
O fim de ano se aproxima e, com ele, cresce o uso do cartão de crédito. Entre roupas novas, bebidas, viagens e presentes para a família, muitos consumidores se perdem nas contas e recorrem até a cartões emprestados para não ficar de fora das compras. Um alerta é justamente sobre essa prática, comum na Black Friday e nas festas de dezembro.
“Quando você compra no cartão de terceiros, o problema fica pior. Além de se endividar, você divide a terceiros. Às vezes tem briga, desgaste familiar”, alerta o economista Edísio Freire.
Quem vive isso, na prática, é a secretária doméstica Márcia Santos Gomes, 35. Durante o ano, ela recorre ao cartão de outras pessoas para conseguir comprar:
Eu não tenho cartão. Eu uso cartão emprestado, mas sempre divido em 12 vezes sem juros. Pago todo mês direitinho
Márcia Santos
No corre do dia a dia, Liliane Pereira, 33 anos, que mora na região do Planeta dos Macacos, em Salvador, sente o impacto nas despesas com as crianças.
“No final do ano gasto muito com roupas, acessórios e sandálias para as crianças. Para as quatro, dá uns 700 a 750 reais. Aproveito a Black para comprar coisas de casa. Agora mesmo estou vendo um sofá, que vamos pagar com o décimo do meu esposo".

Mesmo com trabalho e benefícios do programa Bolsa Família, ela explica que o dinheiro nem sempre segura tudo. “Às vezes sobra um dinheirinho, às vezes não sobra. Além disso, usamos cartão de terceiros, inclusive para comprar o sofá", revela.
É débito ou crédito? Entenda a melhor forma de pagar
Vale a pena usar o crédito na Black Friday? É o que muitos consumidores se perguntam quando chegam às compras de fim de ano, período em que os gastos disparam e o cartão vira regra. Para o economista Edísio Freire, o crédito pode ser um aliado, mas só em caso de uso responsável.
Importante saber que o cartão não é uma extensão da renda, ele é um meio de pagamento.
Economista Edísio Freire
O problema começa quando a pessoa compra sem visualizar o total que vai pagar:
“O cartão de crédito pode ser um grande aliado do planejamento financeiro, desde que você use ele de maneira adequada. Porque você compra com a falsa sensação de que não vai pagar. Aí chega o vencimento, não consegue pagar o total, paga o mínimo e os juros são muito altos. Vira bola de neve.”

Orçamento para o fim do ano
Com o 13º saindo e os gastos aumentando, o profissional explica que a única fórmula possível é a do equilíbrio, especialmente após um ano em que o consumidor já perdeu poder de compra por causa da inflação acumulada:
50-30-20: 50% para despesas essenciais, 30% para despesas menos essenciais e 20% para guardar, lazer ou emergências
Edísio
“Se eu tenho uma renda X, eu preciso construir minhas despesas sempre inferiores à renda. Você pode seguir a divisão para cada especificidade.”
A doméstica faz uso do valor extra para pagar as dívidas do ano todo, mas também para quitar outras pendências. “A outra metade eu compro roupa do meu filho, uma cortina baratinha, um lençol, e faço uma feira maior pra deixar o armário cheio. Sobra nada, ainda tomo emprestado”, revela ela.
Mesmo assim, quem tem reserva sente a diferença justamente nesta época, quando os preços sobem e a tentação aumenta. Parcelar, segundo ele, pode ser vantajoso, mas só com controle.
“Quando chega essa época do ano, se você tiver reserva, ao invés de pagar juros, você ganha. Porque dá pra comprar à vista, pedir desconto… tudo facilita", reflete.

“Se você tiver bom controle financeiro, o parcelamento pode ser positivo. Tem loja que não dá desconto à vista, então você pode parcelar sem juros e deixar o dinheiro rendendo. Mas só funciona se a parcela caber no orçamento”, ressalta.
Black Friday ou fraude? Veja se é cilada
Questões como estas acontecem em um período em que o “corre” só aumenta. A Black Friday, que no Brasil começou em 2010 e saiu do online para dominar o varejo físico, hoje é parte essencial do calendário do comércio. A edição deste ano acontece em 29 de novembro, última sexta-feira do mês. Para o economista, além desse movimento, o mês seguinte mês para compras:
Eu vou apanhar, mas eu acho que não. É o pior momento. Porque compra é emoção. E nada mais emocional do que o final do ano
Economista Edísio Freire
Ele defende que muitos itens podem ser comprados ao longo do ano, aproveitando promoções pontuais. Ainda assim, reconhece que a Black Friday rende boas oportunidades, principalmente em eletrônicos e eletrodomésticos.
“A Black é muito boa. Existem campanhas realmente bacanas. Agora, é preciso saber o que você quer. Se você não sabe, compra mais caro ou cai na Black Fraude”, aponta.

Cuidado com as comprinhas
Para Daniel Elias, da Associação de Lojistas de Salvador, o período é o mais quente para vendas, e a expectativa para 2025 é de crescimento de 5% no lucro, em comparação a 2024.
“A Black Friday já não é mais como era antes, ela cresceu. A nossa programação é anual. Quando chega esse período, a gente já tá equipado”, analisa.
Ele explica que o produto de Black Friday não volta ao preço original no Natal: “Coloca na promoção hoje e esse produto tá ‘queimado’ para não reaparecer com preço cheio no Natal. O produto da Black é o produto da Black. No Natal, ele não reaparece.”

Lei do superendividamento
A nova lei do superendividamento pode ajudar? Com milhões de consumidores no vermelho e juros ainda elevados, a lei virou uma alternativa para quem já perdeu o controle. O programa permite renegociar dívidas em até 60 vezes.
“O projeto do superendividamento é muito positivo. Mas só vai funcionar se tiver plano. Você precisa apresentar um plano financeiro sustentável mostrando que vai conseguir honrar as dívidas", indica.
Edísio lembra que, mesmo sem nome negativado, a forma como a pessoa paga suas contas influencia o futuro: “Mesmo quando você não tem cadastro restrito, seu comportamento impacta o score Serasa. Por isso é importante manter as contas em dia.”
*Sob a supervisão do editor Pedro Moraes
