Começar o ano com aumento na tarifa dos ‘buzus’ virou rotina para o soteropolitano. No sábado (4), o preço da passagem subiu de R$ 5,20 para R$ 5,60. Embora a diferença de R$ 0,40 possa parecer pequena, ela pesa no bolso de quem já enfrenta dificuldades para fechar o orçamento. As escolhas ficam cada vez mais difíceis: cortar o lazer, economizar no mercado ou até pensar em alternativas, como andar mais a pé ou recorrer a transportes clandestinos – qualquer coisa para economizar.
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Danilo Oliveira, economista e planejador financeiro, explicou, em bate-papo exclusivo com o Portal MASSA!, que o aumento é muito mais do que uma simples correção pela inflação. Para quem trabalha em escala 6x1 e pega cerca de quatro ônibus por dia, o acréscimo de R$ 38,40 no mês já faz diferença.
“Pode parecer pouco para quem não sente, mas é o suficiente para bagunçar o orçamento de quem já está no limite. Esse valor pode ser a diferença entre pagar a conta de luz ou garantir os mantimentos no mercado”, analisa.
Esse valor pode ser a diferença entre pagar a conta de luz ou garantir os mantimentos no mercado
Com o bolso apertado, o soteropolitano tende a buscar saídas menos seguras, como mototáxis clandestinos ou caronas informais. O especialista alerta que essas opções improvisadas expõem os passageiros a riscos maiores e evidenciam a fragilidade do sistema de transporte público.
“Sem alternativas acessíveis, muita gente acaba se arriscando, o que piora a insegurança no trânsito e não resolve o problema da mobilidade”, reflete Danilo.
Além disso, o economista explica que trabalhadores com acesso a veículos próprios podem começar a usá-los com mais frequência, o que deve intensificar os congestionamentos na cidade. Já quem não tem essa opção, muitas vezes precisa encarar longas caminhadas ou apelar para o uso de bicicletas, medidas que nem sempre são viáveis na correria do dia a dia.
Preço subiu desgovernado
De acordo com Fabrizzio Müller, secretário de Mobilidade de Salvador, a fórmula para calcular o reajuste inclui fatores como o custo do óleo diesel - que teve alta de 17,3% na Bahia no último ano - e a reoneração da folha salarial, que trouxe novos encargos para as empresas. Apesar disso, a prefeitura alega que tem absorvido parte dos custos para evitar um aumento ainda maior.
“Mesmo com o reajuste, a tarifa não cobre integralmente os custos operacionais. Para aliviar, estamos renovando a frota e investindo no sistema. Este ano, Salvador vai receber mais 300 ônibus com ar-condicionado, além de veículos elétricos, como parte do projeto de modernização”, pontua o gestor.
Para aliviar, estamos renovando a frota e investindo no sistema. Este ano, Salvador vai receber mais 300 ônibus com ar-condicionado
Embora medidas como renovação da frota e operação do BRT tragam alívio, os desafios persistem. Tendo em vista essa situação, Danilo Oliveira sugere políticas mais assertivas, como subsídios para as classes mais vulneráveis ou um programa de desconto que seja atrelado à renda do usuário.
Já para os trabalhadores, a solução pode passar por readequações orçamentárias ou busca por novas fontes de renda, como trabalhos extras. “O ideal seria que a tarifa não comprometesse mais de 10% da renda de uma pessoa, mas essa não é a realidade de muitos soteropolitanos”, reflete.
*Sob a supervisão do editor Pedro Moraes