A Igreja do Senhor do Bonfim, em Salvador, protagonizou um gesto inédito de respeito e amor ao próximo. Uma mulher trans de 45 anos foi convidada para participar do "Lava-pés", ato simbólico inspirado em Jesus. Ela teve seus pés lavados e beijados pelo Padre Edson Menezes, reitor do templo religioso.
Em uma entrevista ao Portal MASSA!, a empreendedora Brenda Souza, natural do Amapá e moradora de Salvador, falou sobre a experiência de fé e amor. De início, ela expressou seus sentimentos como mulher trans ao participar de um ritual tão simbólico na celebração da Páscoa.
"Sem dúvida, é um fato muito importante, pois estamos em lugares nunca imaginados, principalmente dentro da religião católica. Naquele momento, nessa celebração, é muito forte e importante porque dá visibilidade às lutas da população trans e mostra que é possível estarmos em todos os lugares", declarou Brenda, que professa a fé católica.
Em seguida, a empreendedora falou sobre a importância do acolhimento e como sua participação no ato do lava-pés pode impactar a comunidade religiosa em relação à aceitação das pessoas trans dentro da igreja.
"Esse acolhimento é importante porque mostramos que existimos e podemos estar em qualquer ambiente. Sensibilizamos a comunidade católica sobre a importância do respeito e do amor. Estar numa cerimônia religiosa como essa fortalece e abre caminho para que as pessoas também abram seus corações para receber de braços abertos um ato como esse, não apenas naquele momento, mas no dia a dia", afirmou.
Quanto às expectativas em relação ao futuro da inclusão e aceitação de pessoas trans dentro das instituições religiosas, especialmente durante celebrações como a Páscoa, Brenda revelou o desejo de encontrar um ambiente acolhedor e seguro nos templos religiosos.
"Eu desejo que sejamos tratadas como pessoas, tenhamos o direito de ir e vir, decidir qual religião queremos seguir e chegar nesses espaços sem sermos violentadas. Minha expectativa é a melhor possível, que a partir de hoje possamos falar sobre nós nesses espaços, encontrar aliados para nossas lutas, um ombro amigo, uma palavra de conforto, e também ser parte dessa construção dentro das religiões. Afinal de contas, somos todos humanos e não podemos perder a esperança de que as coisas podem melhorar", concluiu.
Por fim, ela enfatizou que se sentiu acolhida pelos fiéis na Igreja do Bonfim durante o ato do lava-pés e contou qual foi a reação da comunidade LGBTQIAPN+ ao tomar conhecimento sobre o fato.
"Me senti muito acolhida, desde o primeiro momento da chegada até a cerimônia do lava-pés, e até mesmo pela igreja, que me aplaudiu e vibrou com aquele momento emocionante. A comunidade LGBTQIA+ está falando sobre a importância de estar naquele espaço combatendo o preconceito dessa forma. A comunidade vibra quando conquistamos algo", finalizou.