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Do medo ao brilho - 31/10/2025, 07:00 - Lucas Vieira

Halloween do baiano: Avenida Sete tem fantasias pra ficar 'na bruxa'

Roupas, máscaras e maquiagens, tudo pode ser encontrado no local para arrasar no Dia das Bruxas

Halloween movimenta comércio e ganha sotaque baiano com fantasias criativas
Halloween movimenta comércio e ganha sotaque baiano com fantasias criativas |  Foto: Shirley Stolze/ Ag A TARDE

Bruxas, caveiras, diabinhos e até princesas sombrias. O Halloween, que nasceu nas tradições anglo-saxônicas e ganhou fama com os filmes e séries norte-americanos, já faz parte da cena de Salvador. A cada dia 31 de outubro, lojas, escolas, bares e até condomínios entram no clima da fantasia, e a data vem se firmando como uma das mais aguardadas do ano.

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Mas, afinal, o que explica essa febre que só cresce? Para o historiador Vinícius Jacob, o Halloween é o retrato vivo do fenômeno da aculturação, ou seja, da influência direta da cultura norte-americana sobre o imaginário brasileiro.

"Foi incorporado graças à influência que a cultura dos Estados Unidos exerce na classe média letrada e na burguesia brasileira. Essa assimilação é incentivada pelo apelo financeiro e tecnológico, e também por Hollywood, que alimenta o desejo por esse tipo de celebração", explica ao MASSA!.

Vinícius Jacob, historiador
Vinícius Jacob, historiador | Foto: Arquivo Pessoal

Jeitinho baiano

Mesmo sendo uma festa importada, Vinícius diz que o Brasil, e principalmente a Bahia, tem o dom de dar um toque próprio à tradição. "As fantasias são mais simples, os sustos menos intensos, mas a criatividade compensa. A aculturação americana é muito forte, mas nós conseguimos reinventar com humor e improviso", afirma.

Aspas

O baiano abrasileira tudo. Aqui, até o terror tem axé

Vinícius Jacob, historiador

O historiador ainda destaca que, mesmo enfrentando resistência de parte do público mais conservador, o Halloween veio pra ficar: "A globalização molda costumes, e o brasileiro adora uma festa".

O terror no precinho

Essa mistura de susto e economia é vista na Avenida Sete de Setembro, no coração comercial de Salvador, que já respira o Halloween há algumas semanas.

Lá, as máscaras estão saindo entre R$ 12 e R$ 25, enquanto as saias de tule custam a partir de R$ 20. Já as fantasias completas, mais elaboradas, variam de R$ 60 a R$ 170. Os acessórios seguem em alta: tiaras, asas e chapéus são os mais procurados, com valores entre R$ 15 e R$ 30.

De acordo com os lojistas, o movimento cresceu forte na última semana, especialmente entre a galera jovem e a criançada. Mães compram para os filhos, casais montam looks combinando e até grupos de amigos aparecem para planejar festas temáticas.

Na Van Variedades, o vendedor Gil Guimarães garante que o clima de resenha contagia até quem está por trás do balcão. "Eu vendo, mas também entro no clima. No Halloween, boto asa, boto fantasia e vendo fantasiado mesmo", brinca.

Gil Guimarães, vendedor
Gil Guimarães, vendedor | Foto: Shirley Stolze/ Ag A TARDE

Na Taty Fantasias, a empresária Tatiane Conceição aposta na mistura entre terror e criatividade. Lá, o Halloween ganha versões ousadas, cheias de cor e humor. Segundo a empreendedora, que aposta em fantasias diferenciadas, o povo quer se destacar, e isso impulsiona as vendas: "O pessoal quer investir. No Carnaval é algo mais descartável, mas no Halloween querem roupa bonita, bem feita".

Tatiane Conceição, vendedora
Tatiane Conceição, vendedora | Foto: Shirley Stolze/ Ag A TARDE

Halloween brasileiro

Entre bruxas, vampiros e zumbis, há quem defenda um Halloween com mais identidade nacional. O professor de Design Maurício Portela, da Unifacs, acredita que o momento pode ser também de resgate da cultura brasileira.

"E se é pra brincar com aquilo que nos dá medo, temos seres mitológicos incríveis: Saci, Cuca, Mula sem Cabeça, Curupira… Todos fariam fantasias incríveis e cheias de brasilidade", detalha o professor.

Aspas

O Halloween é brincar com o medo.

Maurício Portela, professor de Design

Portela defende que o brasileiro pode usar o Dia das Bruxas para usar o folclore nacional como fonte de criatividade: "É triste que a gente tenha esquecido o nosso Dia do Folclore. Nossos mitos também nasceram pra educar, assustar e ensinar respeito. A bruxa americana, por exemplo, é a nossa benzedeira. Tá tudo ali", completa.

Professor de Design Maurício Portela
Professor de Design Maurício Portela | Foto: Arquivo Pessoal

Tudo em casa

O professor também passou a visão de como montar fantasias criativas e em conta. Segundo ele, materiais como EVA, tule, filó e tecidos recicláveis são ótimos pontos de partida. O segredo é explorar o que existe nos mercados populares, como Avenida Sete e Carlos Gomes, e deixar a imaginação fluir.

"É como o Carnaval. Não tem receita pronta. Vai com o que você pode pagar e transforma. Usa o que tiver: uma saia de tule, um pedaço de EVA, uma blusa velha. O importante é se divertir e criar algo seu", recomenda.

Makes macabras

Depois da fantasia pronta, é a vez da maquiagem. E para a surpresa de muitos, a maquiadora e blogueira Janaína Abdon explica que os caras estão chegando junto, até mais do que as mulheres.

"Meu público de procura de Halloween hoje em dia tem sido mais masculino do que feminino até o momento. Os caras estão entrando mesmo no clima. Muitos não têm noção de por onde começar, aí me ligam. Normalmente as mulheres já se viram melhor com maquiagem, elas mesmas dão um jeito", explica.

A profissional da maquiagem ensina que o segredo pra uma 'make' de impacto está na profundidade e no contorno, usando produtos simples. "Uma sombra líquida custa R$ 30 e já faz milagre. Marrom frio, cinza e preto são curingas. Dá pra fazer caveira, vampiro, zumbi, tudo em casa".

E quem quiser economizar, pode aprender por conta própria, tudo fácil e rápido. "Hoje você compra sangue falso por R$ 20 e acha tutorial no YouTube ensinando passo a passo. É só ter paciência e criatividade", acrescenta.

Janaína Abdon, maquiadora e blogueira
Janaína Abdon, maquiadora e blogueira | Foto: Shirley Stolze/ Ag A TARDE

Além disso, a maquiadora ainda conta que muita gente aproveita o período pra fazer uma grana extra. "Tem gente que aprende vendo tutorial e faz maquiagem em amigos, ganha um dinheirinho. O Halloween movimenta todo mundo, lojistas, maquiadores, até quem nunca trabalhou com isso".

De uma festa importada para uma celebração cada vez mais abrasileirada e popular, o Halloween em Salvador mostra que o medo também pode render bons negócios.

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