
O Dia dos Namorados é uma das datas mais esperadas pelos casais apaixonados e costuma ser a época para exagerar no romantismo, trocar presentes e curtir a companhia um do outro. Mas como será que os profissionais do sexo vivem esse momento? Quais os limites entre trabalho e a vida pessoal? Há sentimento nas relações?
Para responder essas e muitas outras dúvidas, o MASSA! bateu um papo com acompanhantes sexuais e descobriu detalhes, histórias e lembranças de quem ganha o pão de cada dia fazendo amor.
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Paixão foi porta de entrada para o 'job'
O amor é livre e pode surgir de várias formas. Quando o cupido se prepara para flechar alguém, ele não costuma se importar com a ocupação profissional, e foi justamente assim que um garoto de programa (GP), que não quis ser identificado, se apaixonou perdidamente por um rapaz. O que ele não esperava é que esse sentimento seria a porta de entrada para o mundo do ‘job’.
Na época em que o jovem baiano conheceu o pretendente, ele ainda não era acompanhante. Foi a partir da influência do ex-namorado, que fazia programas e o apresentou aos macetes da função, que ele entrou para a prostituição. A história dos dois não deu certo, mas o moço encontrou um caminho que gostou de trilhar.

Para ele, os benefícios financeiros de trabalhar com o mercado do sexo são a principal motivação para continuar. “A vantagem é o dinheiro, pois temos a oportunidade de querer e de ser o que quiser ser pelo dinheiro. Digo isso para quem é de classe baixa, tem conforto e o cuidado de si próprio”, declarou.
Apesar do lucro, o moço já passou por algumas situações inusitadas ao longo dos anos e até deixou os sentimentos falarem mais alto do que a razão. “Já me apaixonei e às vezes os clientes se apaixonam por mim e me chamam várias vezes”, revelou.
Quando ele teve uma paixão ardente por um cliente, o romance não foi para frente, pois tanto ele quanto o homem estavam envolvidos em outras relações. Encurralados, a única opção dos dois foi romper vínculos: “Eu tinha uma pessoa que estava sofrendo e ele também, então não virou algo sério”.
Outro caso curioso aconteceu durante um programa com um casal estrangeiro. Um dos fregueses trocou mais carícias com ele do que o outro, gerando uma discussão por ciúme. O clima ficou tenso e o moço acabou nem dando continuidade à relação sexual grupal e foi para casa antes dos ‘finalmentes’.

“Eram um casal, um gostou mais e ficou me beijando e dizendo que minha pele é linda, ele era gringo. O namorado dele não gostou e falou que eu precisava ir embora e que ele iria chamar meu Uber lá embaixo. No final, ele me pagou e eu fui sem fazer nada”, relembrou ele.
De coração aberto, o garoto de programa contou uma parte pouco falada sobre a rotina de quem se lança nessa vida e encara os desafios de fazer sexo em troca de dinheiro.
“Falta tempo para ver a família, o dinheiro vem fácil e vai fácil, tem desgaste emocional, carência, exposição, ansiedade e depressão. Tenho medo do futuro e das coisas que temos que passar”, desabafou.
Ele ainda acredita no amor

