
O Dia das Crianças se aproxima, e com ele vem a missão dos pais de escolher o presente ideal: um que não só agrade, mas que também contribua para o desenvolvimento. No meio de tanta tecnologia, o grande dilema das famílias é justamente este: como presentear bem e, ao mesmo tempo, driblar o uso excessivo de telas para garantir uma infância mais lúdica e menos digital?
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A influenciadora baiana Rebeca Lemos, conhecida entre o público como Bequinha (@beqinha no Instagram), abriu o jogo sobre o problema que viveu dentro da própria casa e os frutos negativos que colher por ter apresentado o tablet e o celular cedo demais para a filha mais velha, Melinda Alice, de 4 anos, notando que a exposição à internet estava "adultizando" o comportamento da menina e tirando o brilho das brincadeiras típicas da infância.
Em entrevista ao Portal MASSA!, a blogueira de Salvador abriu o coração sobre o arrependimento de ter exposto a garotinha às telas tão cedo e contou o que tem feito para reverter esse quadro.
O primeiro tablet da menina foi presente de aniversário dado pelo padrinho, seguido de um celular que a própria influencer comprou para ser mais prático de guardar durante passeios em família. “Com um ano, ela já foi ganhando toda a tecnologia possível que existia”, relembrou.
Com o tempo, Rebeca notou que o uso excessivo de dispositivos estava afetando o comportamento da filha. Os interesses da pequena Melinda estavam cada vez mais adultizados. Ela preferia conversar com adultos do que brincar com outras crianças e adorava falar sobre assuntos de maquiagem e cabelo, como uma adolescente.

Para correr atrás do prejuízo e ajudar a filha a viver a infância em plenitude, Rebeca decidiu matriculá-la em um colégio de tempo integral para que ela convivesse por mais tempo com pessoas da mesma idade e tivesse acesso a esportes e atividades divertidas longe do celular.
O resultado já é perceptível. “Sinto mudança e também tenho o feedback da professora. Hoje ela quer brincar, ela senta com as amiguinhas, inventa coisas, vai para o parque de areia... já aceita brincar e voltar à infância”, comemorou.
Filha caçula está sendo criada de outra forma
Mamãe coruja, Bequinha afirmou que “aprendeu com os erros” e já tem colocado a lição em prática na criação da filha mais nova, Melissa, de apenas 1 aninho. No momento, a única tela a qual a bebê tem acesso é a da televisão e de forma muito regrada, apenas para ouvir músicas e ver desenhos educativos.

“Quando a gente tem a criança dentro de casa não tem uma babá, às vezes a televisão é o que nos ajuda, né? Então ela assiste televisão, mas não demais. Ela gosta mais de ouvir e fica brincando com os brinquedinhos, dançando. É muito mais leve, não tem acesso ao celular, ao tablet, nada disso”, disse.
Atualmente, as irmãs interagem bastante e gostam de brincar juntas. Entre os objetos preferidos das meninas estão bichinhos de pelúcia, livros de historinha e o livro de colorir queridinho do momento, Bobbie Goods.
Como tirar meu filho das telas?
Assim como a blogueira Rebeca Lemos conseguiu, os pais dispostos a mudarem o quadro de acesso sem limites ao celular, tablet, videogame e televisão também podem conseguir. O apoio e direcionamento do adulto nesse processo é essencial para auxiliar a garotada.
A psicopedagoga Deiseane Fagundes alertou para a gravidade da situação: “As crianças que vivem muito imersas nas telas têm uma série de prejuízos, tanto socioemocionais quanto n desenvolvimento cognitivo. É um processo que a gente precisa ficar em alerta”.
Ela pontuou que o primeiro passo é ser exemplo. “O que a gente convoca os pais a fazerem? São dois caminhos: Primeiro, oferecer tempo de qualidade para essa criança e isso passa pelo exemplo! Não adianta a gente solicitar que o adolescente ou que a criança não fique imerso nos eletrônicos, se toda a família está todo aquele tempo imersa também”, disse.
A profissional sugeriu opções gratuitas ou baratas para ter esse momento juntos: “Oferecer um esporte, fazer com que a criança participe dessa escolha de um esporte, levar a um parque, uma praia, ter o contato com a natureza, proporcionar dentro de casa momentos coletivos de lazer, como um cineminha para todo mundo, um teatrinho que a gente usa o lençol ou a cortina... a gente pode utilizar o momento do almoço para conversar à mesa”, sugere.
O segundo passo é estabelecer combinados e fazer a retirada gradativa das telas. “Nesse primeiro momento, para uma criança que está muito voltada para as telas, não é indicado que essa retirada seja total, porque existe ali um sistema neurológico que está comprometido. Então, é possível que essa criança tenha ali crises de abstinência, fique muito nervosa e não consiga se organizar emocionalmente”, explicou ela.
Por fim, a psicopedagoga sugeriu que os pais direcionem os filhos a fazerem a higiene do sono, desligando as telas pelo menos 1 hora antes de ir dormir, nunca os deixem passar a madrugada no celular, monitorem o que eles estão vendo na internet e introduzam mais brincadeiras na rotina deles.
“Tem uma frase de Rubem Alves que eu gosto muito, que ele diz que a gente não para de brincar quando envelhece, a gente envelhece porque para de brincar, e isso é muito interessante. Com o passar do tempo a gente vai deixando de manipular os objetos, de lidar com o espaço, de ver de maneira lúdica o espaço em que a gente convive”, concluiu.