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Feira de Santana - 06/06/2023, 21:39 - Larissa Falcão

Estilista é agredida por amigo policial em Feira de Santana

A vítima relata que agressor é seu amigo há mais de 25 anos

Estilista é agredida em Feira de Santana
Estilista é agredida em Feira de Santana |  Foto: Ed Santos / Acorda Cidade

Uma estilista de 41 anos foi covardemente agredida por um policial militar enquanto discutia política. O caso aconteceu na madrugada do último domingo (4) em Feira de Santana, durante um momento de diversão entre amigos e conhecidos.

Eles debatiam sobre filosofia e cultura, e quando tocaram no assunto de política aconteceu uma discussão entre o grupo. Um policial militar que fazia parte do grupo de amigos a agrediu, por não concordar com a opinião política da estilista.

Flávia Sacramento, estilista especializada em moda afro, relatou como se deu o episódio. “Quando terminou o show, fomos para a área do bar, onde ficam as bebidas. E enquanto estávamos conversando, falando sobre filosofia, sempre quando eu falava alguma coisa, ele rebatia, minha voz não tinha que ser ouvida, quem tinha autoridade para falar era ele por ser um policial, e ele enfatizava isso o tempo todo. Sempre foi desse jeito. Para as pessoas entenderem, eu conheço essa pessoa há mais de 25 anos, inclusive ele seria o padrinho da minha filha. E a gente conversando, falando de filosofia, cultura, como ele sabe da minha posição política, começou a falar de política”, afirma.

Flávia conta que outra pessoa tentou mudar o rumo da conversa, mas não conseguiu. “Outra pessoa que estava comigo e me auxiliou, inclusive, até a delegacia, começou a falar para a gente parar, pois ‘para que falar de política?’. E ele querendo insistir no assunto de política, foi se exaltando mais ainda, começou a me ofender. Enquanto ele falava de política, para mim tudo bem, mas como ele viu que eu não dei importância e comecei a debochar dizendo que ‘ele estava todo certo’, ele começou a me ofender. Quem me conhece sabe que sou da paz e não tenho histórico de violência. Então eu disse a ele que o que faltava nele era estudo, ele então me deu um soco no olho direito e partiu meu supercílio”, completou.

Em depoimento, a estilista afirma que após o soco ela conseguiu levantar, mas que o policial continuou a agressão lhe dando uma rasteira e chutes. “Quando ele viu que eu levantei, ele me deu uma rasteira e ainda me deu um chute. Ele só não me machucou mais, porque o pessoal tomou a frente. Ele estava armado e ninguém o agrediu, justamente, porque puxou a arma. Eu achava que ele era amigo e estávamos conversando, então se vê que ele está totalmente despreparado para o cargo que está exercendo. Fui na Deam, prestei a queixa, peguei a requisição para o exame de corpo e delito, e serei ouvida por uma delegada”, diz Flávia.

A estilista acrescenta que foi procurada pela Casa Marielle Franco, que disponibilizou um grupo de advogadas para defendê-la e lutar por Justiça.

“Estamos aí em busca de Justiça. Também fui procurada pela Polícia Militar, para me apoiar e falar que a corporação não concorda com esse tipo de atitude, principalmente vinda de pessoas que estão ali para dar segurança. Com essa agressão, vou até o fim, para o que existir de Justiça, para que ele pare de fazer isso, não só com mulheres, mas homens também, porque tem vídeos dele praticando isso com outras pessoas”, finaliza.

Em nota, a 67ª Companhia Independente de Polícia Militar (CIPM) informou que irá apurar a conduta do policial, que permanecerá afastado das funções durante a investigação. Confira:

“Sobre as acusações de possíveis agressões da parte de um militar lotado na 67ª CIPM, contra a Srª Flavia Sacramento, que teriam ocorrido num evento festivo em um estabelecimento comercial na cidade de Feira de Santana na noite de domingo 04/06/2023, o comando da 67ª CIPM irá proceder com a apuração da conduta do policial durante a situação, ouvindo as partes envolvidas e suas testemunhas. O militar durante o período de apuração deste fato, que será uma ação prioritária, se encontrará afastado das atividades operacionais da Unidade.

Em tempo, prepostos da Operação Maria da Penha do CPRL, mesmo a situação não sendo tipificada como violência doméstica, manteve contato com a vítima afim de prestar o devido apoio e acolhimento.”

Por sua vez, a Ordem dos Advogados (OAB) de Feira de Santana, também se posicionou em nota:

“A OAB Subseção Feira de Santana, por intermédio das Comissões de Direitos Humanos, da Comissão em defesa dos direitos das Mulheres e das Advogadas e da Comissão de Igualdade Racial, vem, por meio dessa nota, demonstrar total repúdio ao episódio ocorrido no último domingo, 04/06, no qual a estilista Flávia Sacramento foi agredida pelo PM Fabrício Borges.

Segundo relato da vítima em suas redes sociais, a estilista foi agredida em um espaço de festas da cidade de Feira de Santana, após exprimir sua opinião política. Além de violência física, foram proferidas injúrias raciais.

Imediatamente, a vítima buscou auxílio da DEAM – Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher para registro de ocorrência e solicitação de abertura de procedimento investigatório da conduta.

As mulheres, principalmente as mulheres negras, são as principais vítimas de violências na sociedade. Os dados de pesquisa do Datafolha encomendados elo Fórum Brasileiro de Segurança Pública revelam que 45% das mulheres negras afirmam que já sofreram alguma violência ou agressão ao longo da vida.

Essas mulheres, através da estrutura patriarcal, sofrem diariamente com tentativas de serem silenciadas, o que é evidenciado e agravado face ao racismo estrutural vivido no Brasil.

A violência contra as mulheres é inaceitável e deve ser veementemente combatida na nossa sociedade com ações enérgicas por parte das instituições e indivíduos, bem como deve haver um constante processo de formação e informação como ferramenta de combate a tal prática repulsiva.

Frente à veiculação dessa situação, a OAB, através das comissões supracitadas, encaminhará oficio à Policia Militar para que apure as condutas do agente, e tome as providências cabíveis e necessárias para apuração da conduta. Para além das medidas punitivas é importante que a corporação se comprometa com a formação dos seus integrantes no tocante ao combate à violência contra as mulheres e o combate ao racismo. As comissões se colocam à disposição para realizar tal formação em parceria com a Polícia Militar.

A OAB não compactua com a violência contra as mulheres, e sobretudo com os atos abruptamente violentos sofridos pela Flávia. Compromete-se, ainda, a dar todo suporte e acolhimento adequado que lhe é direito.”

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