
'O Passarinho que não cantava' é o título do novo livro da professora baiana Ediane Schettini, que traz rimas delicadas e uma história inspiradora. A obra convida à reflexão sobre a aceitação e o respeito às diferenças. O lançamento ocorrerá neste sábado (22), às 15h, na Livraria LDM do Shopping Bela Vista.
A narrativa acompanha a trajetória de Tito, um pássaro azul que, desde o nascimento, nunca soube se expressar. No ambiente escolar, Tito enfrentou isolamento, o que gerou preocupação nos pais, levando-os a buscar ajuda médica. Foi então que descobriram que seu filho é surdo.
Leia Também:
O livro aborda temas como aceitação, inclusão e empatia, destacando a importância de compreender e valorizar as particularidades de cada indivíduo.
E essa linda história foi baseada por meio da relação que a professora teve com a sua primeira aluna surda, Tatiana Queiroz. “Tati é uma pessoa muito especial, primeiro por conta da história de vida dela, e depois porque ela trouxe uma sensibilidade muito maior, ao que se esconde no silêncio, porque o silêncio também diz”, disse a escritora.

Com a relação de afeto se fortalecendo entre aluna e professora, Ediane promoveu uma palestra na escola onde ensina. Em setembro de 2019, mês dedicado à comunidade surda, ela começou as aulas em libras e logo os outros alunos ficaram espantados, e sem entender nada, mas tudo foi proposital, para que Tati se sentisse acolhida e essa atitude de Schettine causasse reflexão aos outros alunos.
“Ao começar a palestra em Libras, sem tradução para o Português, foi possível mostrar para eles como Tati se sentia diariamente. Ela me ensinou a ouvir os sons que ecoam no silêncio”, reflete a professora.
Infância humilde a amor pela literatura
Ediane vem de um município da Bahia, chamado Malhada de Pedras, na comunidade de Três Lagoas, e começou os seus contatos com a leitura desde muito nova. Aos oito anos, ela entrou na escola, e até os dez, praticamente, não tinha energia em casa.
Passou a infância brincando e ajudando aos pais nos afazeres, mas à noite, ouvia os “causos” dos pais. “Principalmente minha mãe, ela gostava muito de contar histórias pra gente, aquilo aguçava a minha imaginação, me fazia viajar”, relembrou a escritora.
À medida que o tempo passava, ela foi se aprofundando cada vez mais no mundo da literatura. Para incentivar a prática da leitura entre os alunos, ela criou o popular "Cantinho da Leitura", um espaço dedicado ao desenvolvimento desse hábito.
O professor Zé colocava todas as sextas livros para a turma, mas ela achava muito tempo até a troca do próximo e pediu que o intervalo de troca fosse mais curto para que assim ela conseguisse ler mais livros. Eles entraram em um acordo, e o professor cedeu os livros, em menos tempo, “Eu vou trocar só pra você, mas não conte a ninguém” teria dito seu Zé.

Virar professora não era o que Ediane planejava, mas na infância, brincava escolinha com os irmãos. “Eu pegava o giz que os professores descartavam e levava pra casa, e num pilar acinzentado, onde ficava o filtro de barro, eu fingia ser professora dos meus irmãos”.
Mesmo depois de concluir o ensino médio, esteve incerta do que iria seguir, até fazer o cursinho pré-vestibular da Universidade do Estado da Bahia, e no mesmo ano ingressar para o curso de letras, quando no primeiro semestre que se encantou, e teve certeza que era aquilo que queria para ela.
*Sob supervisão do editor Jefferson Domingos