
Na terceira idade, problemas de saúde como pressão alta, dificuldade com a coordenação motora, fragilidade no sistema imunológico e diabetes começam a aparecer com maior frequência, não há nada melhor que praticar atividade física para combater os efeitos do passar do tempo. Foi pensando nisso que o mestre Lucas Ratto, no projeto social ‘Rato de Tatame’, passou a dar aulas para pessoas com mais de 60 anos.
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“O projeto é para poder ter benefícios para a comunidade. [...] A didática das aulas é toda minha. Começamos com alongamento, atividade física, mobilidade, movimentação, e em uns cinco meses, elas (as alunas) já começaram a ir para a parte da luta, trocando pegada, quedando e finalizando em pé”, destacou o mestre, em entrevista ao MASSA!.
Localizada no Alto do Macaco, que fica em Itapuã, a iniciativa - em parceria com a Bruxo Team - tem seu centro de treinamento acoplado à casa de Ratto, que dá aulas para os idosos todas as terças e quintas-feiras, às 8h. “O prospecto do projeto é de formar cidadãos para além da competição. O principal é tirar as pessoas da rua, ter exemplos sadios, dar um norte para as pessoas. É sobre ser um faixa preta na sua conduta, na sua postura e na sua ética”, lembrou Tiago “Bruxo”, principal apoiador e parceiro do projeto, que ainda almeja dar aulas de inglês para as crianças.

Estudos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que, dos mais de 33 milhões de idosos no Brasil, 9 milhões fazem atividade física. Destes, 66% têm a caminhada como o esporte favorito; 13% preferem andar de bicicleta e quase 10% optam em ir à academia. Apesar das lutas serem preteridas em sua maioria pelos mais velhos, existem sim vantagens em sua prática. “Quem vem para o jiu-jitsu sai do sedentarismo, trabalha a coordenação motora e o equilíbrio, que vão se perdendo com o tempo. Esse trabalho que é feito aqui pode ajudar muito nas atividades do dia a dia. [...] Aqui no bairro tem casos de netos que empurram avós, que ficam rebeldes, segurando avós. E aqui, elas aprendem a se desvencilhar, saem de abraços mais fortes, apertos mais fortes e outros ataques”, explicou Bruxo.

A arte suave em família
O mestre Lucas Ratto tem longa história com projetos sociais e uma carreira bastante extensa nas artes marciais, para além do jiu-jitsu. São mais de 30 anos na capoeira, onde conquistou quatro títulos brasileiros, um campeonato europeu e o prêmio Red Bull Paranauê, de caráter mundial. No jiu-jitsu, são 17 anos de estrada e a faixa preta na cintura. “O jiu-jitsu tem um senso e apoio muito grande. Governo do estado e Prefeitura nunca me deram apoio enquanto capoeirista. Nunca me deram uma calça, que custa 50 reais. No jiu-jitsu, a Bruxo Team vem cheia de kimono para doação pro projeto. O jiu-jitsu tem mais esse senso de família de ver o outro crescer, diferente da capoeira”, desabafou ao MASSA!.

Mudança na vida e na mente
Tiago “Bruxo”, mestre da Bruxo Team, que conquistou 10 medalhas de ouro no Campeonato Baiano de Jiu-Jitsu no último dia 10, teve a vida transformada e passou a ajudar outras pessoas a partir do esporte. “Trouxemos muita gente pra essa vida, pra dentro do tatame, moldando vidas. Alguns alunos entraram mais quietos e passaram a se expressar melhor. A arte marcial te dá essa autoconfiança, mas sem criar arrogância”, discorreu.
O desejo pela luta surgiu pelo arredor familiar de Tiago, atrelado a problemas psicológicos no passado. “Meu pai tinha depressão, mas não era tratado como hoje. Ele ficava muito fechado no quarto e descontava a raiva dele em mim, física e psicologicamente. O jiu-jitsu foi meu refúgio”, detalhou o professor.
*Sob a supervisão do editor Léo Santana