
Terra do futebol, natação, remo e outros esportes, a Bahia também é território do stand up paddle (SUP). Muitos atletas têm se destacado na modalidade, praticada em pé sobre uma longa e larga prancha, em águas com correnteza mais branda. Um dos nomes quem vem ganhando força no SUP é Amanda Lima, de 14 anos.
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Todos os passos (e remadas) de Amanda são acompanhados pelo pai, Leonardo Fonseca, um dos entusiastas do esporte em águas baianas. Ele cruza cidades e estados, com seu carrinho, para acompanhar a garota, que tem colecionado troféus e medalhas.
Foi na Marina Aratu, em Simões Filho, onde Léo e a atleta estavam, no último domingo (23), quando foi disputada a 7ª etapa do Circuito Baiano de SUP, reunindo participantes de todos os cantos do estado, que sagrou a "guria" - como é chamada pelo pai- campeã baiana júnior.

Promessa chega com tudo
Antes mesmo da conclusão da última etapa, todos já sabiam com quem ficaria o título: Amanda Lima Silva. Com pontuação para dar e vender, a garota chegou à última prova com uma vantagem larga o suficiente para entrar no mar com o corpo leve.

Filha de Leonardo Fonseca e Altacira Lima, Amanda dedica a sua vida ao esporte e, claro, aos estudos. A promessa lidera os rankings baiano e brasileiro, com folga, sempre batendo em primeiro lugar.
Com uma vida regida de muito esforço, dieta e treinos, Amanda define o SUP como "esporte do meu coração". "Me sinto muito orgulhosa e realizada por todas as conquistas que eu venho colecionando por todos esses anos. O esporte me trouxe vários aprendizados como trabalho duro, foco, pontualidade e eu almejo chegar longe, chegar ao mundial e ser reconhecida" declarou.
Com o apoio dos familiares, ela precisa seguir uma rotina de muita pontualidade: treinos, pilates e escola. Além disso, durante toda semana, a alimentação é balanceada, conforme recomendação de um nutricionista esportivo, como contou o pai.

Pai coruja e batalhador
Com 42 anos e assistente de departamento pessoal, Léo, como é popularmente conhecido, sobe e desce pelos cantos da Bahia e até do Brasil acompanhando sua cria nas competições. Desde 2020, quando conheceu o esporte através da instituição "Pedra que Ronca", localizada em Itapuã, toda a família passou a viver este mundo com garra e determinação, com o objetivo de realizar o sonho de chegar ao Mundial.

Logo de cara, com os treinos que acontecem três vezes na semana, os pais e o treinador passaram a perceber que a garota leva jeito e, desde 2021, compete, iniciando na categoria kids, e, a partir dos últimos dois anos, compete no júnior.
"Apoiamos ela em todo momento, toda fase, que seja ruim ou boa, estamos com ela. Todas as competições estou presente, fazendo o meu papel de pai, meu papel de apoiador, meu papel de torcedor. Isso não vai mudar", declarou Léo ao MASSA!.
Enquanto minha filha estiver competindo, estiver com sonho, a gente sonha junto. A gente vai realizar juntos. Confiando em Deus, estamos juntos.
Leonardo Fonseca - Pai de Amanda
Do cais, Léo não parou um instante sequer de vibrar, orientar e incentivar a filha dentro do mar. Mesmo quando a distância já chegava a dezenas de metros, o pai coruja seguia aos berros sinalizando o que precisava melhorar.
Quando estava à beira da chegada, remando em primeiro, com uma larga vantagem para a segunda colocada, os gritos continuavam, mas de apoio para concluir bem, chegando com tudo. Além de Léo, Altacira também acompanhava orgulhosa, com os olhos brilhando de felicidade pelo desempenho maravilhoso, mais uma vez.
Momento em que Amanda cruza a linha de chegada:
Depois da conclusão da prova, a adrenalina dá lugar à preocupação. Pergunta se quer água, ajuda a tirar a prancha do mar, carrega o instrumento e a acompanha até o local das frutinhas para que possa recuperar as energias que foram gastas nos 3 km de prova.
É caro, mas dá
Outra dificuldade constante são os gastos. Sem patrocinadores suficientes para bancar a carreira da atleta, os pais, junto com a instituição, une forças para financiar o sonho de Amanda, que precisa de nutricionista, fisioterapeuta, alimentação saudável e materiais de qualidade para que consiga competir em alto nível.
"Realmente é um esporte caro. Hoje para você ter um remo e uma prancha de qualidade são valores expressivos. E assim, por conta dos resultados que ela vem obtendo ainda durante esses anos, fomos contemplado pela Prefeitura de Salvador com o Bolsa Atleta. É um valor mensal que ela recebe durante um período de 12 meses para poder ajudar nos treinamentos e nas competições", disse.
"A gente sabe que é preciso algo a mais. E a gente, como pai, como família, a gente ajuda. A gente paga uma consulta no nutricionista do esporte, coloca ela no treinamento à parte, que é no treinamento de pilates esportivo, justamente para melhorar e condicionar mais ainda a atleta", completou.
Pega no pé com a rotina
Durante a entrevista, Léo detalhou como é toda a rotina de Amanda, da manhã à noite, com horário para cada alimentação, mas com o fim de semana livre para dar aquela relaxada e até comer alguma besteirinha.
Confira a alimentação diária da atleta:
1️⃣ 5h15: shot com glutamina, própolis, gengibre em pó e limão com 200 ml de água;
2️⃣ 6h30: um ovo cozido ou mexido, duas fatias de pão, duas castanhas-do-Pará e um copo de suco de 200 ml;
3️⃣ 10h: 12 castanhas de caju ou uma fruta;
4️⃣ 12h: frango grelhado ou carne, arroz, feijão e salada crua;
5️⃣ 15h: iogurte natural;
6️⃣ 19h: arroz, feijão e a proteína ou colocar o frango/carne no pão;
7️⃣ 21h: fruta.
Toda essa rotina é repetida de segunda a sexta, tendo os finais de semana, especialmente o sábado, livres para comer alguma besteirinha e fazer atividades recreativas, como ir ao cinema, visitar os primos e ir à praia, mas sem o compromisso de pegar a prancha e o remo para treinar.
Treinador não dá vida boa
Idealizador do projeto "Pedra que Ronca", o treinador Edilson Rocha iniciou a instituição há 11 anos e trabalha com crianças e adolescentes de 7 a 16 anos do bairro de Itapuã, em Salvador. No entanto, para poder entrar no mar, é necessário seguir algumas exigências.
Para estar no projeto a gente exige três pilares: o 1º é estar com boas notas; 2º é bom comportamento em casa, já que os meninos estão danados, não quer obedecer pai, mãe, vó, tia, além de ajudar nas tarefas de casa, dobrar uma roupa de cama, varrer o quarto, lavar uma louça; o 3º é frequência no projeto.
Edilson Rocha - idealizador do projeto "Pedra que Ronca"

