
Brincadeiras, felicidade e representatividade. Mesmo com os diversos problemas que atingem as periferias de Salvador, a criançada encontrou no sábado (1º) um espaço para sorrir, se expressar e se conectar com a própria cultura. No final de linha do bairro de Tubarão, Subúrbio da capital baiana, a edição especial doSarau Dikebradinha trouxe arte, ‘corre’ coletivo e muita animação, colocando os pequenos como protagonistas — no palco, no microfone e na plateia.
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“A gente desenvolve projetos a partir da cultura hip hop. A gente entende a cultura hip hop como ferramenta de transformação social”, conta Udi Santos, coordenadora-geral do instituto, ao MASSA!.
Segundo a organizadora, a ideia foi criar uma edição voltada para representar a infância, onde tudo fosse pensado a partir da criançada. “A apresentadora, a mestre de cerimônia e as apresentações são infantis. A gente também convidou diversos artistas e grupos das localidades do Subúrbio para estar aqui”.

A coordenadora explica ainda que o projeto já circulava por escolas e outras instituições, mas agora oferece um espaço de visibilidade dentro da própria comunidade. “É um lugar de fortalecimento de rede. Quando a gente cria esse espaço, gera reconhecimento e novas perspectivas. Uma criança que nunca viu teatro ou dança pode se identificar e imaginar outras possibilidades de futuro”, destacou.

Filha de Udi e participante da iniciativa, Lauana Alcântara, de 7 anos, revelou como é acompanhar a mãe e se envolver nas atividades do sarau.
“Eu gosto muito. Desenhei uma borboleta com meus amiguinhos, escrevi meu nome todo, chupei picolé, comi pipoca e brinquei de várias coisas. A gente cantou, dançou e se divertiu demais”
relata a pequena. relata a pequena.
Fortalecimento comunitário
Entre as parcerias do sarau também estava o grupo Pérolas do Futuro - Talentos em Ação, ligado ao Lar Pérolas de Cristo, uma casa de acolhimento que atende crianças e adolescentes afastados do convívio familiar. O assistente social Josémar Freitas, que é mediador do 'bonde', detalhou ao MASSA! que a ideia é abrir as portas para todos que se sentem à margem e buscam inclusão.
“Esse projeto tem a finalidade de despertar o desejo de se aprofundar nas linguagens da música, da dança e do esporte. Durante a semana, três dias são voltados a ensaios e repertórios de música e dança, e também práticas esportivas como futebol, handebol e baleado”, explicou.

Ele também ressaltou que as oficinas são combinadas com ações socioeducativas. São rodas de conversa que abordam violência, prevenção ao uso de substâncias e promoção de saúde mental. A metodologia inclui terapia comunitária integrativa, prática brasileira voltada à saúde mental coletiva.
“A gente entende que hoje vivemos uma epidemia de comprometimento da saúde mental, principalmente nesse público. Por isso, desenvolvemos rodas de conversa sobre violência, prevenção ao uso de substâncias e promoção de saúde mental, usando estratégias comunitárias e terapias integrativas”, acrescentou.

Para Josémar, o que rola nesses encontros é a materialização do que o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) defende: o direito de toda a 'gurizada' ao lazer, à cultura e à convivência comunitária.
Destaque mirim
Entre os destaques do evento estava Dandara Reis, de 9 anos, que atuou como mestre de cerimônia, apresentando grupos musicais e animando as brincadeiras. De acordo com o pai da pequena, Ildo Portela, a iniciativa do Instituto Eumelanina tem impacto direto no desenvolvimento da filha e de outros jovens da localidade:
O projeto começou a ser de importância não só pra comunidade, mas pras adjacências. É um trabalho super educativo que transforma vidas e dá um norte para essas crianças
afirma Ildo afirma Ildo

Mesmo morando em Cajazeiras, Ildo fez questão de comparecer à edição do projeto em Tubarão. “Meu objetivo com ela não é que se torne artista, mas que cresça como criança, mulher e periférica, respeitando as pessoas e as diferenças. Se virar artista, será consequência do futuro. O mais importante é a formação e o caráter”, disse à reportagem.
De acordo com a menina, as palavras do pai refletem sua experiência no sarau. “Eu gostei muito de poder participar das apresentações e ver que tem espaço para gente mostrar o que sabe. Aqui eu consigo aprender coisas novas, conhecer gente da minha idade que gosta de dança, música e brincadeiras diferentes. A gente se diverte. É muito legal”, concluiu a mini mestre de cerimônia do Dikebradinha.
