isso? Nós temos uma grande dificuldade hoje, nossas crianças e adolescentes, por causa do período de pandemia, onde as crianças e adolescentes ficaram fora da sala de aula. Por isso, nós temos que recuperar esse tempo perdido. Quando eu falo de atendimento psicopedagógico, eu digo uma coisa muitas crianças e adolescentes com TDAH (transtorno de déficit de atenção e hiperatividade) ou qualquer outro transtorno, você vai ter uma dificuldade de aprendizado muito grande. Você pode ter uma criança que desenvolve um medo de aprender porque ela tem medo de errar. Você tem uma criança que pode não conseguir ter ali, por conta de uma condição de hiperatividade, uma concentração, de absorver esse conhecimento. Então, o núcleo psicopedagógico, grande parte da população jamais teria condições financeiras de alcançar um atendimento como esse.
O senhor tem também um programa de saúde em domicílio e o município incentiva a realização do parto normal?
O programa Melhor em casa é para aqueles que se cadastram e conseguem ter esse atendimento ali na sua residência por dificuldades na locomoção e a equipe médica vai até casa do beneficiário com enfermeiros, psicólogos, técnicos de enfermagem, fisioterapeuta, nutricionista e todo um aparato para atender as pessoas que estão em sua residência.
Quando a gente vai para esse processo de parto normal, o que nós temos aí?
Eu vejo que quando você vai para países mais desenvolvidos, como às vezes, chega a ser praticamente toda a Europa, você tem a naturalidade de uma população realizar os partos normais. Porque se é visto pela população e pela sociedade como algo que eleva a saúde da mulher, traz mais cuidado com a mulher. Então eu vejo que nós temos que buscar um incentivo ao parto normal. A partir do momento que a gente tem esse incentivo ao parto normal, que a gente consiga construir centros de partos normais por todo o país, o que nós vamos ter? Nós vamos ter uma evolução na saúde pública da mulher muito grande. Quando ela passa a ter essa condição de ter o parto normal, já tem esse parto humanizado. É algo fantástico. É algo que eu falo que resolveria muitas questões, dificuldades hoje de saúde pública, da mulher no país inteiro.
Eu queria que o Sr. falasse sobre a política para os animais de rua. Como é que funciona isso aí no município?
Para você ter ideia, reduzimos em 5.384 essa população animal. Essa é a estimativa de novos animais que poderiam estar na rua. E graças ao trabalho de castração gratuita que a gente tem, o “É o Bicho?” Nós fizemos a castração em 827 cães e gatos no município, entre fevereiro e dezembro do ano passado. A gente também tem um programa muito legal, através de adoção, que a gente cria ali, junto com o É o Bicho, algumas condições e a gente entrega o animal vacinado e vermifugado.
Luís Eduardo tem a fama de município rico. Mas como o Sr. tem feito para otimizar os recursos e manter o equilíbrio das contas públicas?
A gente tem uma boa arrecadação. É uma arrecadação crescente. Então realmente nós temos um município privilegiado. Além disso, nós buscamos aqui ter uma eficiência no serviço público. As dificuldades maiores aqui foram que o empresariado de Luís Eduardo não tinha a cultura de fornecer produtos ou serviços para a Prefeitura. Quando me deparei com a dependência que havia de outras cidades, nós fizemos o programa LicitaLEM. Essa iniciativa aumentou em 62% a participação de empresas locais nos serviços públicos. Minha ideia é que com o tempo se tenha uma cultura do empresariado de Luís Eduardo de participar das licitações, gerando mais emprego e renda na nossa cidade.