
A migração da capital baiana para a Região Metropolitana de Salvador (RMS) vem acontecendo com cada vez mais frequência. Segundo o último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2022 Salvador perdeu 257.958 residentes. Enquanto isso, municípios vizinhos registraram crescimento populacional. Lauro de Freitas, por exemplo, ganhou 39.882 novos moradores.
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Esse movimento se deve a inúmeros fatores, mas um dos principais é a busca por novas oportunidades de emprego, impulsionada pelo Polo Petroquímico de Camaçari, por exemplo. Esse é o caso de Lucas Rangel, de 29 anos, que deixou o bairro da Massaranduba, em Salvador, para morar mais próximo do trabalho.
“Eu gosto muito de Salvador, mas estava inviável permanecer lá, tendo que ir todo dia de manhã para Camaçari. Além do valor de transporte, minha vida era só para o trabalho, já que todo dia tinha que sair 5 da manhã”, contou o técnico de produção.
Apesar da mudança, Lucas revelou sentir falta da mãe, com quem tinha uma convivência mais próxima quando vivia na capital.
“O único fato triste é não estar com minha coroa. Antes, eu morava na mesma rua que ela, agora a gente se vê uma vez no mês. Mas são os desafios da vida de quem trabalha”, explicou.

De acordo com o Censo, Camaçari foi o município que mais recebeu moradores em números absolutos, passando de 242.970 para 300.372 habitantes. Um crescimento de 23%. Já proporcionalmente, Lauro de Freitas lidera, indo de 163.449 para 203.331 moradores, um aumento de 24,4%.
Cuidado com o crescimento desordenado
Embora os municípios se beneficiem economicamente com a chegada de novos moradores, muitas cidades sofrem com problemas de infraestrutura, por não estarem preparadas para receber tanta gente em pouco tempo. Essa é uma das queixas de Willians Aquino, morador de Lauro de Freitas.
“Rapaz, a cidade em si, é boa, principalmente pela praia, mas aqui na minha rua mesmo tá tudo esburacado. Quando chove, fica impossível de sair, e pra fechar, ônibus só passa quando quer”, reclamou.
Além disso, o trânsito é um desafio constante. Em Lauro de Freitas, por exemplo, só existe uma via para a capital, o que gera congestionamentos e torna o horário de pico extremamente cansativo.
É o que explica a Supervisora de Disseminação de Informações do IBGE, Mariana Viveiros. Ela enfatiza a importância das gestões municipais em atender as demandas que esse aumento populacional traz.
“Demandas de infraestrutura urbana, de infraestrutura de habitação e saneamento, de transporte e mobilidade urbana, de segurança pública, são demandas que chegam numa intensidade grande, em um espaço de tempo que pode, às vezes, ser relativamente curto para realizar os investimentos que são necessários para atender essa demanda”, enfatizou.
Mariana também lembrou que, em alguns casos, as pessoas podem morar na RMS, mas também usufruir de serviços em Salvador, como é o caso de quem vive em Lauro de Freitas.
“É claro que há uma conurbação entre Salvador e outras cidades da Região Metropolitana, principalmente Lauro de Freitas, em que as pessoas podem morar na cidade de Lauro de Freitas e usufruir das redes de serviço, educação e do próprio trabalho em Salvador e vice-versa. Então, essa pressão às vezes pode ser um pouco mais difusa, mas ela também existe”, explicou.

Na contramão
Por outro lado, alguns municípios da RMS perderam população nos últimos anos. É o caso de Simões Filho, que registrou queda de 10.776 moradores, e Candeias, com redução de 3.488 habitantes.
Rafael dos Anjos, ex-morador de Simões Filho, relatou que deixou a cidade por conta da violência. Vale destacar que, nos últimos três anos, o município com cerca de 110 mil habitantes registrou uma média de 146,4 homicídios por 100 mil moradores.
“Eu sempre gostei muito da minha cidade, até porque sou nascido e criado lá. Porém, nos últimos anos vi três amigos meus morrerem por conta do tráfico e decidi vir morar aqui em Villas (Lauro de Freitas)”, contou Rafael, que hoje mantém uma loja de cosméticos no município.