A profissão de influenciador digital pode transformar a realidade das pessoas em um piscar de olhos. De um dia para a noite, é possível ver pessoas ganhando seguidores, dinheiro, fama e a sonhada mudança de vida. Contudo, o reconhecimento traz consigo críticas e os julgamentos de milhares de internautas, que por sua vez, se observam no dever de opinar sobre todas as nuances daquela vida exposta.
Rodrigo Amendoim, ‘Mendo’, melhor dizendo, era um homem negro, periférico, sem baixa expectativa de vida que teve o destino mudado pelo poder da internet. Por um lado, o influenciador baiano, que iniciou a vida vendendo amendoim e picolé durante as tardes ensolaradas de Salvador, alcançou um alto patamar como influenciador digital e assim conquistando bens materiais e uma mudança de vida.
Contudo, se afogou no mar das críticas e não resistiu a toda pressão imposta pelos milhares de seguidores, que dia e noite julgavam todos os seus comportamentos
A psicóloga Carla Albergaria explica a importância da autoestima, o cuidado com a saúde mental, e entendimento dos limites são fundamentais para se prevenir contra comentários negativos.
“A crítica ela vem carregada de julgamentos, impressões, conceitos preconcebidos e interpretações da outra pessoa. Então diz respeito a uma concepção que o outro tem sobre você, e não corresponde necessariamente a quem você verdadeiramente é”, detalha a psicóloga em entrevista ao Portal MASSA!.
Em seguida, a profissional destaca a relevância da responsabilidade emocional no momento de opinar sobre a vida de outra pessoa. “Comentários negativos, reprovadores e desestimulantes, não precisam ser ditos. Da mesma forma que uma crítica pode ser construtiva, ela pode também ser DESTRUTIVA! E é importante que tenhamos responsabilidade emocional”.
Dê suporte para quem estiver depressivo
"Se sentia inferior, se sentia feio, e a gente cuidando de tudo disso, marcava terapia e ele não ia”, a fala marcante foi dita por Cristian Bell, melhor amigo de Rodrigo Amendoim, durante o enterro do influenciador. Diferente das brincadeiras e vídeos em momentos supostamente felizes compartilhados na Internet, Mendo lidava com a falta de afeto familiar, a baixa autoestima e a falta de preparo mental por trás de uma vida supostamente perfeita.
Felipe Cerqueira, responsável pelo Instituto Help na Bahia, esclarece ao Portal MASSA! que a melhor forma de acolher pessoas depressivas é demonstrando apoio, incentivando buscar um profissional e motivar com coisas simples.
“Procure ouvir o que a pessoa tem a dizer, entender o que se passa com ela e ter paciência. A depressão faz a pessoa achar que ninguém se importa com ela. Sem “forçar a barra” procure conscientizar a pessoa que pedir ajuda não é sinal de fraqueza, mas que todos passam por momentos difíceis e precisam de apoio para superá-los. Convide a pessoa para assistir um filme, por exemplo, ou conte uma coisa engraçada que te aconteceu, convide-a para ir a algum lugar com você, etc”, afirma.
A busca pela vida perfeita
Apesar dos altos e baixos da vida, os influenciadores buscam compartilhar uma realidade em sua perfeita plenitude, na qual os problemas não existem e, se quer, se fala sobre saúde mental. Para alguns, ser vulnerável é sinônimo de fraqueza, o que motiva constantemente a busca pela vida perfeita.
Em uma análise sobre a incessante busca pela tão sonhada 'vida perfeita’, a psicóloga Carla Albergaria destaca a necessidade de autoafirmação e aprovação como motivações para as pessoas terem a tendência de transparecer não ter problemas.
“As pessoas acabam selecionando a melhor parte de si para exibir ao mundo, passando a falsa ilusão de vida perfeita. Fazer uma postagem se mostrando feliz e receber inúmeras curtidas, pode ser um reforçador por essa busca incessante pelo engajamento, reconhecimento e aprovação do outro”, inicia.
“E a exposição, na mesma medida que pode gerar aprovação do público e reconhecimento, também deixa o indivíduo mais vulnerável, exposto a críticas severas [...] Ninguém é feliz o tempo inteiro. Todos nós passamos por frustrações, chateações, desânimo, tristeza”, explica.
Estrutura familiar
A estrutura familiar é a base para a formação de qualquer indivíduo. É onde cada uma se recolhe em momentos turbulentos, é a construção para a certeza de quem realmente somos. A boa relação familiar traz apoio e se torna peça-chave para o melhor desenvolvimento e aprendizagem, porém a falta desse apoio acarreta consequências.
Felipe Cerqueira enfatiza a importância de uma estrutura familiar para a construção de uma boa saúde mental. “A depressão faz com que a pessoa tenha muitos pensamentos negativos sobre si mesma e sobre tudo na vida. O apoio de entes queridos é essencial para fazer a pessoa depressiva perceber que esses pensamentos não são verdadeiros e enxergar o outro lado, o lado real”, conta.
Acompanhamento psicológico
O tabu para o cuidado com a saúde mental se torna uma realidade devido ao negligenciamento sobre os cuidados emocionais, deixando em evidência a dificuldade em aceitar esse problema por vergonha ou medo da repercussão negativa que pode afetar a carreira.
Avaliando sobre pessoas que resistem ao tratamento psicológico, Carla Albergaria explica a melhor forma de agir nessas situações. Segundo a profissional, a melhor forma de ajudar indivíduos com quadro depressivo é o incentivo na busca por tratamento.
“Grande parte das pessoas perguntam como podem ajudar alguém que esteja passando por um quadro depressivo, e o caminho a ser feito é tentar convencer esta pessoa a buscar tratamento, ou seja, buscar profissionais que cuidam da saúde mental. Na condução com esta pessoa, é importante que ela encontre acolhimento, escuta, espaço para expressar sua dor e sinta que possui rede de apoio”, afirma.
“E assim como é importante se atentar ao que fazer, é também essencial saber O QUE NÃO FAZER/DIZER: qualquer discurso que invalide ou minimize o sofrimento de quem está com um quadro depressivo, não deve ter dito”, garante.
Por fim, Felipe Cerqueira esclarece a melhor forma de lidar com pessoas que tenham pensamentos depressivos. “Esperar o momento certo para falar do assunto com a pessoa e ser presente no dia a dia dela. Ligar, mandar uma mensagem, conversar, perguntar como ela está. Não julgue, não dê sermão e nem banalize”, destaca.