
Celebrando sua XXI edição, o Cortejo Nacional da Poesia na Bahia trouxe, nessa sexta-feira (14), uma grande novidade: uma feira literária e sarau na praça Castro Alves em Salvador, com foco em editoras e artistas baianos independentes. A ação ofertou diversos fazeres poéticos e manteve viva a memória do povo baiano, trazendo aos holofotes a poesia livre e para todos sem diferenciar as posições sociais.
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A história do Cortejo é rica e antiga, contando com diversos nomes importantes. Douglas de Almeida, 69 anos, é o fundador do projeto e como outros poetas dizem “Douglas chama e a gente vai atrás!”. “O público na rua é diferente, tira a ideia do elitismo e abrange a todos que estão ali, presentes”, revela o poeta com certo saudosismo.
Com 45 anos na poesia, Douglas conta como ela transformou sua vida, enquanto escritor, enquanto performista e enquanto produtor cultural. Além do cortejo, ele ainda tem o “percursor” para tudo, um bloco de Carnaval chamado de “Boca de Brasa”, que começou a sair em 1996, levando a poesia, a arte e literatura pelas avenidas da cidade nesse momento de intenso caldeirão cultural.

Nosso entendimento é que há poesia em todo lugar, e dessacralizar a literatura que é algo muito elitizado ainda. A literatura é uma expressão artística igual teatro, a música e a dança.
Fundador do Cortejo Nacional da Poesia na Bahia Douglas de Almeida
Ainda cedo, a praça já se encontrava cheia de admiradores e curiosos com a movimentação. Fossem em olhares de cantos ou chegando mais perto das estantes para observar os livros, o clima de animação se fez cada vez maior, com mais aclamação.
A ação, organizada por coletivos de poetas, contou com o apoio da Fundação Cultural do Estado, Fundação Pedro Calmon, Secretaria da Promoção da Igualdade Racial, Secretaria do Trabalho, Emprego e Renda, APLB e Fundação Gregório de Mattos.
Entre os apoiadores, o próprio Douglas dá um destaque especial à biblioteca Infantojuvenil Betty Coelho, de onde é diretor, e aos colégios municipais e estaduais, que há anos saem junto ao cortejo pela manhã, este ano com a entrada de outro estadual, Teodoro Sampaio, totalizando quatro colégios.
“Estar representando Carolina Maria de Jesus em um 14 de março é uma honra. Poder mostrar para as pessoas tanto Carolina em performance quanto também na poesia”, detalhou Jeanne Sánchez, poeta e atriz, intérprete nessa edição.
A artista ainda traz um foco muito grande na resistência do brasileiro, do povo preto e da poesia, um gênero literário que perde muito de seu valor nas vistas da sociedade frente a outros. “O evento é mais que um de ‘artista para artista’, ele inclui escolas municipais e estaduais e é muito importante que eles já conheçam desde cedo esses poetas, esses escritores”, completou.

Artevista, Marcos Peralta é quem dá a vida ao grande poeta Castro Alves no cortejo. O artista tem 24 anos interpretando o poeta e é um dos promotores do Coletivo Poetas Além das Sete Praças.
“É um movimento amplo, rico e intenso de poder se chamar o ‘Dia Nacional da Poesia’, de poder homenagear além do Castro outros artistas que nasceram no dia 14 de Março como Carolina Maria de Jesus, e o nosso Glauber Rocha! Afinal ainda estamos aqui”, concluiu o grande ator trazendo uma referência ao filmes de mesmo nome.
Entre os estandes e diversos poetas, o movimento exploesia é um grande destaque. O grupo, que tem 10 anos, conta com mais de 40 poetas mulheres, que se apresentam mensalmente em diversos locais da cidade, recitando seus textos autorais.

“A história das mulheres na literatura, elas sempre ficam de escanteio, os homens sempre ficam à frente e então era a hora das mulheres serem protagonistas e terem um lugar de abrigo para elas”, destacou Vitória Régia Sampaio.