
As ruas de Cachoeira se encheram de fé, música e tradição nesta, sexta-feira (15), com mais um capítulo da bicentenária Festa de Nossa Senhora da Boa Morte. A celebração, que acontece desde 1820, recebeu a presença da primeira-dama do Brasil, Janja, e outras figuras importantes. A festa religiosa também recebeu o título de Promotora da Igualdade Racial pelo Governo Federal.
Leia Também:
A ministra da Cultura, Margareth Menezes, destacou a importância histórica e social da irmandade que conduz a festa. “A Festa da Boa Morte tem uma importância muito grande por tudo que já entregou à sociedade brasileira, resgatando a história e, em outros tempos, comprando a liberdade de pessoas escravizadas. É uma comunidade de mulheres defendendo a liberdade e os direitos humanos”, disse.
Antes do cortejo tradicional com 48 integrantes da Irmandade da Boa Morte, o Ministério da Cultura entregou o Prêmio à sambista Dona Dalva, figura histórica da cidade. Também foram anunciadas obras do PAC Cidades para a Casa de Samba de Dona Dalva e para o Terreiro Ilê Axé Icimimó. O terreiro recebeu ainda uma placa de tombamento do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Cachoeira formalizou adesão à Política Nacional para Povos de Terreiro e ao Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Sinapir), junto com outras 12 cidades baianas. A prefeita Eliana Gonzaga falou em nome dos municípios.
“É uma alegria representar os municípios da Bahia e assumir a responsabilidade de combater o racismo, não só em Cachoeira, mas em todo o país”, afirmou.
Na Igreja Matriz, autoridades participaram da missa solene. Janja e as ministras presentes foram homenageadas pela Irmandade por políticas de valorização cultural. Para o secretário estadual da Cultura, Bruno Monteiro, a festa é “patrimônio imaterial da Bahia desde 2010, construída a cada ano com diálogo e respeito às mulheres negras que, desde a escravização, lutam pela liberdade”.
Reconhecimento federal
A Irmandade da Boa Morte, formada exclusivamente por mulheres negras, recebeu do Governo Federal o título de Promotora da Igualdade Racial. Criada no século XVII em Salvador, a irmandade se transferiu para Cachoeira durante conflitos na capital baiana.
Segundo a provedora deste ano, Irmã Neci Santos Leite, a principal missão sempre foi garantir dignidade e liberdade aos mais vulneráveis. “Nossa busca foi sempre por dignidade e liberdade. Pessoas escravizadas não tinham direito a uma morte digna, eram enterradas de qualquer jeito. Nossos ancestrais lutaram para mudar isso”, contou.
Programação
A Festa da Boa Morte, que começou na quarta-feira (13), segue até domingo (17) com missas, procissões, sambas de roda, apresentações culturais e um espaço voltado ao empreendedorismo negro.