Com a abertura da licitação para a compra de um novo ferry-boat para ser usado na travessia entre Salvador e a Ilha de Itaparica, três empresas apresentaram propostas com possíveis embarcações para circulação na Baía de Todos-os-Santos. Dentre elas, uma acabou desistindo de participar do processo e outra encaminhou opções de equipamentos que não se encaixam nos padrões definidos no Edital.
Presidente da Associação Baiana dos Deficientes Físicos (ABADEF), Silvanete Brandão opinou sobre a situação atual dos ferries e a possibilidade das novas embarcações fora do padrão serem adquiridas para o sistema.
"Os atuais ferries não têm acessibilidade, nenhuma, zero. Quem usa cadeira de rodas vai junto com os carros, não tem banheiros adaptados, nem nada. Em relação aos atendimentos, é um desrespeito com as pessoas com deficiência, a ABADEF já fez reuniões com a Internacional Travessias para poder capacitar o atendimento, a gente explica que existe o passe, a carteirinha, e ainda assim, todo mês, feriados, existem reclamações absurdas”, disse Silvanete.
“Para novos ferries, eu imagino que eles tenham conhecimento da lei brasileira de inclusão, que completou nove anos esse ano, e que traz todo arcabouço que protege a pessoa com deficiência. Se uma empresa não tem conhecimento e coloca novos ferries sem acessibilidade, vai ficar muito complicado. É um desrespeito contra a legislação e contra a pessoa com deficiência. Somos cerca de 5 mil pessoas cadastradas na associação em Salvador. É um descaso, temos que clamar para que esse transporte que estão trazendo venha com o mínimo de acessibilidade para que a gente possa ter um transporte digno”, pontuou Silvanete Brandão.
Empresas na disputa
Conforme apuração do Grupo A TARDE, apesar da licitação apontar a necessidade de apenas um ferry-boat, a empresa portuguesa Happy Frontier propõe a venda para o governo da Bahia de duas embarcações em conjunto: a Theologos V II, com capacidade máxima para 450 pessoas; e a Panagiotis D, que pode receber até 451 passageiros.
Mesmo que somados, os dois barcos ofertados pela companhia lusitana possuem espaço para 901 usuários, bem abaixo dos 1.200 estabelecidos como mínimo pela Secretaria Estadual de Infraestrutura (Seinfra-BA) no termo de referência da licitação.
“Eles deram uma de ‘João-sem-braço’ e foram arrumar um certificado. Do jeito que o arquiteto naval grego fez, ele não mostra direito como é o jeito que ele calcula. Ele chuta um valor lá de metragem quadrada e diz que dá tantas pessoas. Isso é suspeito à beça. Depois, os baianos é que vão sofrer com isso, de terem que ir em embarcações muito apertadas”, relatou, sob condição de sigilo, um interlocutor ao Grupo A TARDE.
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A ideia, por parte da Happy Frontier, de substituir uma embarcação com capacidade para 1.200 pessoas por dois barcos menores, já havia sido sinalizada pela coluna O Carrasco, no último dia 1º de abril.
Ainda de acordo com a fonte, tanto a Theologos VII quanto a Panagiotis D são embarcações pequenas, que não oferecem as devidas condições de acessibilidade para pessoas com deficiência (PCDs).
“Só se a pessoa puder entrar empurrando [a cadeira de rodas] dentro da área da garagem. Então teria que colocar as pessoas cadeirantes na garagem, junto com os carros”, lamentou o interlocutor.
A Happy Frontier foi a empresa responsável, em 2014, pela venda dos ferry-boats "Dorival Caymmi" e "Zumbi dos Palmares", que hoje fazem a travessia Salvador-Itaparica nas águas da Baía de Todos-os-Santos.
As companhias
Inicialmente, além da Happy Frontier, também fizeram propostas as companhias “Brazilship” e “Anarres Shipping”. No entanto, a primeira acabou desistindo de concorrer. A segunda havia apresentado cinco opções, das quais sobraram três, todas como opções independentes.
A Anarres Shipping, por meio de nota, falou sobre a acessibilidade das suas embarcações ainda no pleito licitatório. De acordo com a empresa, um dos ferry-boats já possui os equipamentos necessários para atender a PCD, enquanto os outros dois podem passar por adaptações.
“O menor dos nossos já tem elevadores para essas pessoas com deficiência. Os outros dois, a gente se comprometeu, se ganhar a concorrência, a instalar esses elevadores. É uma coisa bastante fácil para a gente fazer”, diz trecho da nota.
A reportagem também entrou em contato com a Happy Frontier, através de e-mail, mas não obteve resposta até o momento da publicação. A Brazilship também foi procurada pelo Grupo A TARDE, mas não atendeu aos telefonemas.