
Em um café da manhã especial realizado na manhã desta sexta-feira (11), na sede do grupo no Pelourinho, o Afoxé Filhas de Gandhy, primeiro afoxé feminino do Brasil, lançou oficialmente sua nova logomarca e o enredo para o Carnaval de 2026. Intitulado "Orisà Ayàn nos abençoou", o tema presta homenagem ao orixá que representa o som, a festa e a espiritualidade dos tambores, resgatando histórias de resistência e reverência à percussão ancestral.
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A apresentação foi conduzida por Silvana Magda, gestora e produtora institucional do Afoxé, que compartilhou a inspiração por trás da escolha do tema. “Eu sou devota da percussão. Deixei o balé clássico para viver a dança afro porque o tambor me chama para um lugar que nem sei explicar. E, até hoje, nunca vi o tambor ser reverenciado como divindade. Orixá Ayàn é o deus do som, do tambor, e isso precisa ser celebrado”, afirmou.
Ao abordar a trajetória das Filhas de Gandhy, Silvana destacou o papel de resistência que o grupo desempenha, especialmente em um contexto onde o machismo estrutural ainda limita a atuação das mulheres, inclusive na música e na religião. “Tocar tambor sempre foi um desafio para as mulheres. Até hoje, há resistência à contratação de mulheres percussionistas. Nossa saída no Carnaval será uma grande saudação a Ayàn, uma forma de retribuir tudo que o tambor representa em nossas vidas”, explicou.

A proposta é unir culturas e ritmos de diferentes continentes, África, Ásia, Europa, América e Brasil indígena, em uma celebração ao som ancestral, simbolizado por tambores sagrados de várias partes do mundo: o Batá africano, a tábla indiana, os tambores xamânicos europeus, o AP indígena brasileiro e os atabaques rum, rumpi e lê do candomblé. “Cada instrumento traz a energia de um povo, de uma cultura, de uma divindade”, acrescentou Silvana.
A nova logomarca do grupo foi criada pelo artista plástico Zaca Oliveira, em colaboração com Silvana Magda e Camila Oliveira. A imagem representa uma baiana de braços abertos, envolvida pelos atabaques e símbolos modernos, como o ícone de Wi-Fi. “A ideia é transmitir acolhimento e expansão do som para o universo. A marca tem alma feminina, foi construída a muitas mãos e com muito respeito ao sagrado”, explicou Zaca.
Para Marta Góes, diretora de Relações Públicas das Filhas de Gandhy, o novo tema carrega uma missão cultural e espiritual. “Estamos trazendo à avenida um deus desconhecido por muitos, até por nós mesmas. Esse conhecimento chegou até nós pela Silvana e transformou nosso entendimento sobre o que significa tocar tambor. É desafiador, mas extremamente gratificante”, afirmou.

Segundo ela, o desfile de 2026 promete ser um dos mais marcantes da história do grupo. “As Gandhy vêm crescendo, tomando seu lugar de fala na avenida. Vamos surpreender com um tema forte, educativo e visualmente impactante. Será o melhor desfile das nossas vidas.”
Silvana reforça que o compromisso das Filhas de Gandhy vai além do entretenimento. “O Carnaval é uma vitrine cultural. Temos a responsabilidade de contar histórias, ensinar nossa herança. Não é só serpentina e fantasia. É resistência, ancestralidade e educação através do som”, concluiu.