Após ser identificado como 'descendente de escravos' pelo jornal espanhol As, o brasileiro Igor Paixão, atacante do Feyenoord, publicou um texto nas redes sociais com uma resposta em tom duro contra a manchete de cunho racista utilizada pelo diário antes de partida pela Champions League.
"Ao falar de minha trajetória, logo no título, o racismo 'não-tão-velado': o descendente de escravos. Fosse por minha realidade humilde, a mesma de muitos dos meus companheiros. Fosse por minha cor, a mesma de grande parte do mundo. Fosse por minha forma de ser ou a 'ameaça' que trago a eles", publicou o brasileiro. "Fosse pelo que fosse, só há uma palavra para descrever isso: racismo", escreveu Igor.
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A reportagem apresentava o brasileiro, destaque do Feyenoord, antes da partida contra o Atlético de Madrid, pela Champions League. A matéria expõe, em cunho racista, a história do jovem atacante brasileiro, que tem origem quilombola, grupo étnico-racial formado por descendentes de escravos fugitivos durante o período da escravidão.
"Se somos descendentes de escravos, o somos porque fomos escravizados. Nos roubaram de nossas casas, de nossas famílias, de nosso livre arbítrio e de nossas vidas. Mas hoje não somos mais", reiterou o atacante do Feyenoord.
Veja o texto de Igor Paixão na íntegra:
"Eles sempre se disfarçam. Por meios de palavras elegantes, de dinheiro, de formas de se portar e até mesmo dos cargos que ocupam.
Eles são sutis. Nem sempre deixam a mostra todo o preconceito que carregam por gerações e gerações.
Eles são espertos. Porque na maioria das vezes se safam ao cometerem um dos mais hediondos crimes da história: o racismo.
Mas nem sempre eles disfarçam, nem sempre são sutis e nem sempre são espertos. Às vezes são explícitos e descarados, resultado de anos e anos de impunidade. E esperam o momento certo para destilar o preconceito que carregam dentro de si.
Nesta semana, foi a vez do Jornal AS, do país onde joga meu companheiro de profissão, de vida e de cor, Vinicius Junior, que sofre diariamente com o ódio de quem simplesmente não aprendeu a superar um mal que jamais deveria ter existido, mas que há tanto tempo é criminoso.
Ao falar de minha trajetória, logo no título, o racismo 'não-tão-velado': o descendente de escravos.
Fosse por minha realidade humilde, a mesma de muitos dos meus companheiros. Fosse por minha cor, a mesma de grande parte do mundo. Fosse por minha forma de ser ou a 'ameaça' que trago a eles. Fosse pelo que fosse, só há uma palavra para descrever isso: racismo.
Se somos descendentes de escravos, o somos porque fomos escravizados. Nos roubaram de nossas casas, de nossas famílias, de nosso livre arbítrio e de nossas vidas. Mas hoje não somos mais.
Somos livres para pensar, falar e ser o que queremos, e isso ninguém irá roubar de nós.
Sutis, como são, dirão que 'entendi errado o contexto', e irão disfarçar 'tirando o texto do ar', e de forma esperta continuarão fazendo, com outros, e me tornarão um alvo.
Mas tudo bem. Porque juntos somos mais fortes. Sempre seremos mais fortes. E nunca, nunca mais, caminharemos sozinhos.
Racistas jamais passarão".