Na Bahia, o acarajé é mais do que um simples prato, é um símbolo de resistência, tradição e cultura. Diante desse cenário, uma nova versão desse ícone baiano tem ganhado cada vez mais popularidade nas esquinas de Salvador e gera debates: o ‘Acaracrente’.
Criados por Rosângela de Jesus, com o apoio da filha Jalilly Nivo, os bolinhos foram adaptados para atender um público que, até então, parecia distante dessa iguaria tradicional: os evangélicos.
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Nesta segunda-feira, 25 de novembro, Dia Nacional das Baianas de Acarajé, Rosângela contou, em entrevista exclusiva ao Portal MASSA!, como começou sua trajetória. Segundo a mulher, a herança africana, agora ganha uma releitura, sem perder sua essência.
Quando me converti, percebi que poderia oferecer algo que unisse a minha fé com o que sempre amei fazer”
Rosângela de Jesus
A empresária conta que começou a vender acarajé aos 13 anos, mas foi após a conversão que sua versão ganhou identidade.
“O nome surgiu como uma forma de chamar atenção, mas sempre com respeito. Não é sobre impor a religião, é sobre ser quem eu sou e vender o que amo fazer”, explica.
Para muitas pessoas, a ideia de um acarajé voltado para os evangélicos pode parecer estranha, considerando que o bolinho, com sua forte ligação com os rituais afro-brasileiros, carrega em sua origem as bênçãos dos orixás. Rosangela, no entanto, não vê problema nisso.
“Eu não estou vendendo religião, estou vendendo comida. O acarajé é um prato, não uma oferenda religiosa. Respeito todas as crenças e tenho clientes de todas as religiões, inclusive do Candomblé”, defende.
Críticas x acolhimento
Apesar de algumas críticas nas redes sociais, no qual o ‘Acaracrente’ chegou a ser questionado por pessoas que associam o acarajé exclusivamente ao Candomblé, Janilly, filha da empresária, destacou que sempre houve respeito e acolhimento.
“Já passei por algumas situações engraçadas, como quando me perguntaram se o acarajé era de Iansã. Aí eu disse: ‘Ó, minha mãe é crente, mas eu não sou não’ (risos)”, brinca. Mas ela também admite que o caminho nem sempre foi fácil. “Teve quem nos atacou na internet, mas sempre procuramos responder com respeito e mostrar o que é o nosso trabalho: um trabalho honesto”, acrescenta.
Além da batalha para desconstruir preconceitos, mãe e filha seguem na luta para expandir o ‘Acaracrente’, investindo em marketing digital e pensando em novas formas de levar o sabor do acarajé para mais baianos. “Nosso sonho é crescer cada vez mais, mas sempre com amor e respeito por todas as culturas e religiões”, revela Rosangela.
Contexto religioso
O surgimento do ‘Acaracrente’ também levantou um questionamento importante sobre o respeito ao patrimônio cultural baiano. Para a Associação Nacional das Baianas de Acarajé, Mingau, Receptivo e Similares (ABAM), a situação é delicada.
“A Bíblia não fala sobre acarajé e é preciso respeitar a origem dessa comida, que está intimamente ligada ao Candomblé. Não somos contra as baianas, mas é fundamental que o acarajé seja tratado com o devido respeito à sua história e contexto religioso”, considera Rita Santos, presidente da instituição.
Ainda assim, para Rosangela e Jalily, o mais importante é seguir com a missão de servir aos baianos, sem desrespeitar as raízes do acarajé, mas também sem se deixar abalar pelas críticas.
“Nosso lema é: ‘Crente ou não crente, coma ‘Acaracrente’. A intolerância religiosa não leva a nada, só o amor é que faz a diferença”, concluem.
*Sob a supervisão do editor Pedro Moraes