Uma profissão tão desejada pela maioria dos jovens, que pode transformar vidas, mas que ninguém conta o lado negativo de uma carreira de jogador de futebol. Críticas constantes por meio da torcida, pressão e autocobrança, podem prejudicar a saúde mental e até o desempenho do atleta.
Na última quarta-feira (1), Diego Rosa, jogador do Bahia, preocupou os torcedores, após desabafar em seu Instagram, e logo depois, apagar tudo do seu perfil. O meio-campista do Tricolor publicou uma imagem em preto e branco com a mensagem: "Essa tempestade vai passar", dando a entender que estaria afetado pelas críticas que vem recebendo por parte da torcida do clube.
Além do meio-campista, ainda nesta temporada, o lateral-esquerdo Jhoanner Chávez deixou o clube após ter demonstrado problemas com sua saúde mental ao não conseguir se encaixar na equipe, e ter sido alvo de fortes críticas por meio da torcida. Na época, assim como Diego Rosa, Chávez chegou a publicar desabafos em seu Instagram. “Deus, esse processo dói tanto” e "Tudo passa", escreveu o equatoriano
Criticar o time quando não está em uma boa fase, pode fazer parte da tradição do futebol, mas em excesso, pode causar graves danos aos profissionais que estão envolvidos. O Portal Massa! conversou com a psicoterapeuta sistêmica, Dra. Nicole Ornellas, que explicou um pouco sobre a batalha contra a pressão externa que esses jogadores enfrentam.
"As consequências começam com as frustrações. Cria-se expectativa sobre o processo, seja por entrar em um time novo, ou a pressão de ser um titular. E quando essas expectativas não são correspondidas, além de gerar uma insegurança exacerbada, crises de ansiedade que tiram o sono deixando muitos com insônia, geram outras consequências externas como a não classificação do time nos campeonatos", explicou a doutora
Segundo a psicóloga, a pressão externa aumenta consideravelmente a autocobrança desses jogadores, uma vez que, eles precisam entregar um resultado em campo, a fim de elevar o patamar do time que defende, e também para se tornar querido pela torcida.
"Em termos da psicologia, existe uma “nuvem” que se forma através de cada indivíduo, chamada de inconsciente pessoal. Segundo Carl Gustav Jung (1875), nessa nuvem consta todas as memórias, complexos, aquisições pessoais, sentimentos reprimido que guardamos e que estão sempre conosco (...) Projetando isso nos jogadores, se cinco deles estiverem em conflito interno, existem 80% de chance do time perder a partida", contou
O que os jogadores devem fazer para manter a saúde mental em dia?
Assim como em qualquer outra profissão, no futebol não é diferente. Os jogadores não estão sendo assistidos somente em campo, mas fora dele também. Há a necessidade em ter um cuidado com o físico do atleta, mas principalmente, a saúde mental desses profissionais, deve ser priorizada. A psicóloga deixou umas dicas para esses profissionais, que podem ajudar a entender com mais leveza, a atmosfera que vivem.
"O primeiro passo, é acreditar em si, e desenvolver autoconfiança. Segundo passo, saber trabalhar em grupo e entender como cada colega “funciona” durante as jogadas. Terceiro passo, entrar em campo sabendo que a possibilidade de perder já existe, mas que vão correr atrás da vitória, e mesmo que não saiam vencedores, perder naquele momento não resume toda a sua trajetória de vida, muito menos as potencialidades e capacidades", disse a psicóloga
Mesmo que seja difícil para alguns, é necessário se blindar ao externo, tomar providências para que o máximo de críticas, ofensas e pressão, não chegue com tudo, em cima desses jogadores. Atrelado a isso, é importante ter uma boa rede de apoio, seja dentro do clube, com o apoio de colegas de equipe e também de profissionais capacitados. O processo de manter a saúde mental em dia, lidar com as críticas sem que te afetem, muitas vezes só pode ser resolvido através de terapia.
Torcedores precisam fazer sua parte
O papel de um torcedor é apoiar seu clube do coração, e também apoiar e respeitar quem veste a camisa para representá-lo dentro das quatro linhas. É necessário ter empatia com o próximo, mas principalmente, tentar compreender o momento que aquele jogador vive, e que se caso for um momento difícil, não é hora de torná-lo pior.
"As cobranças são válidas para os jogadores entenderem em que ponto estão, visto que, de dentro do processo as visões ficam distorcidas. Mas a partir do momento que há uma certa quebra de limite, e se torna algo ofensivo e maior, já é considerado errado, e sim, pode prejudicar os jogadores muito mais, podendo levá-los a desenvolver uma depressão em extremo do caso", completou a psicóloga
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