"Tinha aluno com muita nota baixa. Hoje em dia, está todo mundo com as notas maravilhosa. Temos essa equipe de competição, que é como se fosse um mimo para eles. Está bem nos requisitos, passa para a equipe. Se por um acaso tomar uma nota baixa, sai da equipe, vai estudar, recupera para poder voltar para a equipe", contou.

Quando o assunto é Amanda, o orgulho se transfere do pai e vai para o treinador, que a acompanha desde o início. "Amanda é a segunda mais velha do projeto. Primeiro é Cauã. É uma menina bem disciplinada, faz o treinamento dela correto, está evoluindo bastante. Hoje ela já é a campeã baiana antecipada. Está liderando o brasileiro também", declarou, orgulhoso.
Conheça um pouco mais do SUP
Ligado totalmente à natureza, o stand up padlle deve ser praticado na água, especialmente nos mares e lagoas. Sobre a prancha e com o remo, as provas são divididas por categorias de idade, gênero e nível de competitividade.
Na Marina de Aratu, havia presença de todas as idades, do mais novinhos aos mais coroas. Outra divisão feita é no material da prancha:
➡ Infláveis: feitas com PVC e normalmente utilizada para quem está iniciando no esporte;
➡ Tradicionais: poliestireno expandido, fibra de carbono e resina.
Os competidores registrados na Associação Baiana de Stand Up Paddle (Abasup) -dos amadores aos profissionais- são ranqueados a cada etapa que competem, de acordo com a sua categoria.
Etapas espelhadas pela Bahia
Foram realizadas, na Bahia, em 2025, sete etapas do Circuito Baiano de SUP. Cada edição teve um local do estado como sede. No entanto, a maioria foi centralizada em Salvador e RMS, devido à falta de apoio financeiro e logístico na organização, segundo as palavras de José Augusto, presidente da (Abasup).
A primeira etapa aconteceu em 25 de janeiro e se estendeu até 23 de novembro, se estendendo por 11 meses de muito esforço e dedicação por parte dos atletas, além de comprometimento com a organização para que tudo acontecesse da melhor maneira possível. Ao fim deste período, o competidor que tiver mais pontos se torna o campeão baiano.
Confira onde cada edição aconteceu:
➡ 1ª Etapa, 25 de janeiro: Praia de Buraquinho - Lauro de Freitas;
➡ 2ª Etapa, 15 de março: Morro de São Paulo - Cairu;
➡ 3ª Etapa, 17 de maio: Porto da Barra - Salvador;
➡ 4ª Etapa, 7 de junho: Comércio - Salvador;
➡ 5ª Etapa, 12 de julho: Marina Aratu - Simões Filho;
➡ 6 ª Etapa, 25 de outubro: Marina da Penha - Ribeira - Salvador;
➡ 7ª Etapa, 23 de novembro: Marina Aratu - Simões Filho.
Bahia domina o esporte
Qualquer que seja a categoria, há presença de baianos nas primeiras posições do ranking nacional de SUP, e quase sempre liderando. Como prova do sucesso da Bahia no esporte, o grande nome é David Leão.

Pentacampeão brasileiro e ex-campeão mundial, ele havia conquistado o título em 2024, em Copenhague, Dinamarca. Contudo, neste ano, acabou não conseguindo realizar uma boa prova e não se classificou para a fase final.
*Sob supervisão do editor Jacson Brasil
