
O Cine Glauber Rocha, no Centro de Salvador, ficou pequeno, ou melhor, minúsculo para a pré-estreia de 'O Agente Secreto', filme escolhido pela Academia Brasileira de Cinema para representar o Brasil no Oscar 2026. Sob aplausos e muita comoção, Wagner Moura e Kleber Mendonça Filho receberam o público, amigos e a imprensa para lançar o longa em terras baianas.
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O evento lotou todas as quatro salas do Cine Glauber Rocha e contou também com a presença da produtora do longa, Emilie Lesclaux, e da atriz Alice Carvalho. Daniela Mercury, o vocalista da BaianaSystem, Russo Passapusso, Tânia Tôko, e a jornalista Val Benvindo também estiveram entre os convidados que prestigiaram o elenco.
O clima de celebração foi completo quando O Kannalha subiu ao palco e cantou ‘O Baiano Tem o Molho’, canção que o público das redes sociais adotou como hino de Wagner Moura. A plateia acompanhou, transformando a noite de cinema em uma verdadeira festa da cultura baiana.
O cinema como espelho da liberdade
Em entrevista exclusiva ao Cineinsite A TARDE, Kleber Mendonça Filho opinou sobre diretores brasileiros que se inspiram em cineastas de Hollywood, e defende inspiração sem perder a autenticidade e espírito único brasileiro.
“Eu acho que, se você pegar ingredientes que podem ser da China, do Canadá, dos Estados Unidos, da Bahia e da Índia e fizer o seu filme, o seu livro, a sua música, não tem nenhum problema. O problema é quando você copia outro artista, porque é necessário ter o coração e a personalidade”, afirmou o diretor.
A declaração acompanha o espírito de O Agente Secreto, um thriller político ambientado em 1977 que acompanha Marcelo (Wagner Moura), um professor de tecnologia que foge de um passado violento em São Paulo e se muda para Recife em busca de paz. Ao longo da trama, ele descobre que o caos e a vigilância o seguem, refletindo um país em ebulição.
O filme, vencedor dos prêmios de Melhor Direção e Melhor Ator no Festival de Cannes, estreia oficialmente nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, 6 de novembro.
Salvador como ponto de encontro
Durante a conversa, Kleber não escondeu o carinho pela capital baiana. “Para falar a verdade, é como estar em casa de novo. Eu adoro vir a Salvador, adoro o Glauber Rocha, e tenho uma relação de amizade com o Cláudio Marques e Marília Hughes [diretores do cinema] há 20 anos”, contou.
Refletindo sobre o processo criativo, Kleber falou sobre a essência de seu cinema: “Eu acho que o melhor filme é a união de tudo que você juntou na sua vida. Mas é uma mistura complexa”. Para ele, cada obra nasce do acúmulo de experiências e da observação constante do mundo.
Cinema, democracia e futuro
Wagner Moura, que interpreta o protagonista Marcelo, falou com emoção sobre o retorno à sua terra natal. “Não só porque eu sou daqui, porque eu amo Salvador, minha cidade, mas porque Salvador é uma cidade muito importante — principalmente na sua história e na história do cinema”, destacou.
O ator se disse surpreso ao descobrir o protagonismo local na ocupação das salas de exibição. “Salvador, proporcionalmente, é a cidade que tem mais ocupação de salas do cinema nacional. Esse é um dado que eu não sabia, e eles me disseram… eu fiquei com orgulho da p*rra”, brincou.
Além de celebrar o sucesso do filme, Wagner refletiu sobre o momento atual do cinema brasileiro.
“Eu avalio o momento do cinema nacional como muito positivo. Acho que o cinema da Bahia caminha junto com o cinema do Brasil — e ambos caminham junto com a democracia do Brasil. O fato é que a gente reconquistou uma situação de mais democracia, e democracia implica em cultura. Em cultura livre e arte livre”, afirmou.
Para Kleber Mendonça Filho, o cinema é um organismo em constante renovação. “No futuro, se jovens cineastas brasileiros virem inspiração nos meus filmes, isso é maravilhoso. Mas espero que eles desenvolvam coisas novas, sentimentos novos. É isso que eu quero ver”, afirmou.
Veja o vídeo:
*Sob supervisão da editora Bianca Carneiro
