
Em celebração ao Dia Internacional da Dança, comemorado em 29 de abril, cerca de 80 idosos do Lar Amor e Vida, localizado no bairro Acupe de Brotas, em Salvador, participaram, na tarde desta terça-feira (29), do projeto “Ecoando Amor através da Dança”. A ação, promovida pela Ecoar Escola de Dança, trouxe um aulão de forró conduzido pelo professor Denilson Tavares e contou ainda com a presença do sanfoneiro Manuca, que animou os participantes com clássicos do gênero nordestino.
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A iniciativa, inédita na instituição, marcou a primeira ação social da escola de dança em um lar de idosos e teve como objetivo levar alegria, movimentar os corpos e resgatar memórias afetivas dos participantes. "Pensamos em sair da sala de aula e levar nossa dança para além das paredes. Escolhemos o Lar Amor e Vida porque acreditamos no poder da dança como instrumento de acolhimento e resgate da autoestima”, explicou Denilson.

Segundo o professor, a dança, especialmente para o público da terceira idade, é uma forma eficaz de trabalhar a coordenação motora e a saúde mental. “Com o envelhecimento, a gente perde habilidades como o equilíbrio e a coordenação. A dança estimula esses aspectos, melhora a disposição e ainda promove integração social”, afirma o professor, que já planeja expandir o projeto para outras instituições.
O Lar Amor e Vida é uma organização que acolhe idosos e crianças em situação de vulnerabilidade social. Criado na década de 1990 com foco no acolhimento de crianças em situação de rua, o abrigo passou a acolher idosos há cerca de 15 anos, diante do aumento significativo de casos de abandono na terceira idade.

O gestor social da instituição, Paulo Brito, ressalta que, apesar da escassez de recursos, a maior necessidade dos residentes é de afeto e presença. “A nossa principal carência é de companhia. Mais do que alimentos ou produtos de higiene, nossos idosos precisam ser vistos, ouvidos, valorizados. Um projeto como esse diz a eles: ‘eu me importo com você’”, destaca.
Durante a ação, o ambiente foi tomado por risos, lembranças e nostalgia. A idosa Bernadete Rodrigues, de 100 anos, relembrou com emoção os bailes que frequentava em São Paulo. “Era no tempo do rádio e do Galer. Eu dançava toda semana. Hoje não deu pra dançar, mas só de ouvir a música já valeu”, contou sorridente.
Já Dona Eloisa Francisco Ramos, de 77 anos, não perdeu a oportunidade de dançar. “Eu ia pras festas só pra dançar. Hoje eu já dei uma dançadinha. Foi bom demais! Tinha que ter mais vezes aqui”, disse, animada.
Paulo Brito aproveitou o momento para fazer um apelo à sociedade: “Precisamos repensar a forma como tratamos nossos idosos. Eles que tanto fizeram por nós são agora os mais esquecidos. Não temos hospitais específicos, nem políticas suficientes para atender a essa população que só cresce. O mínimo que podemos fazer é garantir dignidade, amor e respeito.”

A ação, além de proporcionar um momento de lazer e saúde, reacendeu a chama da alegria em muitos que já haviam se acostumado com o silêncio da rotina e com a ausência de familiares, durante a Semana Santa, apenas seis dos 80 idosos foram visitados por parentes.
O projeto mostrou que pequenas atitudes têm o poder de transformar vidas. E que dançar, mesmo que com passos curtos e corpos mais lentos, pode ser um gesto de resistência, afeto e humanidade.