
Com o desafio de enfrentar a evasão escolar, a Secretaria da Educação do Estado da Bahia (SEC) lançou, no início de agosto, a Semana da Busca Ativa Escolar, parte da campanha Voltaê!, que visa identificar, acolher e reintegrar crianças e jovens fora da sala de aula.
No Colégio Carlos Marighella, em Salvador, a ação encontrou ressonância no trabalho já desenvolvido pela equipe gestora. A vice-diretora da unidade, Jaqueline Pinto, falou sobre a importância de iniciativas que olham para além do ensino tradicional.
Leia Também:
"Desde a pandemia, vimos uma queda significativa no número de estudantes, principalmente no ensino médio [...]. A evasão foi muito forte nesse período", contou a educadora.
Muitos precisaram trabalhar para ajudar em casa, outros perderam familiares e a motivação.
Jaqueline Pinto

Para além de um cenário complicado como o da pandemia, os fatores mais determinantes para a fuga da escola, explica Jaqueline, estão relacionados ao trabalho precoce, dificuldades financeiras e violência nos territórios. "Muitos meninos assumem responsabilidades cedo demais, são cobrados pela família a trazer renda. Chegam exaustos à escola, já sem energia para os estudos", disse.
Depoimento de quem tem lugar de fala
Gustavo Soares tem 19 anos e está cursando o 3º ano no Colégio. Ele chegou a ficar afastado da escola, e conta porque voltou. “A vida privada tem dinâmicas que afetam o emocional, o psicológico, e isso impacta na escola e nas notas. Ai desestimula cada vez mais, você começa a a faltar um, dois dias, e quando vê já faltou por quatro meses”, disse.
Mas quando as coisas da vida pessoal pioraram, eu entendi que o único meio viável de mudar aquilo era estar na escola.
Gustavo Soares, estudante

Franciele Noronha, de 18 anos, é uma aluna que nunca evadia da escola, mas que conta que é um desafio diário se manter nesse caminho, e para isso conta com o apoio da comunidade escolar. "Quando penso em não vir, penso que preciso persistir para continuar. Porque quando as coisas não vão bem na vida fora aqui, a escola é o único lugar que tenho para fugir desses problemas e posso ser quem eu sou", disse.
A escola é o meu lugar de descanso e de paz.
Franciele Noronha, estudante
Educação é o caminho
Segundo a vice-diretora do Carlos Marighella, a busca ativa para trazer esse aluno de volta à escola funciona a partir de um acompanhamento direto, junto à família.
“Quando percebemos que um aluno começa a faltar sem apresentar justificativa, já acionamos o contato com a família. Se necessário, fazemos visitas às casas. É um processo de escuta, de entender o que está afastando aquele estudante da escola e de oferecer alternativas para que ele volte”.

Apesar do quadro, Jaqueline vê caminhos de transformação. Ela destaca o papel de cursos técnicos, projetos culturais e esportivos como alternativas que mantêm os jovens engajados.
Quando o aluno percebe que pode sair da escola com uma profissão, ele volta. O ensino técnico tem trazido muitos de volta para a sala de aula.
Jaqueline Pinto
Para Jaqueline, manter crianças e jovens na escola é uma responsabilidade coletiva. “Não existe um lugar melhor e mais seguro para um jovem estar do que na escola. A escola hoje tem recursos, tecnologia, alimentação e oportunidades de crescimento. Não podemos desperdiçar isso”.