Embora muita gente ainda esteja discutindo o resultado da eleição de outubro do ano passado, a política baiana já se movimenta para o pleito municipal de 2024 e para as eleições gerais de 2026. No seu primeiro mandato como governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT) tem atraído partidos e avança nos acenos para trazer o PSDB para sua base.
Em conversa com o Portal MASSA!, o cientista político Cláudio André de Souza relembrou o contexto político em que se deu a vitória de Jerônimo, considerado desconhecido por uma parcela dos eleitores, mas vencedor no embate com o ex-prefeito de Salvador, ACM Neto (União Brasil), visto como franco favorito na disputa.
“Importante que a gente leve em consideração que a eleição de 2022 se deu diante de muita polarização, de um candidato mais forte, que é o ex-prefeito ACM Neto, e havendo um desconhecimento gigantesco com relação a figura de Jerônimo como político baiano. Tanto que foi a primeira eleição que disputou”, frisou Cláudio André.
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Desde o final do primeiro turno da eleição, Jerônimo garantiu apoio de figuras e partidos que haviam caminhado com Neto durante a campanha. O ex-prefeito de Salvador conseguiu formar uma coligação maior na eleição, mas assistiu à migração de algumas legendas para o grupo governista estadual. Solidariedade, Cidadania, Podemos, PSC, PL, PP e Patriota são os principais exemplos de partidos que não estiveram com Jero durante a campanha, mas hoje estão na gestão, ainda que alguns de forma indireta. A nível de comparação, a aliança ‘Pela Bahia, Pelo Brasil’, encabeçada pelo candidato petista, contava com apenas sete partidos - incluindo PT, PCdoB e PV, que formam a Federação Brasil da Esperança.
O novo foco do governo Jerônimo é o PSDB, que passou a ser visto com outros olhos após a chegada recente do presidente da Câmara Municipal de Salvador, Carlos Muniz. O vereador, próximo ao vice-governador Geraldo Júnior (MDB), já disse publicamente que pode conversar com Jerônimo sobre uma possível aliança política, que já traria consequências nas eleições municipais de 2024. Outra parte da sigla rejeita a mudança de lado e garante que continuará com o prefeito Bruno Reis (União Brasil), que tentará um novo mandato no próximo ano.
“Essa perspectiva de negociação com o PSDB ocorre dentro de uma leitura feita pelo governo de que é necessário ampliar a base governista para preparar Jerônimo como candidato à reeleição, sabendo que a situação da relação de parte do PSDB nacionalmente com o governo Lula é de diálogo. O PSDB vive essa situação, assim como outros partidos, por conta do impacto do bolsonarismo. Os partidos passaram pela eleição de 2022 com lideranças dentro dos estados que tinham alinhamento com o ex-presidente Bolsonaro”, explicou o cientista político.
Cláudio André também pontuou que a estratégia de fortalecimento desses partidos que mudaram de campo e da base do governador Jerônimo passa pelas eleições municipais de 2024. O apoio massivo de prefeitos, vice-prefeitos, vereadores e lideranças locais é visto como um fator de peso na vitória do candidato petista em 2022.
“Não é o caso de um enfraquecimento político da liderança de ACM Neto, não é isso que pode acontecer. No entanto, a saída desses partidos do raio de influência da oposição e compondo a base governista, pode indicar também um cenário de fortalecimento desses partidos na disputa para as eleições de 2024, que tende a ter um cenário mega complexo, com a continuidade do fim das coligações proporcionais, a gente tem também uma diminuição do tamanho dos partidos na Câmaras Municipais, e o cenário colocado pela eleição de 2022 é de que foi que os prefeitos foram fundamentais para a vitória de Jerônimo”, afirmou.
“Então, obviamente que do ponto de vista da sobrevivência dos partidos a médio e longo prazo é necessário ter prefeituras, ter vereadores”, completou o analista.
Nos bastidores, fontes ligadas ao Palácio de Ondina afirmam que o governador está disposto a ‘vestir a camisa’ e ir às ruas para garantir a eleição de aliados nas prefeituras. Na leitura do cientista político, as movimentações de ‘Jero’ devem causar um forte impacto nas eleições municipais do próximo ano, com a estratégia de dialogar com os partidos aliados e com políticos.
“O governo tem se movimentado para aumentar o seu arco de alianças com esses partidos, e isso influencia no projeto em disputa nas eleições municipais. Tem uma estratégia que está muito colocada: o governador tem o entendimento de que é necessário construir uma perspectiva de conversas com os partidos, dialogar com os partidos. Ele também vai conversar com os deputados, com os parlamentares de maneira mais segmentada. Vejo que é uma estratégia para quem está se preparando para ter um bom desempenho nas eleições de 2024”, explicou.
O governo tem se movimentado para aumentar o seu arco de alianças com esses partidos, e isso influencia no projeto em disputa nas eleições municipais
Cláudio André de Souza
Como pensam os partidos
Presidente estadual do Cidadania, que forma uma federação com o PSDB, a ex-vereadora de Salvador, Isabela Sousa, pensa que ainda é cedo para tratar do pleito de 2024. Em contato com o Portal MASSA!, a dirigente da sigla na Bahia afirmou que, neste momento, o partido continua com a mesma orientação, que é de composição da base do prefeito Bruno Reis, de quem é aliada. Apesar de compor a coligação do candidato ACM Neto em 2022, o Cidadania viveu um racha quando o vereador Joceval Rodrigues, que na época presidia a legenda, rompeu com o ex-prefeito para declarar apoio a Jerônimo, de quem permanece aliado.
“Ainda estamos no primeiro semestre de 2023. Como não é um ano eleitoral, é um período que a gente consegue focar inteiramente na gestão. Não é saudável para nossa democracia sair de um processo eleitoral entrando em outro. Estamos em um processo de reorganização do partido e da Federação Cidadania/PSDB na Bahia, que vigorará ainda na próxima eleição. Estamos acompanhando algumas movimentações pela imprensa, mas a posição institucional do partido segue inalterada. Ajudamos a eleger o prefeito Bruno Reis e seguimos caminhando juntos por uma Salvador melhor”, destacou.
Ajudamos a eleger o prefeito Bruno Reis e seguimos caminhando juntos por uma Salvador melhor
Isabela Sousa, presidente do Cidadania
A reportagem tentou contato com lideranças ligadas ao PSDB, mas não obteve retorno até a publicação da matéria.