
A pandemia de covid-19 mudou os rumos do comércio em todo o mundo e em Salvador não foi diferente. Quem ganha a vida vendendo produtos nas ruas da capital baiana tem reclamado da queda nas vendas após a ação do vírus que ceifou vidas e remodelou a forma de se comprar e vender. Afinal, a situação vivenciada há 5 anos 'matou' o comércio de rua?
A reportagem do Massa! foi ao Centro de Salvador para perguntar aos ambulantes o tamanho do impacto que o isolamento social causou no comércio soteropolitano, cinco anos após o início da epidemia.
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Segundo o IBGE, durante o isolamento social realizado no auge da pandemia, como tentativa de combate à transmissão desenfreada da doença, o número de empresas que começaram a vender seus produtos pela internet aumentou 79,2%. E os números não diminuíram quando o fim da pandemia foi anunciado. Em 2024, o aumento, em comparação a 2023, foi de 13,9% no número de empresas migrando para o chamado e-commerce.
Mas, para os ambulantes da região do Camelódromo do Relógio de São Pedro, existem outros fatores que afastam o consumidor do Centro da cidade. “Além disso, a violência tá demais aqui na Avenida Sete, um índice muito grande de assaltos, as pessoas têm medo de vir pra rua. E as pessoas preferem comprar no ‘virtual’ do que vir comprar na rua”, disse a vendedora ambulante Patrícia Bento, que comercializa roupas infantis na Avenida Sete de Setembro.

Esse afastamento do consumidor que era acostumado a adquirir produtos nas ruas não foi exclusivo da capital baiana. Edval Landulfo, economista e vice-presidente do Conselho Regional de Economia, conta que um dos efeitos da covid-19 foi a onda de demissões e a escassez de vagas de trabalho, que resultaram em diversos novos microempreendimentos. Conhecidos como "empreendedores por necessidade", essas pessoas foram afastadas do mercado de trabalho, o que as forçou a buscar novas fontes de renda.
“As empresas que fecharam impulsionaram esses colaboradores a abrirem um negócio por necessidade, por não ter um posto de trabalho”, nos contou o educador financeiro em entrevista.

A crise econômica causada pela pandemia levou ao fechamento de grandes lojas do Centro de Salvador. Esse movimento criou o segundo fator que enfraqueceu o comércio de rua da região: as lojas de bairro. Um ponto citado por todos os vendedores do Centro é a evolução do comércio de bairro em diversas regiões da cidade, o que torna menos necessário o deslocamento do consumidor.
Heitor Artes, vendedor de artesanato no Relógio de São Pedro há 30 anos, diz que nunca passou por uma fase tão difícil nas vendas. “Nos bairros, agora, todos têm lojas também, e aí no Centro realmente o comércio caiu bastante. A gente tá sentindo aqui a pancada”, lamentou.
Para obter dados mais coesos sobre essa “pancada” descrita por Heitor, buscamos a Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI). Porém, a SEI informou não possuir dados sobre os ambulantes e explicou que a atividade do varejo apresentou alta nos últimos anos.
“A SEI não tem informações estatísticas sobre micro e pequenos empresários. Mas, com relação aos efeitos da pandemia sobre as atividades econômicas no último ano, acredita-se que não há mais nenhum impacto, uma vez que as atividades econômicas atualmente refletem os efeitos dos elevados níveis de preços (inflação) e das elevadas taxas de juros”, explicou Carla Janira Nascimento, economista da SEI.

Adélia Oliveira, vendedora de bolsas no Centro, há mais de 20 anos, reforça que o número de clientes nunca esteve tão baixo. “O movimento caiu, caiu bastante, e cada dia que passa eles (os clientes) não voltam”.
Edval Landulfo acrescenta que é mais difícil para as microempresas vendedores informais se recuperarem de impactos econômicos devido à dificuldade de gestão financeira e ao pouco capital: “Quando vem algum tipo de crise, se toma um baque e, pra se recuperar, é difícil”.
*Sob supervisão do editor Jacson Brasil