Na última semana, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) emitiu um alerta sobre o perigo que as câmaras de bronzeamento artificial podem causar e publicou a Resolução RDC n. 56/2009, que proíbe o uso e a comercialização desses equipamentos para fins estéticos em todo o Brasil. A novidade gerou uma grande discussão nas redes sociais sobre a possibilidade das famosas marquinhas de fita, que são sucesso em Salvador, chegarem ao fim.
Pensando nisso, o Portal MASSA! bateu um papo com uma dermatologista sobre os perigos da exposição exagerada aos raios ultravioletas, bem como ao sol, e também ouviu a mulherada e uma empresária do ramo de bronzeamento para entender o que pode ser feito para garantir a marquinha desejada em segurança.
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Para começar, é preciso entender que a Anvisa tomou essa decisão severa depois que a Agência Internacional de Pesquisa sobre Câncer (IARC-International Agency for Research on Cancer), vinculada à Organização Mundial da Saúde (OMS), publicou um artigo mostrando que o uso dessas máquinas é cancerígeno para humanos. Inclusive, a Sociedade Brasileira de Dermatologia e o Instituto Nacional de Câncer (INCA) apoiaram essa proibição.
Para as pessoas apaixonadas por esse método de bronzeamento, a notícia causou preocupação sobre o que fazer para manter a pele no tom que deseja daqui para frente. Já para Liliane de Jesus, especialista em marquinhas de fita com bronzeamento ao sol há cerca de 7 anos, essa questão não é um problema.
A empresária, que é conhecida no bairro de Periperi, no Subúrbio Ferroviário, como Lili Bronze, contou que as câmaras bronzeadoras nunca foram uma opção de trabalho para ela, devido aos riscos de queimadura da pele e também da “durabilidade” da marquinha. Segundo Liliane, muitas vezes o bronzeado artificial some mais rápido do que o natural e tem até clientes que pedem o dinheiro de volta.
Sobre a proibição da Anvisa, a bronzeadora deu razão à instituição. "Melhor do que dizer que eu sou a favor, é dizer que a Anvisa sabe o que está fazendo. Eu não estou dizendo que sou contra o bronze, mas foi por conta dessas questões que eu nunca teria o bronze artificial. Então, eu acredito que a Anvisa está cuidando de pessoas, né? Eu tenho essa certeza de que a Anvisa está querendo o benefício", declarou.
Liliane de Jesus também disse que nem todas as pessoas que oferecem o serviço de marquinha de fita com exposição ao sol são preparadas para a função. Ao longo dos anos, ela estudou e se especializou para garantir que nenhuma das mulheres tivesse queimaduras, lesões na pele ou problemas ainda piores. Mas o risco ainda é constante.
“Não é pra todo mundo, não. Ser bronzeadora realmente é ser responsável, é ter cuidado com a pele, é ter limite com a cliente, e graças a Deus eu aprendi isso. Em todo o meu tempo de bronze aí, eu participei de muitos congressos seminários, com dermatologista, cardiologista… Tanto é que no meu bronze eu nunca permiti bebida alcoólica, porque eu sempre vi o bronze realmente como tratamento estético mesmo”, opinou ela.
Muita gente já tinha dado adeus para as máquinas de bronze
Antes mesmo da proibição da Anvisa, muitas mulheres já haviam deixado as câmaras de bronzeamento artificial para trás. Para Keila Sanfront, uma estudante de 23 anos, um conjunto de motivos contribuiu para que ela se decepcionasse com o procedimento.
"Usei uma vez para nunca mais. Me senti abafada naquela máquina e senti que iria passar mal com o lugar fechado, sem ventilação suficiente para respirar, por isso preferi continuar com o bronzeamento natural. Apesar de estar exposta ao sol, me sinto mais à vontade por estar em um ambiente aberto e fresco", contou.
A consultora de beleza Yanca Pereira, de 29 anos, adorava fazer marquinhas de biquíni na máquina bronzeadora, ao ponto de repetir as sessões em um curto período de tempo, o que não é recomendado. Porém, quando começou a trabalhar com o mundo da estética, ela percebeu que estava se colocando em risco.
"A vaidade é o que me levou a fazer o bronzeamento artificial, e todo mundo fazia, eu achava o máximo, mas parei totalmente, porque, como eu comecei a trabalhar na área de estética, beleza, eu fui entendendo o que o bronze poderia fazer, e o artificial é pior ainda. O sol é saudável, mas exageradamente é babado", disparou.
Atualmente, Yanca sente falta do bronzeado intenso na pele, mas entendeu que precisava priorizar a própria saúde: "Hoje eu não tenho mais nenhuma marquinha. Tenho saudade, mas aí eu faço com biquininho, cinco minutinhos, dez minutinhos no sol, não na máquina".
O que diz a especialista?
Em entrevista ao MASSA!, a Dra. Ana Lísia Giudice, dermatologista do Mater Dei Salvador, esclareceu as principais dúvidas que estavam assombrando as fãs de bronzeamento. Ela também deu orientações sobre a melhor maneira de ‘pegar uma corzinha’ sem correr tantos riscos.
De acordo com a especialista, o uso de máquinas de bronzeamento artificial podem trazer prejuízos graves: “Existem duas formas de dano que podem acontecer: o dano agudo, que gera uma queimadura com desidratação, inflamação da pele, uma espécie de insolação. Isso pode acontecer porque, na verdade, a câmara de bronzeamento é um sol artificial, com mais intensidade de raio ultravioleta, pois está focado e localizado ali. E o dano a longo prazo, que é a alteração na pele, nas células, e essas lesões repetitivas por queimadura à exposição à ultravioleta, vão gerando uma transformação nas células, lesões pré-malignas e lesões malignas de pele, que é o câncer de pele. Além da desidratação, ressecamento, insolação, inflamação na pele, dor, queimadura e bolhas”.
Alguns grupos de pessoas são mais suscetíveis aos efeitos negativos do bronzeamento artificial. A Dra. Ana Lícia revelou quem precisa estar atento a essa questão.
“As pessoas que têm menos melanina, ou seja, aquelas que têm uma quantidade menor desse pigmento na pele, os indivíduos que não produzem ou produzem melanina deficientemente, como os albinos, e aqueles que têm uma produção alterada, como pacientes com vitiligo, além dos pacientes que têm uma pele mais clara e fototipo menor, como chamamos, vão sofrer um dano maior porque têm menos proteção. Sem falar nas pessoas que podem não saber e ter doenças desencadeadas pela luz ultravioleta, urticária solar, lúpus”, explicou.
A gravidade da situação é real e os adeptos ao bronze de fita precisam estar atentos a quaisquer sinais que possam indicar danos na pele. “Dor, ardor, uma vermelhidão muito forte, surgimento de bolhas, de ferimentos que não cicatrizam, inflamação de sinais, surgimento de manchas na pele, tudo isso a gente tem que estar atento, tudo isso são sinais que a gente deve se atentar”, disse ela.
Por fim, a dermatologista recomendou outros métodos de bronzeamento para quem deseja continuar fazendo as marquinhas, mas agora de forma segura e saudável.
“Eu diria que existem no mercado produtos chamados autobronzeadores, que são cremes que o indivíduo passa na pele e, através de uma reação de oxidação do pigmento, a gente fica com aparência bronzeada. São seguros, podem ser usados sim. Ou o bronzeamento gradual, lento, de exposição solar, em pequenas quantidades ao dia, que pode também ajudar nessa questão de se bronzear, mas é bom lembrar que a gente precisa também aprender a valorizar o que se tem e o que se é”, concluiu.