
A Noite da Beleza Negra chega à sua 43ª edição neste sábado (13) para eleger a Deusa do Ébano do Ilê Aiyê de 2024, ano em que o grupo afro celebra 50 anos de fundação e resistência em trabalho social, racial e carnavalesco no Brasil.
Marcado para começar às 20h na Senzala do Barro Preto, sede do Ilê, na Ladeira do Curuzu, na Liberdade, a promessa é que a festa seja muito mais que um concurso de beleza, mas uma celebração à mulher negra e ao poder feminino no Ilê.
De nome “O Afro dos Afros”, o espetáculo de hoje tem direção de dois grandes nomes da produção artística no país, o coreógrafo Zebrinha e o dramaturgo e diretor Elísio Lopes Júnior - que se despede da direção artística da Noite após 10 anos.
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“A gente vai falar da abertura dos 50 anos do Ilê. É um espetáculo em que a gente entende que muita gente não conhece essa história. Queremos dialogar com o que está acontecendo, quais são os assuntos que interessam à mulher negra. Vamos fazer uma homenagem às eternas Deusas do Ébano, reunir algumas delas no palco”, contou Elísio.
“Vai ser uma noite de celebração da segunda geração de pessoas que já nasceram com blocos afro existindo. São meninas que dizem ‘minha mãe desejava ser Deusa do Ébano e hoje eu desejo’, e isso emociona”.
Quando Elísio fala de espetáculo, não é apenas uma palavra bonita. É exatamente isso que o Ilê Aiyê prepara para a Noite da Beleza Negra, uma grande expressão de arte, um presente para o público. Neste ano, a apresentação conta com participação de Carlinhos Brown e da banda BaianaSystem, além de três blocos afro que vêm de fora do estado: Bloco Afro Magia Negra (MG), Bloco afro Agbara Dudu (RJ), Bloco Afro Akomabu (MA); e, claro, um parceiro local, o Cortejo Afro.
Também estão confirmadas as participações da cantora Ellen Oléria e de Amanda Maia, uma das finalistas do The Voice 2023. Os atores globais Taís Araújo e Samuel de Assis também estarão lá.
Toda essa pompa e circunstância é para celebrar os 50 anos do Ilê, o grupo que ensinou, deu régua e compasso para a criação do que hoje entendemos como bloco afro. Por isso, mais do que nunca o título de Deusa Ébano carrega uma grande responsabilidade, e as candidatas não escondem a ansiedade e o nervosismo.
Histórias de luta
A maioria das 15 meninas já participou do concurso outras vezes, já chegaram a ser finalistas e algumas até bateram na trave, levando o título de princesa. Boa parte delas são oriundas de bairros periféricos de Salvador, dividem a busca pelo título com seus trabalhos e, há muito, se dedicam para representar a mulher preta por meio do manto do Ilê Aiyê.
Dalila Oliveira, a Deusa do Ébano de 2023, falou sobre as experiências que viveu ao longo do último ano depois de conquistar o Beleza Negra. “Foi um ano muito corrido, maravilhoso e de muitas emoções. Foi uma grande realização na minha vida, que me trouxe muitos momentos, viagens, entrevistas. Quando olho para trás e vejo a quantidade de coisas que o título e o Ilê me proporcionaram, é gratificante”, contou a deusa.
O manto passa, mas o título fica. Dalila sabe que, assim que as outras 41, ela sempre será a Deusa Ébano do Ilê e, por isso, aumenta ainda mais a ansiedade para compartilhar esse título com mais uma mulher negra, como ela garante.
“Conversei com elas, sempre incentivando para que focassem em contar a suas histórias através de seus movimentos”, contou Dalila. “O coração tá cheio de alegria porque quando a gente ganha o concurso, a gente tem a consciência de que temos que escolher mais uma no ano seguinte para se juntar a nós e levar todo o encanto da mulher preta”.
A representatividade feminina sempre foi muito forte dentro do Ilê Aiyê, mesmo antes da instituição oficial do concurso Noite da Beleza Negra, em 1980. Um concurso para eleger uma mulher preta com um título do que é belo era novidade, e deixou a cidade em polvorosa, como alegou o Vovô do Ilê, fundador do bloco.
“Todo mundo queria saber o que era isso, conseguimos um clube comercial na Avenida 7 e eu me lembro que pensei que ia até desabar de tanta gente que foi”, brincou. “Depois que inauguramos a Senzala trouxemos pra cá. Somos muito felizes de fazer mais esse evento e comemorar os 50 anos de blocos afros no Brasil”, completou.