Sonhador e carinhoso, ele não desistiu do amor e resolveu dar mais uma chance para as emoções. Desta vez, o parceiro atua em outra área e não tem ligação alguma com a vida de acompanhante sexual. Porém, essa diferença trouxe alguns problemas para a relação, especialmente o ciúme.
“Estou em um relacionamento com uma pessoa que não é GP e é complicado, pois não consigo conciliar isso. Nós já conversamos muito sobre isso, mas acho que ele não aceitaria e não se sentiria bem se eu sair de perto dele numa noite de sábado pra ficar uma hora com cliente, pois só nos vemos aos finais de semana, porque ele faz faculdade”, revelou.
Enquanto faz encaixes na agenda e se organiza para que o namorado não se sinta dividido, ele idealiza o momento em que possa estar totalmente livre para uma relação séria: “Eu sempre acredito num futuro melhor para minha vida, eu quero amar e ser amado”.
Dores e delícias de viver do prazer
Ao contrário do colega de profissão, a morena discreta, que também preferiu não expor seu nome nesta matéria, não consegue colocar tanta fé no amor para o caso de pessoas que trabalham com a prostituição. Ela já casou e teve um outro namorado quando era mais nova, mas o tempo colocou um sabor amargo nas relações e impregnou o coração dela com um vazio de sentimentos.
“Eu já acreditei muito no amor, porque, no início da minha juventude, eu acabei me casando muito cedo. Creio que o meu primeiro relacionamento foi com o homem da minha vida, principalmente por eu ser uma mulher trans que teve a ajuda desse parceiro a me reconhecer como sou hoje. A gente conviveu quatro anos, depois eu tive um novo relacionamento. Também existiu muito amor, mas infelizmente acabou passando”, confessou.
A acompanhante transexual está solteira há oito anos e já não tem esperança de encontrar alguém que desperte a doçura da paixão: “Eu não consigo mais nutrir nenhum sentimento verdadeiro, principalmente depois que a gente entra nesse ramo de conteúdos adultos e de acompanhante, as relações ficam muito mais artificiais. Hoje em dia, no meu caso, eu costumo ver homens como uma fonte necessária de dinheiro. Então, o mesmo pensamento que geralmente eles têm com a gente de ser apenas um desejo sexual, eu vejo eles apenas como um desejo financeiro”.

É aquela troca: eu te uso, você me usa. No meu caso, ele me usa e me paga, e assim a gente vai tendo essa relação
A frieza do coração aqueceu o lado profissional da morena. Totalmente focada em trabalhar, ela só se relacionou pelo próprio prazer com colegas do ramo, esporadicamente, pois eles compreendem e respeitam os interesses dela.
“Sempre procurei ter tipo de relações avulsas com pessoas que fossem da mesma classe que eu, da mesma categoria de trabalho, porque quando eu me relacionava com essas pessoas não era algo duradouro, ou pelo menos era algo que poderia acabar complementando dentro dessa área de trabalho”, explicou.
Grande aventura sexual

A morena discreta não ganhou esse apelido à toa. Preocupada em não revelar a real identidade e nem expor os clientes, ela criou estratégias para deixar os programas cada vez mais sigilosos.
“Eu sempre mantive uma discrição muito grande do meu trabalho, sempre fui muito correta, discreta, e a maioria dos meus clientes também. Eu sempre exigia encontros em lugares que fossem seguros e que fossem fáceis de despistar qualquer tipo de ameaça tanto ao meu cliente quanto a mim”, comentou.
Uma das suas maiores cartas na manga está relacionada ao local do serviço: “Eu sempre pedia para que o meu cliente alugasse um quarto para mim e um quarto para ele no mesmo andar dos hotéis onde a gente se encontrava, porque eu nunca me encontrei em motéis. Então, eu ficava no meu quarto, em algum hotel, e o cliente também ficava em algum outro quarto. Mediante a isso, a gente acabava se encontrando em um dos dois”.
Mas, por ironia do destino, houve um programa em especial que fez a morena sair dos trilhos e experimentar o que ela nunca havia vivido com nenhum outro cliente. A jovem foi contratada por um artista bastante conhecido e que ela já era fã. O amor de admiradora trouxe uma perspectiva completamente nova e desafiadora para ela.

“Antes de ter esse cliente, que é um artista muito famoso, eu já era apaixonada por ele e acabei tendo a oportunidade de me relacionar com ele como cliente, mas não teve a recíproca. Mas, de qualquer forma, foi muito interessante essa experiência para mim”, relembrou.
No mais, ela acredita que nenhum homem com quem se relacionou de forma profissional teve sentimentos por ela.
“Creio que eu não tenha nenhum cliente que se apaixonou assim por mim, porque eu acho que eu limitei a minha abertura a apenas esses momentos rápidos de trabalho, nunca deixei evoluir a mais do que o profissionalismo, então se houve esse sentimento por parte deles, eu não consegui perceber”, finalizou.