Nas últimas semanas, o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) passou a ser tema de piadas, memes e até trends nas redes sociais. Expressões como “fulano fugiu do CAPS” e “pacientes mais normais do CAPS” se popularizaram na internet. Porém, o que parecia ser apenas uma brincadeira inocente, espalhou uma ideia falsa sobre o que de fato é esse serviço e como ele funciona para o povo.
Mas ao contrário do que muita gente pensa, o CAPS não é um manicômio. Para acabar de uma vez com os burburinhos e revelar o que é mito e o que é verdade, o Portal MASSA! visitou o CAPS III Jardim Armação, uma das unidades referência de Salvador, e conversou com profissionais que lidam diariamente com o cuidado e a rotina dos usuários do centro.
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Fundado pelo Ministério da Saúde como uma alternativa aos hospitais psiquiátricos, o Centro de Atenção Psicossocial surgiu para atender as demandas da população gratuitamente, sem retirar os pacientes do convívio social. Pessoas com dependência em álcool e drogas ilícitas também podem ser atendidas.
“O CAPS foi criado para ter uma equipe multifuncional que cuide de pessoas com sofrimento psíquico ou transtornos mentais, e também aquelas pessoas que fazem o uso de substâncias psicoativas e precisam de algum nível de suporte. É um equipamento territorial, comunitário”, explicou Carolina Dórea, Coordenadora de Atenção Psicossocial.
As postagens virtuais que trazem a imagem deturpada sobre o serviço só reforçam uma ideia errada e podem até confundir quem realmente precisa de apoio, conforme disse Carolina Dórea.
“A internet tem um potencial incrível de tornar a vida mais leve, de popularizar, e essa parte pode ser benéfica, mas, historicamente, as pessoas que têm transtornos mentais, ou fazem o uso de drogas, ou estão em sofrimento, elas estão muito estigmatizadas. Existem muitos preconceitos que rondam essa temática da saúde mental ainda, então acaba que os memes se aproximam de Fake News”, declarou.
Não tem como fugir do CAPS, o CAPS é porta aberta
Coordenadora de Atenção Psicossocial Carolina Dórea
O que o CAPS oferece?
Além do acompanhamento psiquiátrico, diversas atividades são oferecidas para os usuários do Centro de Atenção Psicossocial. De acordo com Paula Ribeiro, Terapeuta Ocupacional do CAPS, uma grande equipe multidisciplinar está a postos para acolher, cuidar e direcionar quem utiliza o equipamento de saúde mental.
“Temos acompanhamento com técnico de referência, atendimentos do núcleo profissional, com o terapeuta ocupacional, psicólogo, educador físico, equipe de enfermagem com enfermeira e técnico de enfermagem, oficineiros com a proposta de ofertar atividades diversas, mas não substituindo a participação dessa pessoa na comunidade”, contou.
Na prática, os profissionais que trabalham no CAPS fazem muito além do que se imagina, desde o acompanhamento em alguns compromissos pessoais, como tirar a carteira de identidade, até o direcionamento para consultas médicas específicas. Eles estão preparados para atender todos aqueles que buscam tratamento.
“A pessoa pode chegar por uma demanda espontânea, sem um encaminhamento, e então será escutada por um profissional da equipe multiprofissional, no momento podem já ser identificadas as demandas desse usuário do serviço, e a gente segue com o cuidado, com o planejamento, com a construção do plano terapêutico, que é singular porque é para aquela pessoa, construída com aquela pessoa, e seguindo com as atividades”, disse Paula Ribeiro.
Exposição Raul Beleza
Entre as atividades oferecidas nas unidades do CAPS estão oficinas relacionadas à criatividade, arte e interação em grupo. Músicas, produção de artesanatos, filmes, rodas de conversa e até a plantação de hortas, com o auxílio da iniciativa Farmácia Viva, fazem parte da rotina dos usuários do serviço.
Em meio a isso, na Oficina Arte em Cena, surgiu a ideia de reunir as produções dos pacientes e exibi-los ao público. A temática escolhida para essa mostra foi o cantor baiano Raul Seixas, um dos grandes nomes do rock brasileiro.
A proposta deu super certo e vem sendo mantida ao longo do tempo. Neste ano, o CAPS III Jardim Armação promoveu a ‘Expo Raul Beleza’, entre os dias 26 a 29 de novembro. Com entrada gratuita, todos os visitantes foram bem recebidos e puderam admirar o resultado final das oficinas.
A exposição é uma das maneiras de celebrar a evolução pessoal de cada usuário do CAPS, além do trabalho feito pelos profissionais, e também é uma forma de conferir de perto o quanto esse equipamento de saúde tem transformado a vida das pessoas. Vale a pena ficar de olho nas próximas exibições e se programar para ir.
“O movimento muito individual e de autonomia. Essa é a melhor resposta para as intervenções, é acreditar. A gente constrói um vínculo, a gente passa a ser uma referência para essa pessoa e ela passa também a ser referência para nós, de vida”, finalizou Paula Ribeiro.