
Um pivete da Federação virou holofote na cena do rap, chamando atenção com um estilo totalmente diferente da maioria. Essa é a história de Igor Lima, de 28 anos, mais conhecido como Dupê. Ele batalha desde 2018 para conquistar seu espaço, mas só agora ganhou destaque nacional, com direito a mais de 460 mil seguidores nas redes sociais, além de feats de peso, como a parceria com Pabllo Vittar, além de hits estourados no streaming.
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Suas músicas misturam rap, forró, rock, piseiro, trap e arrocha. E essa mistura não veio do nada: Dupê nasceu em uma família de artistas, em Canavieiras, no litoral sul da Bahia, como conta o próprio artista em entrevista ao Portal Massa!.
“Minha família já é uma família meio artística, porque meu avô é músico. Por parte de mãe. Ele é de Canavieiras, toca teclado e tal. Então, desde pequeno, eu sempre cresci com esse bagulho meio artístico. Minha bisavó, que já faleceu, era pintora e poetisa também. Inclusive, eu tenho um livro de poesia dela até hoje”, contou.
A música e o caos
Com esse ambiente artístico, era natural que Igor se aproximasse da música. Entre batalhas de rap e experimentações, ele também enfrentou uma fase de revolta com o sistema, agravada por problemas familiares. A música virou válvula de escape e ferramenta de crítica. Ali surgia o embrião do que hoje é o Dupê.
“Ali no final da adolescência, com uns 18 anos, eu comecei a ficar muito revoltado com tudo. Coisa normal, revolta com o sistema, coisa da idade. Nessa época minha mãe começou a desistir de ser professora porque ganhava mal. Ela começou a ter problema com álcool, ficava desempregada… Eu tinha acabado de sair da escola, tentando fazer faculdade. Foi um bolo de coisas acontecendo que começaram a me dar raiva. E qual é o gênero musical da raiva? É o rap.”

Tentando se encontrar
As coisas ficaram ainda mais difíceis quando os problemas da mãe se intensificaram e Igor acabou sendo expulso de casa. Em vez de desistir, decidiu que ia virar artista “na marra”. Mergulhou de vez nas batalhas de rap e criou o Coletivo Capitães de Areia, grupo formado por ele e outros MCs que rimavam dentro de ônibus em Salvador.
“Eu fui expulso de casa e falei: ‘Vou ser artista’. Aí briguei, fui expulso, fui morar com minha ex. Minha mãe com problema de álcool, eu querendo ser artista, todo mundo brigando… Aí vai embora de casa, quebra tudo, foi tipo isso, basicamente. Eu entrei no rap assim. Fui morar com minha ex, e nessa época eu participava de batalha de rima. Isso foi 2018. Em 2017 eu tinha decidido fazer rap, aí em 2018, quando fui expulso mesmo, eu colava muito em batalha e criei um coletivo de poesia, o Capitães de Areia, que era eu e meus amigos MCs daqui de Salvador, fazendo poesia nos ônibus”, contou, rindo, apesar dos B.Os do passado.
Inspirações
Dupê já lançou três EPs, o 'Cangaço Sessions', misturando pop, rock e forró. Ele ainda revelou que quer lançar um álbum inspirado em animes, como homenagem ao público geek.
Ele também explicou de onde vem tanta originalidade. “Minha mãe ouve rock desde quando eu sou pequeno. Desde quando eu sou pequeno, ela e o namorado dela, que foi o namorado que foi a maior parte da minha infância, era ela com esse namorado. E ele era muito rockeiro, tá ligado? E ele ouvia muito Red Hot, Pearl Jam, Guns. E além disso, na escola, com meus amigos, eu ouvia muito rap, tá ligado? Então, tipo assim, rap e rock sempre foram os gêneros que mais influenciaram minha vida. E, mano, música pra mim, e arte em geral, é a minha motivação. É o que eu gosto. É o que eu curto fazer.”
“A arte pra mim é como se fosse o alimento pra minha alma. Tinha uma época que eu era viciado em Black Eyed Peas. E Black Eyed Peas também era um grupo de rap que misturava com rock e com outros bagulhos assim. E eu lembro que eu ouvia uns bagulhos, mano, e eu me sentia muito foda. Inclusive, até hoje tem umas músicas que, quando eu quero me sentir foda, eu coloco de Black Eyed Peas.”
