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Elas no comando! - 02/12/2025, 07:00 - Luan Vitor*

Mulheres 'quebram paredes' e lideram obras em meio ao machismo

Presença feminina ganha destaque na construção civil, mesmo ao contragosto de alguns homens

Mulherada marca presença em meio aos homens
Mulherada marca presença em meio aos homens |  Foto: Shirley Stolze / Ag A Tarde

“O encarregado disse pra mim que preferia trabalhar com 500 homens, mas não queria trabalhar com uma mulher. Isso foi como um balde de água fria pra mim”. Esta declaração foi dada por Dilma Sampaio Silva, chefe de obras de um dos trechos da construção do VLT de Salvador.

Ela lidera uma equipe com 13 homens, algo que não imaginava há 18 anos, quando começou a trabalhar na construção civil , como ajudante de rejunte e logo quis se tornar pedreira, mas teve seu sonho frustrado por seu chefe, que a perseguiu até que fosse demitida.

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Mesmo após ser dispensada, Dilma não desistiu e sua persistência transformou um emprego que, inicialmente, era por necessidade, em um sonho profissional.

A construção civil é conhecida por seu trabalho pesado, logo, se imagina que esse cenário seja totalmente masculino, devido à força bruta necessária para que grandes obras sejam erguidas.

Dilma Sampaio, chefe de obras com 18 anos de carreira na construção civil
Dilma Sampaio, chefe de obras com 18 anos de carreira na construção civil | Foto: Raphael Muller/Ag. A Tarde

A presença feminina, especialmente nos papéis de liderança, ainda se mostra persistente no setor, seja por causa aos desafios físicos ou ao machismo predominante nesses locais. A cooperação entre diversos setores é essencial em um canteiro de obras para que paredes, pilastras ou até grandes viadutos sejam levantados.

Dilma na obra do VLT
Dilma na obra do VLT | Foto: Raphael Muller/Ag. A Tarde

Machismo concretado?

Atitudes desrespeitosas, infelizmente, fazem parte da realidade das mulheres na sociedade. Dentro de um canteiro, onde a presença masculina é maioria, esse cenário não seria diferente, especialmente quando essa mulher possui um cargo superior.

Erica Fagundes, Técnica em Segurança do Trabalho
Erica Fagundes, Técnica em Segurança do Trabalho | Foto: Shirley Stolze / Ag A Tarde

“Os ‘meninos’ eram muito agressivos. Falo por experiência própria. Quando comecei, eles me maltratavam muito. Como eu não tinha experiência, eu ficava muito assustada, porque além de serem agressivos, eles xingavam e não me respeitavam”, contou a técnica em segurança do trabalho Erica Fagundes, que já atuou em diferentes áreas dentro da construção civil, mas se encontrou no novo cargo.

Apesar das experiências ruins, Fagundes revela que, com o passar dos anos, o contato direto com os homens da obra fez com que sua experiência com seus colegas de trabalho melhorasse, passando a ser mais respeitosa. “Eu estou em uma estrutura onde só trabalha homem, só tem eu de mulher, e todo mundo me respeita. Eu me sinto tão acolhida que às vezes nem quero ir pra casa”, confessou, em tom de brincadeira.

Em todo lugar?

Jéssica Aparecida, Gerente de Fábrica em uma construtora
Jéssica Aparecida, Gerente de Fábrica em uma construtora | Foto: Shirley Stolze / Ag A Tarde

A presença predominantemente masculina não é unânime dentro da construção civil. Segundo a engenheira Jéssica Aparecida, as equipes de engenharia em que já participou conseguiam manter um equilíbrio quanto à quantidade de homens e mulheres ocupando o mesmo cargo. “Quando a gente está na equipe de engenharia, ela é meio a meio, 50 a 50, e sempre foi assim, desde que entrei eu nunca percebi uma predominância só de homens”, revelou.

Há nove anos trabalhando na Construtora Tenda, Jéssica começou como estagiária e passou por diversos setores da empresa. Hoje, ocupando o cargo de gerente de fábrica, responsável por mais de uma centena de pessoas, acredita que a construção civil não é a primeira opção de emprego pensada pelas mulheres e que, quando é, não é para cargos ligados diretamente à mão na massa.

A engenheira é responsável por uma equipe de mais de 200 pessoas
A engenheira é responsável por uma equipe de mais de 200 pessoas | Foto: Shirley Stolze / Ag A Tarde

“A gente sempre divulga vagas de emprego de uma forma muito ampla. E vêm mulheres, mas a maioria já vem procurando alguns cargos mais específicos. Por exemplo, a equipe que faz a limpeza dos apartamentos para entrega pro cliente, 100% é mulher, é muito comum elas virem atrás dessa vaga, porque já é meio que natural”, disse ela ao MASSA!

Queda livre

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2010 a 2022 o número de trabalhadoras na construção civil teve uma queda de 2,5%. Sara Figueiredo, que atua no setor de Recursos Humanos da Tenda, aponta ainda que, por conta do estigma de “sexo frágil”, muitas mulheres sequer se candidatam às vagas ofertadas pelas construtoras. “A falta de mão de obra é geral, mas quando abrimos seletivas, simplesmente não vemos mulheres”, afirmou.

Sara Figueiredo confirma a falta de mão de obra feminina no mercado
Sara Figueiredo confirma a falta de mão de obra feminina no mercado | Foto: Shirley Stolze / Ag A Tarde

Muitas empresas do setor buscam a capacitação de mulheres para suprir essa falta de mão de obra. Entramos em contato com o SENAI e com o SENAC, em busca de dados sobre o número de inscritas em cursos nas áreas técnicas da construção civil, mas até o fechamento desta matéria não obtivemos respostas.

*Sob supervisão do editor Jacson Brasil

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