Segue indefinida a partida entre Bahia e Grêmio pela Copa do Brasil nesta quarta-feira (12). A previsão do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) aponta que um ciclone extratropical deve atingir Porto Alegre, capital do Rio Grande Sul, levando uma chuva de granizo à arena do tricolor gaúcho. O duelo, marcado para as 19h, vale ao Esquadrão a vaga inédita para as semifinais do torneio. A situação dispara um gatilho na memória do torcedor. E está longe de ser positivo.
Também nas quartas de final, só que da Copa Libertadores da América, o sonho da inédita classificação do Bahia para a semifinal foi por água abaixo na noite de 26 de abril de 1989. As chuvas de outono alagaram o Estádio Octávio Mangabeira, a antiga Fonte Nova. O tapete virou uma piscina. Os pedidos do clube para adiar a partida, assinados pelo lendário presidente Paulo Maracajá, foram rejeitados.
Pode isso, Arnaldo?
"Na Argentina se joga em gramados muitos piores que esse". Foi com essa argumentação que Arnaldo César Coelho, com José Roberto Wright como quarto árbitro, manteve a partida mesmo diante das péssimas condições. A decisão beneficiava, e muito, ao visitante, no caso o Internacional. Com gol de Diego Aguirre no jogo de ida, em Porto Alegre, o Colorado conquistou a inesperada vantagem no placar agregado. Com todas as condições favoráveis, arrancou o empate sem gols em Salvador.
"Eu me lembro muito bem desse jogo. Lamentável! Eu fui com ele [Arnaldo César Coelho] fazer o teste. A bola não rolava. E eu dizia: 'Arnaldo, não pode ter jogo. Impossível'. E ele dizia: 'não posso, não tenho ordem da Conmebol'. E óbvio, o empate era deles. Só que o nosso time já tinha provado antes que era muito melhor", recordou o técnico Renê Simões ao Portal Massa!.
Simões foi o substituto de Evaristo de Macedo após o título brasileiro de 1988 e fazia uma campanha brilhante no continental. Contou ainda que pediu ao presidente Maracajá que fizesse alguma coisa para evitar a tragédia. "Apaga a luz, faz alguma coisa, é impraticável". Não foi atendido. A partida que deveria ter sido adiada aconteceu. A bola boiou.
Dentro de campo
O ex-zagueiro João Marcelo, campeão de 1988, foi titular daquele jogo. Para ele, o campo não reunia a mínima condição para abrigar uma partida de futebol. "Houve uma pressão muito grande por parte do Internacional, porque tinha um time mais pesado. Enquanto o Bahia tinha um time mais leve. Tinham a vantagem do placar mínimo, mas estavam emocionalmente abalados pela sequência de derrotas para nós", disse o ex-jogador ao Portal Massa!.
De fato. naquela conjuntura, o Inter tinha perdido o Brasileirão e ainda apanhado duas vezes na fase de grupos. Passava por um momento de pressão que só teve alívio, momentâneo, quando venceu em casa o primeiro jogo.
O ex-beque ressaltou ainda que naquela época a Libertadores não tinha tanto atrativo nem a repercussão que tem atualmente. Sem pestanejar, traçou um paralelo com os contornos atuais do Bahia, à beira de uma partida impraticável contra o Grêmio pela Copa do Brasil. "Hoje, se tiver metade daquela água que tinha naquela noite da Libertadores, já não tem condições de jogo".
A condição do gramado em 1989 estava tão ruim que tirou qualquer chance de triunfo do tricolor baiano. Um dos lances marcantes para o professor Renê Simões foi quando Charles driblou Taffarel e empurrou a bola para o gol vazio. A pelota parou em cima da linha. "Simplesmente não entrou." Taffarel, que já era goleiro de seleção, se recuperou no lance e catou a redonda. "Foi um crime ter aquele jogo. Não podia ter de jeito nenhum. Uma situação horrorosa", desabafou o técnico.
O apito final de Arnaldo César Coelho, que de quebra ainda expulsou o atacante Charles Fabian, o príncipe e 'xodó' da torcida, sepultou a segunda e última participação do Bahia na Libertadores.
Campanha
O Bahia entrou em campo naquela noite como atual campeão Brasileiro e um dos favoritos ao título da Libertadores. Se classificou na cabeça da pule do Grupo 2. Invicto. Seis triunfos e dois empates. Bateu Deportivo Táchira, Marítimo e o próprio Internacional. Duas vezes (1x0 e 2x1). Nas oitavas de final despachou o Universitário, do Peru. Empate na casa dos caras (1x1) e novo triunfo em Salvador (2x1).
A queda nas quartas para o Internacional foi atribuída ao mau tempo e considerada um dos absurdos do futebol brasileiro. Se passasse, enfrentaria um cambaleante Olímpia, do Paraguai, que tirou o Inter nos pênaltis e, também nas cobranças de penalidades, foi derrotado na final pelo Atlético Nacional, da Colômbia. Cenário melhor para título, naquela ocasião, impossível.
Com o passar dos anos, o episódio deixou de ser lembrado nas resenhas esportivas. Embora se mantenha vivo e presente, entre uma talagada e outra, nas resenhas dos botecos da capital baiana.