Baiano, Dupê começou fazendo pagotrap, misturando pagodão com trap — e levando a cena para fora da Bahia.
“Procure quem é que fazia pagotrap. Óbvio que tinha algumas pessoas, tá ligado? Mas, mano, não era um bagulho famoso, tá ligado? E em 2018 eu levei Japa, que era o percussionista do Baiana System. Meu antigo empresário levou eu e ele pra São Paulo pra gente gravar com Pedro Loto. E lá a gente fez três músicas: Roma Negra, Serpente Serpentina e Choro de Xangô. Que foram tipo assim... Os primeiros pagotrap, pagotrapzão, que foi beat de Loto com percussão de Japa.”
Estouro repentino
Depois de anos tentando estourar, foi em 2025 que tudo virou, graças a um meme. A música “Te Amo, Te Odeio / Eu Sinto Shadow”, que usa sample de “Lucid Dreams”, viralizou do nada, por um motivo inusitado.
“Eu lancei Te Amo, Te Odeio, não sabia da existência desse Shadow. Só que começou a viralizar e foi a faixa do álbum que mais estava dando visualização, muito porque a galera começou a viralizar por causa do meme do Shadow. Tá ligado? Aí eu fui pesquisar. Aí eu vi que teve um YouTuber, que é Young Lixo, que não está nem mais na ativa, mas ele fazia esses trap de besterol, de brincadeira, tá ligado? E ele fez uma paródia de Juice WRLD, dessa música. Falando do Sonic. E ele tem um álbum, que é o Sonic Anthem. Que é tipo um álbum todo só falando idiotice, só besteira. Aí tem uma parte que ele: ‘eu sinto Shadow no meu c*’. Aí a galera pegou essa parte e ficou pedindo pra fazer em cima do forró. Aí eu fiz o vídeo e estourou muito”.
Dupê foi rápido e surfou o hype, lançando clipe, fazendo vídeos e movimentando as redes.
Feat com Pabllo Vittar
O hype rendeu frutos. Dupê foi chamado para participar da música 'Ceia', com Pabllo Vittar, com clipe prestes a ser lançado.
“A galera ficou achando que ela apareceu por causa do Shadow, mas nem foi. Eu já estava falando com ela antes. Foi papo de vários tiros certos ao mesmo tempo. O produtor dela, Gorky, já estava me sacando e acompanhando minhas músicas. E ele estava fazendo esse projeto de Natal com ela. E ele me chamou. Aí ele falou comigo sobre esse projeto. Falou: ‘a gente quer lançar um projeto de Natal e queria chamar você e tal’. Eu achei, a princípio, que era até para eu escrever para ela, não sabia que era feat. Só depois eu fui entender.”
Parceria com o Bahia?
Torcedor fanático do Bahia, Dupê estava no estádio no acidente da Fonte Nova, em 2007. Ele não esconde o desejo de um dia colaborar com o clube.
“Eu estava lá no dia do acidente, eu vi, no final do jogo, que tinha um espaço que ninguém tava perto. Tipo um buraco assim na torcida. Aí depois a gente descobriu que caiu o estádio. Eu vi muito jogo do Bahia na Série C. E eu tô nesse bagulho de regional, né? Tá ligado? De trazer o forró. De mostrar que eu sou nordestino. Mostrar que eu sou baiano. De misturar. Então, tipo assim, eu tenho um apelo regional muito forte. Então, ser torcedor de um time nordestino pra mim é muito importante, mano. É como se eu estivesse vestindo uma camisa do bagulho.”

Estilo sempre presente
Além da música, o estilo único também virou marca registrada: balaclava, streetwear e visual de trapstar, mesmo cantando forró.
“Todos nós, artistas, a gente quer ser o pic* das galáxias. Então eu sempre quis inventar. Esse lugar de ser um inventor de algo é um bagulho que eu acho que todo mundo procura, tá ligado? Eu pensei em fazer uns clipes de balaclava com um bocado de amigo de corrente. Todo mundo de balaclava aparecendo, uma gangue, um bagulho de trapzão. Os caras com cara de bandidão, tá ligado? Muito rap, muito rap. Aí você acha que ele vai cantar tipo um rapzão pesado. Mas na hora que vou cantar, é uma musiquinha de romance.”

