
O sabor do amor que vem tomando conta das redes sociais pode ter ido longe demais para quem acompanha a viralização do doce. No Acarajé da Ana, que também é hamburgueria, o "acarajé do amor" provocou um misto de sensações em quem viu a imagem do alimento envolto numa massa doce branca e cobertura de caramelo vermelho passando pelo feed do Instagram.
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Inspirado pelo morango do amor — que alguns afirmam, inclusive, ter forte inspiração na bala baiana —, o bolinho de feijão feito no Acarajé da Ana, em Aracaju, capital de Sergipe, não é a única criação inusitada do estabelecimento, que já surgiu com acarajé burguer, acarajé de sushi, pizza de acarajé, e ainda uma opção recheada com morango e Nutella (creme de avelã).

O acarajé, herança resistente dos povos africanos escravizados, além de estar presente em quase toda esquina de Salvador, também é reconhecido, desde 2005, como Patrimônio Cultural do Brasil, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e, desde 2012, pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC).
Ofício sagrado das baianas
O alimento, sagrado para os adeptos do candomblé, é também parte importante da cultura baiana e brasileira. Para quem entende do assunto, a tradição do acarajé é inegociável. É o que afirma a Associação das Baianas de Acarajé (ABAM), em resposta ao Grupo A TARDE.
“Associação de Baianas de Acarajé - ABAM, não aprova e não aceita qualquer tipo de alteração em nossa receita e modo de preparo dos nossos produtos, somos empreendedoras ancestrais e focadas na tradição deixada por nossos antepassados, sem surfar nas influências contemporâneas sem propósito”, enfatizou a associação, por meio de nota.
O ofício das baianas de acarajé é resguardado, desde 2015, por um Conselho Gestor, que estabelece que a receita sagrada das iguarias de tabuleiro não podem ser alteradas. “Vatapá, camarão, pimenta, salada e caruru, sem nenhum outro ingrediente da moda”, ressalta a associação das baianas.
O que dizem sobre a iguaria
Na publicação, alguns internautas criticaram a descaracterização do alimento. “Acarajé é comida sagrada de orixá e já deu processo em Salvador por essas apropriações indevidas da cultura, viu? Só dando a dica. Quem não é da religião não deveria se meter a vender, ainda mais desrespeitando a cultura alheia”, pontuou um dos comentários. “Acarajé é patrimônio imaterial do Brasil. Há quem ache isso engraçado, mas não é mesmo”, ressalta outro.

Por outro lado, alguns internautas apoiaram a criação inusitada. “Eu tô louca para provar, espero que ainda tenha em outubro quando eu for para Aracaju”, diz um comentário.
“A acarajé não é de ninguém. É apenas um marketing! Pior de tudo é ver comentários de ódio e xingamentos sem necessidade, para alguém que levanta todos os dias pra tenta ganhar seu dinheirinho”, defende outro comentário, em crítica a quem defendeu o lugar de patrimônio do acarajé.