No Dezembro Vermelho, mês de conscientização sobre o HIV e a AIDS, discutir a vida sexual de pessoas vivendo com o vírus é essencial para derrubar mitos e combater o preconceito.
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Com os avanços da ciência, a realidade de quem convive com o HIV mudou drasticamente desde os primeiros casos da epidemia, o que marcou a memória de muitas pessoas, que lembram bem o qual devastadora foi a 'chegada' da doença.
Apesar dos receios, atualmente, com tratamento adequado, é possível ter uma vida sexual ativa, segura e sem risco de transmissão. Para explicar como isso é possível, o MASSA! conversou com o médico infectologista Thiago Cavalcanti (RQE 12770), que detalhou como funciona a convivência com o vírus.
Vida sexual segura é possível
"É possível sim uma pessoa com HIV ter uma vida sexual ativa e segura. Isso é um mito que se formou muito em decorrência do passado relacionado à doença, quando ela emergiu e a gente não tinha um conhecimento satisfatório", afirma Thiago.
Hoje, com o uso correto do tratamento antirretroviral, pacientes com carga viral indetectável não transmitem o vírus, mesmo em relações sexuais com parceiros soronegativos.
Além disso, o infectologista reforça a importância do uso de preservativos, que não só previnem o HIV, mas também protegem contra outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs).
O preservativo ainda hoje é recomendado, principalmente para pessoas com múltiplas parcerias ou que não conhecem adequadamente seu parceiro.
Thiago Cavalcanti (thiagocavalcanti.infectologia no Instagram)
Carga viral indetectável: um marco na prevenção
Um dos avanços mais significativos no combate ao HIV foi a comprovação de que pessoas com carga viral indetectável não transmitem o vírus.
"Hoje a gente sabe, através de estudos muito robustos, que pessoas em tratamento regular, com carga viral indetectável, não transmitem o vírus", explica o médico. Esse conceito, conhecido como I = I (Indetectável = Intransmissível), é uma das maiores conquistas na luta contra a epidemia.
No entanto, apesar desses avanços, o estigma em torno do HIV persiste. "Canso de ouvir relatos de pacientes que perderam parceiros ou foram maltratados após revelarem o diagnóstico", conta Thiago.
Ele enfatiza ainda que o preconceito é alimentado pela falta de informação. "O HIV não é mais o bicho de sete cabeças que já foi. Temos tratamentos altamente eficazes que permitem às pessoas viverem de forma harmoniosa".
Saúde mental de quem convive com a doença
O diagnóstico de HIV pode ser devastador para a saúde mental. "Muitos pacientes entram em depressão ou até tiram a própria vida ao receber a notícia. O estigma pesa mais do que o próprio vírus", relata Cavalcanti.
Já atendi pacientes que nunca mais se relacionaram após o diagnóstico. É algo que afeta profundamente a vida de uma pessoa.
Thiago Cavalcanti
Para mudar essa realidade, a disseminação de informações é crucial. "Precisamos que a sociedade entenda que hoje o portador do vírus, se estiver em tratamento, não transmite o HIV. Combater o estigma é tão importante quanto tratar a doença", finaliza o infectologista.